PHA defende uso da expressão “negro de alma branca”

Em entrevista à revista Raça, ele diz que Heraldo Pereira é que tentou cercear seu direito à livre expressão do pensamento e afirma que não houve conotação racista na sua fala, que fez com que se retratasse

 PHA defende uso da expressão “negro de alma branca”
PHA defende uso da expressão “negro de alma branca” (Foto: Divulgação)


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247 – O jornalista Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada, deu sequência à sua polêmica com o também jornalista Heraldo Pereira. Numa entrevista à revista Raça, ele afirmou que a expressão “negro de alma branca”, que motivou ação judicial de Heraldo contra ele e posterior retratação, não tinha conotação racista. Leia:

“Eu não fui condenado por racismo”


Em 15 anos de existência, a revista RAÇA BRASIL publicou centenas de entrevistas com as mais variadas personalidades discutindo diversos temas. Por nossas páginas passaram atores, modelos, empresários, jornalistas e políticos de expressão, como o então presidente da República Luiz Inácio da Silva e, mais recentemente, o ex-presidente José Sarney.

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Na edição 165 (abril/2012), procuramos – como de praxe nessa nova fase da revista – abordar temas importantes (e necessários) como exclusão e racismo e, nesse contexto, entrevistamos um jornalista que tem se tornado símbolo de sucesso e credibilidade na imprensa brasileira, uma exceção em um país onde são raros os negros que se destacam.

A repercussão da matéria – capa da edição supracitada – foi enorme e provocou vários debates sobre a questão racial brasileira, principalmente em relação ao que é ser ou não negro no Brasil, debate este já superado por muitos ativistas da causa no país. Entre as muitas manifestações que chegaram até nós por meio das redes sociais, emails e telefonemas, o jornalista Paulo Henrique Amorim (citado em quatro perguntas na extensa entrevista que Heraldo nos concedeu) pediu, por intermédio de seu advogado Cesar Klouri, direito de resposta para que pudesse se defender e esclarecer algumas informações publicadas que, para Paulo Henrique, são inverídicas acerca do processo judicial que envolve os dois jornalistas.

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Pedido feito, pedido aceito! A entrevista com Paulo Henrique Amorim foi realizada no escritório do jornalista, no bairro de Higienópolis, em São Paulo.

Nela, o âncora do programa Domingo Espetacular, da Record, dá a sua versão dos fatos e responde também a algumas das centenas de perguntas que chegaram à redação devido à repercussão da matéria.

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(Paulo Henrique começa mostrando os laudos do processo movido por Heraldo Pereira e explicando…)

O que eu gostaria de deixar muito claro é que não cometi crime nenhum, não me sinto absolutamente criminoso, eu sou um jornalista que exerceu o seu direito de criticar, estou munido do que a gente chama “Liberdade de Expressão”, direito assegurado pela Constituição. A crítica que fiz foi uma crítica exatamente ao negro que não protege o negro, que não defende o negro, que não luta contra o (que não luta pelo) negro> E isso é derivado de uma crítica sistemática que faço ao trabalho do diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, que escreveu um livro dizendo que no Brasil não há racismo (Não Somos Racistas, Editora Nova Fronteira).

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O assunto nas duas ações do Heraldo é exatamente a crítica que faço ao Ali Kamel. Ele é o foco, o ponto nevrálgico da minha observação e, quando me refiro ao “negro de alma branca”, me refiro exatamente ao negro que não protesta contra as medidas, as instituições e os processos que provocam a desigualdade e a marginalização do negro.

O Ali Kamel, em minha opinião, é um ideólogo, um divulgador de posições e pre(con)ceitos que prejudicam a integração do negro. A minha crítica é a ele e ao fato de que o comportamento profissional do Heraldo se encaixa nesse protótipo de negro que não luta pelo negro.

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Nesse momento, tento fazer a primeira pergunta, mas…

Só para concluir, eu tenho 51 anos de jornalismo, de vitrine. A minha biografia está aí nesse documento e nunca, em momento nenhum, fui acusado de qualquer tipo de racismo ou de qualquer tipo de atitude discriminatória contra negro, judeu, nordestino, palestino, homossexual, transexual… Nada, nunca! O Sr.Heraldo Pereira resolveu pegar uma frase fora de contexto e, movido por interesses que eu localizo nos interesses políticos do ministro Gilmar Mendes – sua testemunha no processo civil -, resolveu me calar. O que ele quer é me cercear, é impedir que eu o critique, ele e o Ali Kamel.

