Um general que não sabe o que é democracia

Sem citar o nome do comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, o sociólogo e colunista do 247 Emir Sader critica declarações do militar sobre possíveis ameaças à democracia; "Se o general tivesse estudado um pouco o tema, saberia que a extrema pobreza, a fome, a exclusão social, as imensas desigualdades, são incompatíveis com a democracia, regime em que todos devem ser iguais, mas que, na nossa sociedade, por essas razoes, são extremamente desiguais", diz Emir; "A única forma de garantir a democracia no Brasil são eleições diretas e livres, deixando nas mãos do povo o direito de decidir, sem ingerências, nem de juízes, nem de militares, os destinos do pais. Ai voltaremos a ter democracia, sem tutela alguma"

Militares
Militares (Foto: Emir Sader)


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Um general tem manifestado preocupação com a democracia, no que demonstra que não sabe o que é democracia. Antes de tudo, porque não cabe a um general manifestar sua preocupação com a democracia. Isso é antidemocrático, não está entre as funções que lhe são atribuídas. O general deveria estar preocupado com a proteção das fronteiras do país em relação ao trafico de drogas, por exemplo, assim como do tráfico de armas para o narcotráfico, entre outras funções.

Mas o general mostra também pouco conhecimento da história do Brasil, em particular no que se refere à democracia. A ultima vez que generais manifestaram preocupação com a democracia, se valeram dessa suposta preocupação para destruir, da maneira mais brutal, a democracia no Brasil. Introduziu-se assim o período mais sombrio da historia do país, que durou 21 anos e destrocou tudo o que havia sido construído de democracia.

Bastaria o general ler os livros de história para se dar conta do que não é democracia, produto da ação dos seus colegas de instituição. Tudo começou com atitudes como essa, de preocupação militar com a democracia, que levou a tudo isso de negativo para o país.

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Ao mesmo tempo, o general não conhece o Brasil. A democracia já foi violentada há alguns anos e, ao que parece, o general não percebeu, quando o voto popular foi desrespeitado e uma presidenta foi impedida de exercer o mandato para o qual tinha sido eleita democraticamente. Ao que se saiba, o general não manifestou preocupação alguma com a democracia, naquele momento.

Recentemente, um ex-presidente, o único homem publico que tem a confiança da grande maioria do povo, porque governou, da maneira mais democrática, o Brasil, saindo do governo com 87% de apoio, foi condenado sem ter cometido nenhum crime e sem que exista nenhuma prova de irregularidade que ele tenha cometido. Ao que se saiba o general não se deu conta que, uma vez mais, a democracia estava sendo destruída.

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Se conhecesse o Brasil e o seu povo e soubesse o que é democracia, o general saberia que o que ameaça a democracia no Brasil é o fato de sermos, até recentemente, o país mais desigual do continente mais desigual do mundo, de termos estado sempre no Mapa da Fome da ONU. Se o general tivesse estudado um pouco o tema, saberia que a extrema pobreza, a fome, a exclusão social, as imensas desigualdades, são incompatíveis com a democracia, regime em que todos devem ser iguais, mas que, na nossa sociedade, por essas razões, são extremamente desiguais.

Que ameaça para a democracia é militares se pronunciarem sobre o sistema político e ameaçarem intervir, impunemente. Ao invés de punir os subordinados que cometeram esse crime contra a democracia, o general fez declarações na mesma direção.

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Nunca houve regime tão corrupto como a ditadura militar, em que os escândalos eram escondidos pela censura que os militares exerciam sobre a mídia. A corrupção sempre existiu, mais ainda em ditadura. O que ameaça a democracia é a falta de exercício livre e soberano do povo para decidir os destinos do país, sem interferências e ameaças de novo golpe militar.

Infelizmente as FFAA impuseram uma anistia, para se auto-anistiar dos crimes cometidos durante a ditadura, legitimando até a tortura, crime inafiançável, pelo direito internacional. O Brasil ficou, até hoje, na contramão desse direito, por manter essa herança vergonhosa da época da ditadura.

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O que as FFAA mais temem, são as Comissões da Verdade, como manifestaram na intervenção no Rio de Janeiro. Por que esse temor à verdade? Deveriam, ao contrario, acatar as resoluções da Comissão da Verdade sobre os crimes cometidos durante a ditadura e assumir uma profunda auto critica, que inclui nunca mais se meter em politica, nem em manifestar qualquer tipo de preocupação, menos ainda ameaçar voltar a intervir, que é a maior ameaça à democracia no Brasil.

A única forma de garantir a democracia no Brasil são eleições diretas e livres, deixando nas mãos do povo o direito de decidir, sem ingerências, nem de juízes, nem de militares, os destinos do pais. Ai voltaremos a ter democracia, sem tutela alguma.

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