O relato de um sobrevivente do 11 de setembro

George Mironis, 71 anos,carrega para onde vai um carto de visita com a inscrio sobrevivente; assim que ele se apresenta desde que a Torre Norte do World Trade Center foi atingida pelo avio que a derrubaria



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Rodolfo Borges_247 – Estive em Nova York em maio, para conhecer a cidade e, obviamente, a região onde ocorreram os ataques de 11 de setembro de 2001. Os monumentos que serão inaugurados neste fim de semana estavam sendo finalizados e a região do World Trade Center permanecia cercada por tapumes. As obras no local desviavam os pedestres para o prédio do World Financial Center, de onde era possível ver com mais detalhes o trabalho de reconstrução da área, mas não chegavam a atrapalhar a visita. Nova York parecia uma cidade normal, apesar de tudo. Até eu conhecer George Mironis.

Aos 71 anos, Mironis carrega para onde vai um cartão de visita com a inscrição “sobrevivente”. É assim que ele se apresenta desde que a Torre Norte do World Trade Center foi atingida pelo avião que a derrubaria. Na hora do impacto, o americano trabalhava no 48º andar – a torre foi atingida no 92º. Profundamente marcado pelo ocorrido, Mironis carrega para onde vai uma mochila com lembranças daquele dia. São fotos tiradas ainda de dentro do prédio, logo depois de sentir um forte impacto, e do lado de fora, de onde registrou a queda de algumas pessoas. "Perdi parte da audição, minha memória não vai bem e minha vida mudou completamente depois daquilo. Mas o pior foi perder 33 amigos", disse ao Brasil 247 o sobrevivente do atentado, que carrega numa caderneta o nome de todos conhecidos que morreram naquele dia.

Mironis é o 11 de setembro que ainda respira. A prova de que, apesar de os americanos dizerem que está tudo bem, o trauma ainda não passou – e provavelmente nunca passe. Ele administrava três andares do banco japonês Dai-Chi Kangyo, cujo escritório migrou para Nova Jersey depois dos ataques. Dias depois, perdeu o emprego e passou a trabalhar na área de segurança, mas não conseguiu superar o trauma. "Ainda tenho pesadelos com flashes daquele dia. Não sou mais o mesmo", disse Minoris, que considera "inconsistente e político" o relatório final sobre o atentado apresentado pelo governo, fruto do trabalho de uma comissão composta por parlamentares. A insatisfação gerou grupos como o 9/11 Truth (Verdade do 11 de setembro), que permanece atrás de informações que esclareçam o ocorrido.

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Assim como a maioria dos americanos afetados diretamente pelo atentado de 11 de setembro, Minoris passou a viver em função daquele dia. Busca a quem contar o que ocorreu nos últimos minutos do World Trade Center e frequenta eventos que dizem respeito ao atentado, como a palestra sobre teorias da conspiração em que eu o conheci. Aliás, o evento daquele 25 de maio era para ser apenas uma palestra, mas a exposição dos especialistas Kathryn Olmsted e Michael Barkun no 9/11 Memorial acabou se transformando em fórum para a exposição da insatisfação dos americanos com a forma como seu governo conduziu as investigações sobre o caso. Ao fim da palestra, mais da metade do público de cerca de 30 pessoas levantou as mãos, ávido por respostas que reconhecessem nas suas investigações e teorias pessoais alguma legitimidade para explicar algo que o governo não foi capaz de fazer.

Teorias da conspiração

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Um dos mais exaltados naquele início de noite era Manny Badillo, que perdeu seu tio Thomas Joseph Sgroi, então com 45 anos, no ataque às Torres Gêmeas. "É um desrespeito discutir teorias da conspiração no âmbito do 11 de setembro. Setenta por cento das perguntas dos familiares não foram respondidas pelo governo. Queremos uma investigação factível. O que vocês chamam de teoria da conspiração eu chamo de busca pela verdade", disse Badillo, que milita há dez anos por explicações sobre o que realmente ocorreu no dia 11 de setembro de 2001.

Um dos grandes mistérios, e dos maiores motivos de incômodo para os afetados, é o fato de o prédio Sete do complexo do World Trade Center ter colapsado minutos depois de as torres caírem. O Salomon Brothers tinha 47 andares e, ao que consta, caiu da mesma forma que as torres principais, sem pender para qualquer lado, e sem ser atingido por qualquer avião. Para os parentes das vítimas, as condições do desabamento reforçam a teoria de que o governo americano sabia dos ataques e permitiu que eles acontecessem ou de que foi a própria Casa Branca a responsável por derrubar os prédios, por meio de explosivos.

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A conspiração dentro do governo americano teria como meta justificar uma guerra (ainda que a invasão do Iraque só viesse a ocorrer dois anos depois), como acredita-se que ocorreu quando a base de Pearl Harbor foi atacada pelos japoneses, levando os Estados Unidos à Segunda Guerra Mundial. Esse tipo de teoria ganhou força quando foram reveladas informações sobre a Operação Northwoods, um plano do governo na década de 1960 para simular uma série de atentados e, assim, justificar uma invasão à Cuba de Fidel Castro. É também por meio dessas teorias que os americanos tendem a explicar o assassinato do ex-presidente John Kennedy por um inexpressivo jovem de 24 anos.

Para Michael Barkun, professor emérito de Ciência Política da Maxwell School of Syracuse University e autor de A Culture of Conspiracy (Uma Cultura da Conspiração), os americanos parecem preferir acreditar que "os japoneses não poderiam surpreender as tropas americanas em Pearl Harbor ou que um 'perdedor' como Lee Harvey Oswald não poderia assassinar um presidente como Kennedy". Curiosamente é dessa confiança na infalibilidade do governo que surgem as desconfianças quando a estrutura aparentemente falha. Segundo os especialistas, foi o próprio governo americano que originou essa "cultura da conspiração" no país.

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"As primeiras agências de investigação foram criadas pelo governo na época da Primeira Guerra Mundial e, com elas, vieram os segredos", explica Kathryn Olmsted, professora de História da University of California Davis e autora do livro Real Enemies: Conspiracy Theories and American Democracy (algo como Verdadeiros Inimigos: Teorias da Conspiração e Democracia Americana). Segundo a professora, as revelações do Watergate, que acabaram por derrubar o presidente Richard Nixon, reforçaram a ideia de que as conspirações de fato existem.

O assassinato de Osama Bin Laden pode ter trazido algum alento a boa parte dos americanos, mas não foi o bastante para aqueles afetados diretamente pelos atentados de 11 de setembro. Enquanto o governo americano não conseguir explicar como o sistema de defesa aérea dos Estados Unidos pôde falhar ou por que há uma diferença de três minutos entre o horário da queda do voo 93 em Shanksville apontado no relatório final da Comissão do 11 de setembro e o momento do registro sísmico do evento, as teorias continuarão a circular. E, graças à internet, com cada vez mais velocidade e amplitude.

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