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E eu vou criticá-lo, vou criticar o Ali Kamel, é o meu direito! E vou criticar o Gilmar Mendes por que, em minha opinião, é o espírito santo de orelha dessa ação que, para mim, nada mais é do que uma burla. Como eu digo nesse documento que está na justiça, uma burla para se vingar de mim, porque no meu blog Conversa Afiada, digo que o Gilmar Mendes não tem as necessárias indispensáveis qualidades para exercer o cargo de Ministro do Supremo, do ponto de vista técnico e, sobretudo, do ponto de vista da ética, por que o homem que se beneficia das oferendas de um dos principais advogados do Brasil, que tem uma centena de causas que correm nas instâncias superiores da justiça brasileira, como o Sr. Sérgio Bermudes, este homem não tem autoridade moral para sentar-se na Suprema Corte.

O meu problema, portanto, é menos com Heraldo do que com Ali Kamel, e, na máxima instância, com o Sr. Gilmar Mendes. Essa ação que o Ministério Público do Distrito Federal encampou contra mim faz parte de um processo mais amplo que se chama a judicialização da censura no Brasil, e o Heraldo, em minha opinião, nada mais é do que um veículo disso, um instrumento dessa política. Eu não tenho nenhum problema em ter feito um acordo com ele, um acordo no civil que teve o título de uma retratação, que, segundo me ensinou o meu advogado Cesar Marcos Klouri, nada mais é do que uma decisão de interromper o mal que, por ventura, tenha sido feito. Retratar-se é impedir que o mal, que por ventura tenha sido feito, não continue a ser feito.

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Eu me retratei porque, se ele, Heraldo, na pessoa física como cidadão, se considerou ofendido pela expressão ‘negro de alma branca’, eu lamento que isso tenha ocorrido e me retrato, agora não me retrato daquilo que eu disse. Uma que não foi feito com caráter racista, e ele, Heraldo, concorda. É bom ficar muito claro para os leitores da revista RAÇA BRASIL. O Heraldo assinou documento perante o juiz de direito em que ele diz: “A expressão ‘negro de alma branca’ não teve a intenção de ser uma ofensa e nem tem caráter racista.” Quem diz isso não sou só eu, quem diz que essa expressão foi usada sem caráter racista foi o Heraldo Pereira. A assinatura dele foi firmada na minha frente e na de um juiz de direito, portanto, a manipulação promovida por ele ou não é uma questão a ser discutida mais tarde num outro fórum, numa outra circunstância.

E Paulo Henrique continua a sua defesa…

A utilização desse documento de retratação em que ele concorda com a expressão ‘negro de alma branca’ não foi utilizada numa colocação racista. A manipulação desse meu prejuízo é outra questão e mereceu, de minha parte, com ajuda de meu advogado, uma série de notificações na justiça para que se retratassem da afirmação de que eu tinha sido condenado por racismo. Eu não fui condenado por racismo. Eu não sou criminoso. Eu me retratei e assumi uma série de compromissos em benefício da conciliação e da concórdia com a entidade pública de Brasília, que tenho regularmente feito os depósitos necessários e acordados em juízo. Publiquei o acordo no Correio Brasiliense e na Folha de São Paulo e isso foi manipulado pela imprensa como uma forma de condenação. Eu sou jornalista e vou criticar! Vou criticar o Ali Kamel, Heraldo Pereira e o Gilmar Mendes.

Tivemos acesso ao processo. Eu dei uma olhada e… (outra interrupção)

Você viu os termos da retratação?

O senhor não se sente condenado e sim uma pessoa que fez um acordo no qual o colega de profissão aceitou isso.

É importante ficar claro. Eu não fui condenado, e ele assinou um documento em que diz que a expressão ‘negro de alma branca’ não foi usada (com) caráter racial.

E o senhor considera a expressão ‘negro de alma branca’ como sendo racista?

Ao contrário, a expressão é uma crítica ao racismo, uma crítica àqueles que se conformam com o racismo.

Nos laudos que envolvem o processo, o senhor diz que, se Pelé e Barack Obama fossem entrar com processo todas as vezes que dissessem que eles são ‘negros de alma branca’, os dois não fariam outra coisa na vida.

Não, o sistema judicial americano e brasileiro seriam paralisados para discutir essa ação, porque quantas pessoas já chamaram o Pelé de ‘negro de alma branca’ e ) não)foi no sentido racista. Você acha que foi?

Eu não sei, não posso lhe responder.

Não é racista! Foi uma pergunta que fiz a uma repórter do Estadão [jornal O Estado de S.Paulo] , a única que disse que houve um acordo e não uma condenação. Ao fim da conversa por telefone, eu perguntei a ela: “Vem cá, você acompanha a minha vida profissional faz quanto tempo? Há não sei quantos anos. Você acha que eu sou racista?”

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