Precisamos falar da China

"A sensação que se tem é que, se o século XVIII foi francês, o XIX foi inglês, o século XX foi norte-americano, o século XXI já é um século chinês, em que o destino do século será determinado, em grande medida, pelo que aconteça na China. Por isso temos que falar muito da China", diz o colunista Emir Sader

"A sensação que se tem é que, se o século XVIII foi francês, o XIX foi inglês, o século XX foi norte-americano, o século XXI já é um século chinês, em que o destino do século será determinado, em grande medida, pelo que aconteça na China. Por isso temos que falar muito da China", diz o colunista Emir Sader
"A sensação que se tem é que, se o século XVIII foi francês, o XIX foi inglês, o século XX foi norte-americano, o século XXI já é um século chinês, em que o destino do século será determinado, em grande medida, pelo que aconteça na China. Por isso temos que falar muito da China", diz o colunista Emir Sader (Foto: Emir Sader)


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Eu fui convidado pela Universidade de Pequim para participar do II. Congresso do Pensamento Marxista e da fundação da Associação Mundial do Marxismo. Os eventos se deram em um novo momento decisivo na historia da China e fazem parte desse momento.

Os eventos se inscrevem no marco das comemorações do 200 aniversario do nascimento do Marx, que se deram de maneira como em nenhum outro lugar do mundo, pela quantidade de eventos, assim como pela importância atribuída a eles. Ao mesmo tempo se comemoram os 120 anos de fundação da Universidade de Pequim, a mais importante da China.

Só dois latinoaemricanos foram convidados, uma professora da Unam, do Mexico, eu. Os chineses decidiram os convites nao pelos cargos das pessoas, mas por sua obra, sua trajetória e sua atividade política. A America Latina esteve assim subrepresentada, como efeito do perfil mais baixo do pensamento social latino-americano nos últimos anos.

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Apesar da importância dos dois eventos, os de mais significado este ano para historia da China são os que que comemorarão os 40 anos do processo de reformas e de abertura da economia. Eu havia estado nas comemorações dos 30 anos desse processo, mas o clima era distinto, embora ja começasse a mudar, sob os efeitos da crise geral do capitalismo.

Até aquele momento, o ano de 2008, reinava, desde o começo do período de reformas e de abertura, iniciado em 1998 por Den Xiaoping, uma euforia em torno dos efeitos dos mercados interno e externo, sobre a economia chinesa. E as consequências espetaculares no ritmo de crescimiento pareciam autorizar esse sentimento.

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Mas a crise foi um primeiro chamado de atenção sobre a outra cara dos mercados, a das crises. Desde então a China passou a um equilíbrio maior entre o Estado e os mercados, no que eles chamam de economia socialista de mercado, no lugar do modelo centralmente planificado, do começo da revolução, importado da URSS.

A historia recente da China ja possui um período maior desde a morte do Mao (1976) do que o primeiro período, desde a tomada do poder, em 1949, o período maoísta da historia chinesa. Se cumprem 40 anos desde o começo das reformas e da abertura da economia. O primeiro período é valoriza apenas como anos de consolidacao do novo poder e de defesa da integridade territorial, mas não como um momento na construção da nova sociedade.

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Mao é valorizado como o protagonista da Longa Marcha, como o dirigente que leva a China a derrotar, sucessivamente ao Japão e aos EUA, mas nao como dirigente na construção do novo Estado chinês. Ou existem poucas referencias a seu período ou são referencias negativas, como aquelas sobre o Grande salto para frente e sobre a Revolução Cultural, como projetos que fracassaram e deixaram muito sofrimento para o povo chinês.

A historia contemporânea da China abarca os últimos 40 anos, quando o pais começo a recuperar seu lugar de destaque no mundo, depois de dois séculos de derrotas e humilhações, impostas pelas potências ocidentais. Foram os séculos que começaram quando a China foi invadida pela Inglaterra, na guerra do ópio, para impor o consumo do ópio e equilibrar assim o comercio entre os dois países. Porque a Europa queria comprar tudo o que a China tinha para vender, mas a China não se interessava em comprar nada da Europa. A Inglaterra teve que se retirar militarmente da China, mas deixou o esquema de trafico do ópio, absatecido desde outra grande colônia inglesa – desde a India.

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Como a China não tinha poderio marítimo, porque não pretendia ser uma potencial colonial, foi derrotada pela Inglaterra e passou a viver dois séculos de subordinação às potências ocidentais. Período que a China considera que terminou, desde que o pais entrou na sua época de reconstrução econômica e de desenvolvimento sustentével, desde 1978.

A era Xi Jinping que a China vive actualmente e que promete ser longa no tempo não só prestigio e pelo poder do seu dirigente atual, mas também porque ele conseguiu mudar a Constituição chinesa, para poder ocupar os máximos cargos de direção do pais por vários períodos e não somente pelos dois períodos previstos anteriormente.

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E' um período caracterizado por uma presença mais forte do Estado e do Partido Comunista Chinês, tanto no plano econômico e politico interno, como na presença da China no mundo. No plano econômico, Xi define a prioridade do caráter qualitativo do crescimento econômico, em detrimento do seu simples crescimento quantitativo. O que significa melhorar as condições de trabalho de todos, assim como a melhoria substancial da contaminação reinante em todas as grandes cidades chinesas.

O governo chinês se orgulha de ser a única grande economia sem crise, que mantém há quatro décadas um impressionante ritmo de crescimento constante, ao mesmo tempo que tirou da miséria a 700 milhõees de pessoas. Agora se dedicam a melhorar as condições de trabalho e de controle da contaminação.

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A sensação que se tem é que, se o século XVIII foi francês, o XIX foi inglês, o século XX foi norte-americano, o século XXI já é um século chinês, em que o destino do século será determinado, em grande medida, pelo que aconteça na China. Por isso temos que falar muito da China.

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