O Grande Irmão e a PEC 37
A proliferação de cartazes anti PEC 37, agenda da Globo, nas mãos dos nossos comportados e revoltados jovens, deixou-me com uma pulga atrás da orelha
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Os barões da mídia, todos o sabemos, tentaram convocar o povo às ruas, sem sucesso, para defender as suas causas. Movimento Cansei, Movimento Vassouras etc.
Agora pegaram carona no movimento que já estava nas ruas. Difuso, sem líderes, sem foco definido, mas com uma grande vontade de protestar e com uma indignação aceitável, logo foram assimilados pelo Grande Irmão que passou a fazê-los de títeres.
Primeiro foi a coisa do vandalismo. Dizem que há dois tipos de gente nas ruas, os manifestantes, que são os caras que cantam hino e se vestem de bandeira e, até mesmo os que espancam quem usa bandeiras vermelhas, e os vândalos.
Os vândalos não seriam manifestantes, mas uns caras que nasceram pra fazer arruaça e precisavam somente de um pretexto para quebrar palácios de governos e agências bancárias: símbolos do poder político e do poder econômico, diga-se de passagem.
Então o Grande Irmão, de helicóptero ou do alto de edifícios, passou a pregar para os que manifestam que aqueles que estão entre eles, tentando destruir o que os destrói, não os representa e não são manifestantes, ganharam outro status, são vândalos.
O diabo é que fora do Brasil esses mesmos cabras são manifestantes, veja o que diz a Folha: MANIFESTANTES ANTI G-20 QUEBRAM VIDROS DE BANCO EM LONDRES. A matéria diz que "os manifestantes se reuniram cedo nas proximidades do Banco da Inglaterra para expressar sua revolta contra os bancos e os banqueiros. Os jovens atiraram frutas e ovos contra os policiais".
Aqui os coxinhas gritam contra os corruptos, mas nem um piu contra os corruptores, e entregam flores aos policiais, veja você.
Na França, os vândalos também têm status de manifestantes para o Grande Irmão, veja o que diz a Globo: MANIFESTANTES QUEIMAM MAIS DE 300 CARROS EM PROTESTO NA FRANÇA.
A Europa, como é um continente de gente selvagem, permite que esses vândalos se infiltrem nas manifestações. Mas aqui no Brasil, não. Aqui, do alto de edifícios ou em helicópteros, o Grande Irmão faz questão de mostrar o gesto cívico e cínico dos nossos baderneiros comportados: sem vi o lên ciaaaaa.
A proliferação de cartazes anti PEC 37, agenda da Globo, nas mãos dos nossos comportados e revoltados jovens, deixou-me com uma pulga atrás da orelha.
Esses caras que estão nas ruas, a maioria muito bem intencionada, diga-se, eram, antes, o que chamávamos de uns zero à esquerda. Parece que agora se tornaram, e aí é que tá o perigo, uns zero à direita, servem para dar valor ao número um, ao Grande Irmão, como nos ensinou o maravilhoso Trilussa ao alertar aqueles que serviriam a Mussolini:
"Eu valho muito pouco, sou sincero, dizia o Um ao Zero. No entanto, quanto vales tu? Na prática és tão vazio e inconcludente quanto na matemática. Ao passo que eu, se me coloco à frente de cinco zeros bem iguais a ti, sabes acaso quanto fico ? Cem mil, meu caro, nem um tico a menos nem um tico a mais. Questão de números. Aliás, é aquilo que sucede com todo ditador que cresce em importância e valor quanto mais são os zeros a segui-lo". (A disputa entre o Um e o Zero, Trilussa).
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