Violência bolsonarista em série começa a chocar o país inteiro

A jornalista e cineasta Paula Sacchetta, diretora do filme 'Precisamos falar de assédio', faz um desabafo emocionante em sua página do Facebook acerca do volume inédito de violência política que tem atravessado a sociedade brasileira; ela diz: "o mestre moa foi assassinado. Uma mina teve a barriga cortada no desenho de uma suástica. Uma amigona de um amigo foi perseguida na rua por um cara, ela usava uma saia que ela usa no tribunal, advogada, e ele dizia: 'quem você pensa que é sua putinha? ano que vem é bolsonaro e aí acabou. quem sair assim na rua vai ter o que merece'"

Violência bolsonarista em série começa a chocar o país inteiro
Violência bolsonarista em série começa a chocar o país inteiro (Foto: Mídia NINJA)


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247 - A jornalista e cineasta Paula Sacchetta, diretora do filme 'Precisamos falar do assédio', faz um desabafo emocionante em sua página do Facebook acerca do volume inédito de violência política que tem atravessado a sociedade brasileira. Ela diz: "o mestre moa foi assassinado. Uma mina teve a barriga cortada no desenho de uma suástica. Uma amigona de um amigo foi perseguida na rua por um cara, ela usava uma saia que ela usa no tribunal, advogada, e ele dizia: 'quem você pensa que é sua putinha? ano que vem é bolsonaro e aí acabou. quem sair assim na rua vai ter o que merece'". 

Leia a íntegra do post de Paula Sacchetta, publicado em seu Facebbok

"escrevo esse texto chorando. coisa que tenho feito bastante nos últimos dias. eu tento me concentrar, trabalhar, escrever, me manter firme, responder e-mail, me manter de pé, mas tá foda. tá muito foda. tenho me arrastado e tá difícil sair da cama.

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eu não sei como a gente conseguiu chegar nisso, não sei mesmo. eu não sei como conseguimos achar normal a violência e a destruição do outro, do que é diferente de nós. eu estou com medo, com muito medo. e vejo isso nos meus pares, nos meus amigos, nos meus afetos, nas pessoas que me cercam.

o mestre moa foi assassinado.
uma mina teve a barriga cortada no desenho de uma suástica.
uma amigona de um amigo foi perseguida na rua por um cara, ela usava uma saia que ela usa no tribunal, advogada, e ele dizia: "quem você pensa que é sua putinha? ano que vem é bolsonaro e aí acabou. quem sair assim na rua vai ter o que merece".
uma mulher trans foi atacada com uma barra de ferro por apoiadores do bolsonaro no rio.
uma jornalista foi agredida e ameaçada de estupro. ela foi abordada por dois homens. ao verem seu crachá de jornalista, afirmaram que ela era de esquerda e que "quando o comandante ganhasse, a imprensa toda ia morrer".
um estudante recém-formado foi agredido na ufpr por usar um boné do mst. os agressores gritavam "aqui é bolsonaro".

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eu tenho passado os dias com sono, sem energia, e as noites ansiosa, sem consegui dormir direito. hoje eu pedi uma sessão extra pra minha analista. fiquei na sala de espera contendo o choro e assim que deitei no divã, desabei em prantos. de novo. coisa que tenho feito bastante nos últimos dias.

o que mais me angustia nessa barbárie toda é: os lados só falam para si mesmos, é impossível conversar com um eleitor do bolsonaro e os memes, textões, fotinhos e explicações sobre porque #elenão que chegam a mim, chegam através de quem não vai votar nele nem nunca votaria e aí a gente fica falando entre a gente, pregando pra convertido, sendo flodado o dia inteiro nos 153 grupos de whatsapp que foram criados desde domingo com 354 mensagens por minuto pelos amigos que também estão desesperados, ansiosos e angustiados, mas eu pergunto de que isso adianta, além de nos desesperar mais.

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eu fiquei pensando porque eu tô me matando na edição da minha série de tv sobre sistema carcerário. como assim, nesse brasil aí que está por vir eu vou dizer que preso também é gente? meus dois mil amigos de feice até podem achar legal, podem elogiar e etc e tal, mas um eleitor do bolsonaro vai achar uma bosta, vai me mandar "levar pra casa", vai continuar achando que "bandido bom é bandido morto", vai achar que a série foi feita por uma "comunista". fico me perguntando, como com os memes, pra quê a gente faz isso. pra quem, pra dialogar ou pra ficar pregando pra convertido? as platéias do meu filme sobre violência contra a mulher, o precisamos falar do assédio, são, sempre, majoritariamente femininas. nós mulheres já sabemos como a violência pega no corpo, na alma, como dói e provoca traumas. digo sempre que queria passar meu filme para uma plateia de cinco mil homens. mas eles não querem ver. de que adianta ficar falando de nós pra nós?

quando falei tudo isso hoje cedo deitada no divã, minha analista contou que várias crianças sobreviventes de guerra ficam mudas. sobreviveram, a guerra acabou, estão ali, vivonas e vivendo, mas de que adianta, o que restou?

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eu de verdade não acho que o bolsonaro iria conseguir implementar tudo que ele defende, aniquiliar todos os direitos assim tão fácil. acho que temos instituições democráticas funcionando ainda que minimamente e de forma capenga. o que me aflige é a normalização da violência, da barbárie, a autorização do aniquilamento do outro, do que é diferente. isso já está aí. já perdemos, todos.

aqui na minha bolha de pinheiros de mulher branca, ultra privilegiada e de classe média, vou ter medo de pegar uber e sair sozinha à noite. de repente, se eu não fizer uns filmes sobre direitos humanos, não devo correr risco sério de vida. se eu me vestir "direitinho", talvez, quem sabe, não corra o risco de ser estuprada. mas eu não quero acordar todo dia e ler que a barbárie está se alastrando por aí. que pessoas foram mortas, machucadas, xingadas.

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de onde vem tanto ódio, tanta violência, como chegamos nisso?

e eu não sei o que fazer. eu tô desesperada. e eu tenho muito medo de ficar muda. surdos já estamos. todos."

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