Dos sinais de fumaça até as nuvens digitais

A nuvem se moveu. A luz chegou até o usuário e agora é a TI que está com céu nublado. As tempestades e trovoadas estão reservadas para equipes técnicas que não se curvarem aos novos tempos



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Se você está na faixa dos quarenta e poucos anos, provavelmente carrega consigo algumas opiniões arraigadas sobre a área de informática - conhecida também pelo acrônimo TI, de tecnologia da informação. E se você ocupou ou está à frente de algum cargo gerencial, certamente possui referências bem ambíguas de quanto a TI pode ser estratégica para a organização, como também nefasta. Inegável é a insatisfação e o volume de reclamação dos usuários.

Bem, dos antigos sinais de fumaça indígenas até os modernos "smartphones", há um ponto em comum, sempre vital: a comunicação. O significado de cada transmissão era previamente combinado pela tribo e constantemente renovado, afinal já existiam os interessados em quebrar o código – Naquela época, simplesmente definidos como inimigos. O maior guru da Administração moderna, Peter Drucker, em sua simplicidade abismal, cita como exemplo da boa comunicação o sucesso do sistema de informação utilizado pelo Exército Imperial Austríaco até 1918. Ele consistia na utilização de pouco mais de 200 palavras específicas, com significado sempre vinculado a uma ação - ideal para facilitar as interlocuções entre hierarquias e etnias distintas. Apesar de estar presente ao longo da evolução dos meios de comunicação, o termo "tecnologia da informação" pode ser considerado recente. Surgiu em 1958, no rastro do "boom" dos computadores, por sugestão de dois articulistas da Harvard Business Review. Desde então, o termo tomou força e atualmente é comum, apesar de equivocado, associá-lo aos meios eletrônicos em geral. Trata-se de uma visão justa, natural, considerando o status quase místico que a TI cristalizou ao longo dos anos.

Hoje o usuário compreende melhor que mesmo dispondo da tecnologia mais avançada, ele é que detém o juízo e o discernimento para determinar qual informação é importante e o porquê. Em outras palavras, tem o controle. No entanto, quando empreendedores, autoridades e profissionais de outras áreas vislumbram a TI como a salvação do negócio ou pior, qualificam-na como inovação institucional, perde-se a oportunidade de saber o que controlar. Não raro ouve-se que a instituição "X" se modernizou, dispondo de novo parque computacional para seus funcionários e clientes. Muito comum também dizer que o "cara" de TI tem carta branca para fazer as coisas acontecerem. E de fato está tudo lá, novinho em folha, entretanto "pilotado" pelas mesmas mentes e processos de trabalho de outrora. Nesse momento, os líderes e gestores das áreas de negócio estão olhando para o novo equipamento ou até mesmo um novo sistema e se ainda perguntando como resolver os problemas ou como alavancar os resultados. Albert Einstein lapidou uma frase que resume bem a questão: "Os problemas não serão resolvidos a partir dos modelos mentais que lhe deram origem."

continua após o anúncio

Nesta equação inclui-se o profissional de TI. Sempre recorro a uma imagem que testemunhei várias vezes para defini-lo. Imagine-se no meio de uma reunião, ávido para iniciar um grande projeto, quando de repente descobre que precisará muito mais do apoio da área de TI do que esperava. Sem perceber você se vê às voltas com orçamentos estratosféricos, cronogramas furados, muito "tecniquês", fila de prioridades e, claro, as famosas questões do tipo, "... e o que eu interrompo para iniciar sua nova demanda?".

