Preservar a política pública

Como parece inevitável a aprovação do Orçamento impositivo, 50% do valor das emendas parlamentares deveria ser destinado à saúde



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

O papel do congressista não é sugerir locais para a realização de obras, ou receber pedidos de prefeitos para a realização de obras, ou indicar recursos para serem gastos com a realização de obras.

A possibilidade de destinar recursos da União por meio da emenda parlamentar distorce o papel primordial do congressista: fiscalizar o Executivo e defender a população.

As emendas são, porém, um fato consumado. Nesse sentido, adotar um Orçamento puramente impositivo seria um verdadeiro disparate.

continua após o anúncio

O instrumento, segundo seus defensores, acabaria com distorções na relação do governo com sua base de apoio no Congresso Nacional.

Mas, na verdade, a relação entre o Executivo e o Legislativo não deve condicionar votações ao atendimento de emendas parlamentares.

continua após o anúncio

Embora grande parte dos congressistas atue com correção, quem não se lembra dos anões do Orçamento? Da chamada máfia dos sanguessugas, das ambulâncias? Quantos escândalos não estiveram vinculados a emendas parlamentares?

Tornar obrigatório o atendimento das emendas parlamentares, sem sujeição ao planejamento, significa dificultar a gestão do Orçamento, reduzir a margem de liberdade que o governo federal tem para executar sua política econômica.

continua após o anúncio

Os contingenciamentos, muitas vezes necessários ao equilíbrio das contas públicas, são uma maneira de lidar com a conjuntura.

A emenda parlamentar desorganiza e, se for impositiva, implicará a desestruturação do trabalho dos ministérios com a elaboração das políticas públicas. Acaba o planejamento e a gestão de longo prazo.

continua após o anúncio

Quando ocupava o cargo de ministro da Saúde, enfrentei essa dificuldade. A pasta definia, a partir das discussões que começavam numa região, o que era fundamental. Por exemplo: reforçar as unidades básicas de saúde. As emendas parlamentares, quando destinavam recursos para aquela área geográfica, previam outros usos para o recurso, em geral a distribuição de ambulâncias ou a aquisição de equipamentos que muitas vezes não tinham a ver com a demanda da população. A ação do governo acabava ficando comprometida.

O caráter impositivo, descomprometido com o planejamento, agrava esse problema ao reforçar o aspecto eleitoreiro das emendas.

continua após o anúncio

A Câmara dos Deputados aprovou, em 13 de agosto, com 378 votos, a PEC 565/2006, matéria que ainda será avaliada no Senado.

Esse resultado, com 70 votos favoráveis além dos necessários, poderá fazer com que o Poder Executivo seja obrigado a reservar 1% da receita corrente líquida para o atendimento das emendas parlamentares.

continua após o anúncio

Hoje, isso representaria R$ 6,8 bilhões a serem destinados a áreas que o governo federal definir previamente como obrigatórias. Com base na receita corrente líquida de 2012, cada congressista poderia indicar a destinação obrigatória de R$ 10,4 milhões em emendas.

Como parece inevitável a aprovação da proposta que torna as emendas parlamentares impositivas, o Congresso deverá adotar a elevada posição política de destinar 50% desse valor à área da saúde.

continua após o anúncio

É um absurdo que os congressistas estejamos lutando para incrementar a verba da saúde e, no entanto, com a aprovação do Orçamento impositivo, concordemos em comprometer, anualmente, "ad aeternum", 1% da receita corrente líquida da União para o atendimento a emendas parlamentares.

Com a virtual aprovação da obrigatoriedade, o Congresso deverá impor que as emendas financiem necessariamente a área da saúde, em sintonia com o Ministério da Saúde.

Se o importante é reforçar as unidades básicas de saúde, as unidades de pronto atendimento, o Samu, que os recursos sirvam para isso. Desse modo, será possível promover benefício para a população. A obrigatoriedade do atendimento às emendas parlamentares tem que estar casada com o planejamento.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247