Antes de ter limite, o humor deve ter graça

Se você faz humor opinativo, pessoal, o humor tem sim que ter limite



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Eu ainda não compreendi o porquê de as pessoas colocarem o humor acima de qualquer outro aspecto da vida, como se ele fosse uma entidade superior, intocada. Com relação aos limites do humor, a questão é bem mais complicada do que fazem parecer os “especialistas” em humor e em TV espalhados pelas redes sociais. Gritar por aí que humor não pode ter limites, por si só, é tão idiota quanto gritar por aí que humor tem que ter limite. Há de se fazer aqui uma distinção.

Enquanto dramaturgia o humor não deve ter limite. Nem o humor nem nenhum outro gênero. Na dramaturgia, as atitudes e falas dos personagens não refletem necessariamente a opinião do autor. Se um personagem estupra alguém, o autor não está incitando o estupro, está tão somente utilizando o estupro como ferramenta dramatúrgica, em nome da estória. O autor de Scarface não deve ser a favor do tráfico de drogas, assim como o autor de O Massacre da Serra Elétrica não deve ser um psicopata maluco. Se o humor está sendo exibido na forma de dramaturgia, não há de se falar em limites, uma vez que, como eu disse, a estória não necessariamente reflete a opinião do autor.

Mas tem o outro lado. Se você faz humor opinativo, pessoal, o humor tem sim que ter limite. Se você fala, por você mesmo, sem personagem, que mulheres feias deveriam agradecer aos estupradores e que comeria uma mulher grávida e o filho dela, você está, sim, dando sua opinião sobre estupro e violência. Não estou dizendo que o Rafinha Bastos seja um simpatizante dos estupradores, mas ele emitiu a opinião dele, mesmo que através de uma piada. Muito sem graça, mas ainda uma piada. Agora entramos em um ponto ainda mais polêmico. Leia polêmica entre aspas, por favor.

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Está na moda o humor “polêmico” e “politicamente incorreto”. Vejam bem, não tenho nada contra ser politicamente incorreto ou polêmico. Chico Anysio era politicamente incorreto e era um gênio, assim como Os Trapalhões, o Jô Soares, o TV Pirata etc. Mas qual a diferença entre estes citados acima e os humoristas politicamente incorretos de hoje em dia? A graça. Antigamente, os humoristas eram polêmicos mas eram engraçados. A polêmica era usada como ferramenta, não como bengala, como é feito hoje em dia. Hoje em dia a “polêmica” e o humor “politicamente incorreto” são usados para mascarar a falta de talento e de graça. E isso é alavancado por essa geração que acha que tudo que é incorreto e polêmico é engraçado, mesmo que não tenha graça. E aí formou-se o circo. O Rafinha Bastos e o Danilo Gentilli fazem piadas sem a menor graça, mas como são ofensivas e “polêmicas”, logo são abraçadas e adotadas pela geração “rebelde sem causa e com camiseta do Che da Ellus”. E essa geração os defende com unhas e dentes, e eles acham que, cada vez mais, devem ser “polêmicos”, em detrimento da graça. Tenho saudade da época em que o humor não se preocupada em ser politicamente incorreto, em ser polêmico ou ofensivo. Saudade da época em que o humor se preocupava tão somente em ser engraçado. Bons tempos em que a piada ofendia, mas fazia rir.

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