A coca-cola do deserto virou grapette
Já dizia o slogan do grapette: quem bebe grapette, repete. As caçadoras de grapette sabem bem disso. E querem repetir; muitas delas até o altar
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Há momentos em minha vida que preciso abandonar o politicamente correto e me confessar publicamente: só uma coca, zero, salva. Sim, zero. Não sei mais beber coca normal, o que me torna mais junkie ainda.
E não há melhor imagem do que a de uma coca-cola, zero ou não, geladinha, daquela com pedacinhos de gelo que devem ser espremidos pra fora da latinha, esperando a gente no meio de um deserto.
A última coca-cola do deserto tem um caráter redentor. Ela se torna cobiçada e valorizada. Ela agrega valor a qualquer Saara.
Pois é, toda essa minha crença no poder quase messiânico de uma coca-cola no deserto caiu por terra quando um quase amigo virtual, desses cuja intimidade e afeição chegam via whatsapp, me disse, após ter sido devidamente zoado por mim (aparentemente ele se sente como a referida coca), que ele estava "mais para grapette do que coca".
Levei exatos cinco segundos para entendê-lo.
Até o quarto segundo eu estava tomada de emoção por ver tamanha modéstia (ah, porque ele é do tipo "super cool" com humor inteligente, estilo casual e tipo feições ítalo-masculinas-raras e ficaria bacana se ele não se achasse, né?), mas, na virada pro quinto segundo eu entendi tudo. Ele se acha e acha o grapette também. Ainda assim, perguntei burramente: por que grapette? Você tá decadente? Pra sua informação, amo tanto grapette que compro o garrafão de 2 litros sempre que o acho na prateleira do supermercado!
Tive que ouvir o que viria a mudar alguns de meus conceitos: Então, grapette é ótimo e difícil de achar. Você não encontra sempre... Quando encontra, é festa!
Ele não é modesto, é grapette. É também realista e eu explico.
Não é uma questão de arrogância, exibicionismo ou vaidade. Depois eu entendi. Há mulheres que têm um alvo idealizado e ele, como tantos outros, se sente parte desse alvo, seja lá o que isso queira dizer. Talvez seja menos pela sua inteligência mais ácida (que provavelmente nem todas pescariam) e muito mais pelo perfil de homem mainstream (no melhor sentido da palavra): sozinho, gente fina, bem sucedido, com estilo de vida saudável e disponível, mesmo que não esteja procurando sair do estado de disponibilidade.
Esse perfil de homem é objeto de desejo. Dizem. Homem-grapette. Desejado por ser de framboesa e por ser raro.
Já dizia o slogan do grapette: quem bebe grapette, repete.
As caçadoras de grapette sabem bem disso. E querem repetir; muitas delas até o altar. Resta saber se os homens-grapette, como o meu quase-cyber amigo, querem repetir as grapettetes. Talvez esse seja o momento em que se reconhece o incrivelsex appeal de uma coca-cola no deserto.
Ou até mesmo de uma água gelada no freezer, aquela gatona que vai ter sempre o seu valor.
Mesmo com tantos conceitos novos em minha vida, continuo desejando encontrar grapette no mercado, beber coca-cola em qualquer lugar, incluindo o deserto e, de vez em quando, tomar um chá ou um suco natural, só pra viver o prazer da contramão.
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