Alexandre Padilha (círculo) e a reunião de Lula (em pé) com governadores

Ao atacar Padilha, Lira quer impedir Lula de governar em maior harmonia com o Congresso

Lira ataca Padilha, mas seu alvo não declarado é Lula

Tornou-se tedioso, de tão repetitivo, o relato de que o governo vive uma crise em sua articulação política. Há interesses criando essa narrativa.

Uma tal versão, a de crise permanente, tem dois alvos.

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O primeiro alvo é o governo Lula, a quem os opositores de diversos matizes interessa manter acuado, em clima de crise e sob cerco, ameaçado por uma debacle tão iminente quanto eterna. 

O segundo alvo, que nenhum envolvido busca disfarçar, é o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, incumbido do relacionamento do governo com a sua base nas duas casas do Congresso. Não é à toa que Padilha mereceu de Arthur Lira os qualificativos de "desafeto" e "incompetente". 

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Padilha realiza uma política cujo artífice é Lula. Lira ataca Padilha, mas seu alvo não declarado é Lula, que está desmontando, pela ação de Padilha, o esquema corrupto pelo qual o presidente da Câmara manipula o poder naquela Casa e pelo qual pretende dominar também o governo como um todo.

Cabe a Padilha, por ordem de Lula, cimentar a presença dos partidos da base parlamentar de apoio na estrutura administrativa do governo federal. São acordos de parte a parte que incluem promessas e compromissos razoavelmente estáveis com base em fidelidades mútuas. 

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Essa construção de Lula e Padilha caminha bem. Isso incomoda vários personagens e instâncias  que dependem, para maximizar seus lucros, da imagem de um governo fraco e em crise permanente.

O mais saliente desses interessados é o presidente da Câmara, Arthur Lira, o grande beneficiário do orçamento secreto por ele manejado nos tempos do governo de Jair Bolsonaro. A mamata das chamadas emendas de relator acabou, coincidindo com a chegada de Lula ao Planalto.

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O outro interessado no espargimento da sensação de crise permanente é a mídia hegemônica, de índole sempre ávida em difundir um clima de que o Executivo está assolado por vulnerabilidades insanáveis que ameaçam soterrar a gestão e comprometer a governabilidade.

Existem tensões obviamente decorrentes da queda de braço entre a velha extorsão realizada por Lira junto aos parlamentares e ao Executivo. Agora, este governo não aceita um  atravessador em seu relacionamento com os partidos do Congresso. Não terceiriza para Lira como se ele fosse o dono da liberação das emendas valorizadas pelos parlamentares. O próprio governo chama a si, a Padilha, a gestão dessas liberações. O mesmo acontece com as áreas e cargos no Poder Executivo. 

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Também por isso, ao contrário do que alguns querem fazer crer, o presidente Lula está longe de ter seu governo ameaçado de alguma forma mais grave.

Ao contrário, a sua base  parlamentar cresce. E o melhor é que ela se consolida em bases mais republicanas. O Planalto negocia diretamente com os partidos, instituições basilares de qualquer democracia. Com isso, o governo procura passar ao largo da centralização monopolizada por Lira numa prática de cabresto típica do coronelismo mais atrasado. 

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Lira reage açulando seus aliados, inclusive na mídia monopolista. No governo, ameaças da mídia hegemônica,  a serviço de Lira, buscam paralisar ministérios e fritar gestores preparados, como é o caso da própria ministra Nísia Trindade, da Saúde. Passou da hora de dar um basta nessa tentativa de usar sequestrar áreas cruciais, como o atendimento de saúde à população, com fins políticos pessoais.

A verdade é que o governo chama a si o que lhe cabe: a distribuição e a liberação das emendas parlamentares, a negociação da presença dos partidos no Executivo e a conformação da base parlamentar governista. A bancada na Câmara, que no início deste mandato contava com pouco mais de cem deputados, alcança hoje mais de 300, como sugere a recente votação de recriação do DPVAT, pondo em perspectiva a criação de uma relação mais saudável entre o governo e o Parlamento.

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