Vocês podem não acreditar, mas isto está mudando. Finalmente a TI terá de falar a linguagem das pessoas. E rápido. Há vinte e cinco anos atrás, costumava imaginar um comando saindo do meu terminal e viajando até o mainframe a quilômetros de distância. Então, a máquina "esquentava a cabeça" e me devolvia o resultado nas famosas letrinhas verdes, imortalizadas pelo filme Matrix. Não demorou e recebi com entusiasmo um microcomputador com estupendos 10 Mb de disco rígido e com o excelente Redator PC instalado. Ali nascia a era da computação pessoal – A tupiniquim claro! Finalmente o usuário tinha ao alcance de suas mãos o poder de processamento, fato que ensejou uma explosão de aplicativos para os computadores, invadindo todas as residências. Enquanto isso, no âmbito empresarial a relação entre o usuário e a turma da informática não mudava muito. Mesmo alçando os primeiros voos caseiros, nas empresas os "aviões" não chegavam ao local desejado. Os que decolavam, claro.

continua após o anúncio

Ao longo dos anos, enquanto a TI assumia o papel de principal ferramenta estratégica, elevando o Diretor de Informática e sua equipe à condição de arautos da modernização institucional e muitas vezes trazendo para si as regras e os requisitos de negócio. O usuário descobria gradativamente que podia comprar um roteador e montar a rede sem fio em sua casa. Tudo bem, o vendedor pode até ter dado uma ajudinha, mas o fato é que realmente não é complicado. Tempos depois, baixou o extrato bancário do sítio de seu banco e o carregou num software de finanças pessoais. E assim, recentemente ao constatar as funcionalidades do seu tablet, pensou "... posso integrar esse App com aquela planilha do trabalho...". Desde então, rapidamente a liberdade e facilidade das novas tecnologias "domésticas" invadem o ambiente corporativo. Nuvens digitais recheadas de possibilidades oferecem soluções que, provocam reflexões nos gestores de negócio quanto ao verdadeiro papel da área de TI. Ficou mais fácil vê-la como provedora de uma infraestrutura segura, performática a custos competitivos. Mas então, o que ela faz? Qual sua primeira reação? A TI bloqueia o acesso e dificulta a troca de informações. Perdoe-me se algum técnico foi ao seu encontro para entender sua necessidade. Espero que sim, seria uma ótima notícia! Em suma, a plataforma tecnológica avançou muito. Hoje tudo é sensível ao contexto, tolerante a falhas e multitarefa, mas o Humano que encarna o profissional de TI não.

A nuvem se moveu. A luz chegou até o usuário e agora é a TI que está com céu nublado. As tempestades e trovoadas estão reservadas para equipes técnicas que não se curvarem aos novos tempos. Ficou mais evidente a distorção dos conceitos da Ciência Administrativa que a TI tomou emprestado para justificar suas atividades. Não é mais absurdo dizer que aquele esforço tremendo para a criação de um software não é sinônimo de sistema de informação. Nem é coincidência a expressiva valorização do analista de negócios desde seu surgimento do cenário corporativo. Na outra ponta, as indústrias de tecnologia criam cada vez mais padrões orientados a partir da visão de negócio, aproximando-se dos gestores e líderes tecnicamente "leigos". Torna-se comum os chavões da TI serem "orientados a serviços" e "automatização dos processos de negócios", todos recheados de interfaces que facilitam a integração ao legado. Percebe-se que há uma estratégia em andamento, será cada vez mais fácil para as áreas de negócio agregar valor a seus produtos e serviços. Desta vez com mais controle e mais liberdade, criando e interligando suas soluções à infraestrutura tecnológica da empresa.

continua após o anúncio

É o fim da TI? Nunca. Que fique bem entendido – não se trata de apontar culpados. A TI é importante, estratégica e tudo mais que escutamos ao longo das últimas décadas. Precisamos dela cada vez mais! Só que agora mais cooperativa do que imperativa. Focada na sua essência técnica.

Por outro lado, e agora Senhor Usuário...  Está preparado para iniciar esta viagem? Ou ainda é mais seguro deixar tudo como está?

continua após o anúncio

Silvino César Silveira é administrador com 25 anos de experiência na área de Tecnologia da Informação, especialista em sistemas de informação e Mestre em gestão da TI

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247