Sardenberg defende "pobre" analista do Santander

Comentarista da Globo afirma que analistas financeiros precisam dar "orientações específicas" a seus clientes; "O setor do banco tem que ser independente. Deve ser assim num mercado sério", afirma; Carlos Alberto Sardenberg complementa que "é evidente que a política tem a ver com a economia" e classifica como "ruim" a reação do governo em relação ao informe do banco espanhol sobre a presidente Dilma

Comentarista da Globo afirma que analistas financeiros precisam dar "orientações específicas" a seus clientes; "O setor do banco tem que ser independente. Deve ser assim num mercado sério", afirma; Carlos Alberto Sardenberg complementa que "é evidente que a política tem a ver com a economia" e classifica como "ruim" a reação do governo em relação ao informe do banco espanhol sobre a presidente Dilma
Comentarista da Globo afirma que analistas financeiros precisam dar "orientações específicas" a seus clientes; "O setor do banco tem que ser independente. Deve ser assim num mercado sério", afirma; Carlos Alberto Sardenberg complementa que "é evidente que a política tem a ver com a economia" e classifica como "ruim" a reação do governo em relação ao informe do banco espanhol sobre a presidente Dilma (Foto: Gisele Federicce)


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247 - Comentarista de economia da Rede Globo, Carlos Alberto Sardenberg saiu em defesa nesta quinta-feira 31 da "independência" do setor bancário ao comentar o caso Santander. Ele classificou como "ruim" a reação do governo diante do informe divulgado pela instituição espanhola alertando os clientes sobre o risco de a presidente Dilma Rousseff ser reeleita. "O setor do banco tem que ser independente. Deve ser assim num mercado sério", afirmou. Sardenberg acrescenta: "e é evidente que a política tem a ver com a economia". Leia abaixo:

O dinheiro e a informação 
Qualquer analista diria que um segundo mandato da presidente Dilma não seria bom para o investidor comum

Jornalistas, pelo menos aqui no sistema Globo, não podem recomendar investimentos financeiros. Jornalistas e comentaristas de economia não podem nem ter ações de qualquer empresa, pela ética e pela prática. O profissional pode ser isento, mas as aparências contam aqui. O público terá todo o direito de desconfiar do comentário, se souber que um comentarista está vendendo ou comprando ações de uma estatal.

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É a mesma coisa com os jornalistas de gastronomia. Não podem aceitar uma boca-livre e depois comentar sobre aquele restaurante.

Já houve muita fraude e muito comportamento errado entre jornalistas, aqui e lá fora. Como prevenir? Uma hipótese seria impor severa regulamentação legal para o trabalho dos jornalistas — uma péssima saída porque levaria fatalmente a uma severa restrição à liberdade de imprensa. O princípio maior é que a imprensa tem de ser livre. Se é boa ou não, isso depende da sociedade, do público que vai consumir ou não esta ou aquela publicação.

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Por isso, veículos sérios adotam códigos de ética. O controle interno é o melhor. Com o tempo, o público reconhece o caráter do veículo. Distingue entre o chapa-branca e o isento, entre o oportunista e o sério, entre o que quer fazer dinheiro a qualquer custo e o que quer fazer dinheiro com o jornalismo sério.

Sim, claro, o jornalismo sério se equivoca não raras vezes. Mas volta ao assunto, reconhece, refaz. Tinha que ter alguma vantagem isso de ter de produzir notícia todos os dias...

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Resumindo, jornalistas podem tratar de qualquer tema, podem dizer que uma empresa vai bem — e mostrar os dados — ou que um setor vai mal, mas não devem dizer "compre isto", "venda sua casa e aplique em juros", coisas assim.

É diferente a situação dos analistas de investimentos. O cliente de um banco precisa de orientações específicas.

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Analista de investimento é uma profissão. "Broker" também. Para montar um grupo de investidores e formar, por exemplo, um clube de ações, o sujeito precisa de licença e autorização da Comissão de Valores Mobiliários. Idem para recomendar aplicações.

A regulamentação, aqui e lá fora, também resulta de equívocos e malfeitos cometidos ao longo do tempo. O mais comum era — e pode ser — o banco indicar investimentos que serão ruins para o investidor e bons para o banco. Imagine que o banco, na sua Tesouraria, comprou ações da Petrobras e quer se livrar delas. Se sair por aí dizendo que os papéis da estatal vão subir e, para ajudar um pouco, colocar um "laranja" para comprar lotes desses papéis e forçar uma valorização inicial, trata-se de um grande roubo.

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Tem lei e regulamentação para tentar administrar o conflito de interesses que pode haver entre o cliente/investidor, o banco e o dono do banco.

Por isso, o setor do banco que se relaciona com os clientes, informando e sugerindo aplicações, tem que ser independente. Deve ser assim num mercado sério. O Brasil tem melhorado nesse aspecto, com regulamentações e prática. Uma delas é a ampla publicidade: analistas de investimentos vêm a público todos os dias com seus relatórios. Recomendam compra ou venda de ações, indicam qual o preço alvo. Os relatórios vão para os clientes e frequentemente são distribuídos para a imprensa. Como fazem as consultorias nacionais ou estrangeiras.

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Ora, é evidente que a política tem a ver com a economia. As políticas do governo Dilma provocaram enorme desvalorização das ações da Petrobras, o caso mais forte. Questionada sobre isso, a presidente já argumentou que as estatais não trabalham para especuladores — e colocou assim no mesmo saco os grandes especuladores, os trabalhadores que colocaram seu FGTS na estatal e o investidor comum que simplesmente pensava em juntar algumas economias.

Tudo considerado, qualquer analista diria que um segundo mandato da presidente Dilma não seria bom para o investidor comum. Mesmo admitindo que a atual gestão da Petrobras pode trazer resultados a longo prazo, o fato é que, no momento, a companhia não coloca o lucro e o interesse do investidor minoritário como objetivo central.

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Foi o que disse o pobre ou a pobre analista do Santander. E é o que estão dizendo todos, repetindo, todos os demais analistas há muito tempo. Normal.

Ruim foi a reação do governo, escolhendo um alvo fácil para se declarar vítima de terrorismo, em vez de contestar os dados. Ameaçou assim a liberdade de informação.

Pior foi a reação da direção do banco, que pediu desculpas ao governo e demitiu o(a) analista. Disse que ele(a) fizera coisa errada. Quer dizer que o certo é comprar ações quando aumentarem as chances de Dilma? Os clientes do banco foram enganados nos últimos relatórios ou estão sendo enganados agora?

E o dono do banco, Dom Emilio Botin, defendeu o seu negócio. O governo é regulador e muito bom cliente. Uma ordem, e governos, prefeituras e entidades públicas podem fechar contas com o Santander. Resumo: prevaleceram o ataque à liberdade de informação e de fazer negócios; e o interesse do banqueiro.

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