Censura prévia do TSE é ridículo mundial

"A proposta do TSE de proibir a divulgação de notícias que forem consideradas fake news por um grupo de especialistas é um escândalo universal contra a liberdade de expressão", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "Nos Estados Unidos, primeiro país a denunciar e discutir as fake news, a autoridade que fizesse uma proposta semelhante seria motivo de piadas pelo país inteiro". Para PML, é preciso entender a tentativa de censura como "a nova cena do filme. Depois da Lava Jato, do golpe que afastou Dilma, da prisão sem prova de Lula, só faltava a censura"

"A proposta do TSE de proibir a divulgação de notícias que forem consideradas fake news por um grupo de especialistas é um escândalo universal contra a liberdade de expressão", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "Nos Estados Unidos, primeiro país a denunciar e discutir as fake news, a autoridade que fizesse uma proposta semelhante seria motivo de piadas pelo país inteiro". Para PML, é preciso entender a tentativa de censura como "a nova cena do filme. Depois da Lava Jato, do golpe que afastou Dilma, da prisão sem prova de Lula, só faltava a censura"
"A proposta do TSE de proibir a divulgação de notícias que forem consideradas fake news por um grupo de especialistas é um escândalo universal contra a liberdade de expressão", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "Nos Estados Unidos, primeiro país a denunciar e discutir as fake news, a autoridade que fizesse uma proposta semelhante seria motivo de piadas pelo país inteiro". Para PML, é preciso entender a tentativa de censura como "a nova cena do filme. Depois da Lava Jato, do golpe que afastou Dilma, da prisão sem prova de Lula, só faltava a censura" (Foto: Paulo Moreira Leite)


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Acabo de participar, na Câmara de Deputados, de uma audiência sobre fake news, uma iniciativa bastante oportuna do deputado Hildo Rocha (MDB-MA).

A palavra oportuna se justifica por uma razão óbvia.

Num momento no qual o ministro Luiz Fux, do TSE, anuncia o projeto de criar um conselho para monitorar a divulgação de notícias pela internet, identificar notícias falsas e exigir que sejam retiradas de sites, portais e blogues, o debate real é outro.

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Envolve a defesa do artigo 5/IX da Constituição brasileira, onde se diz que "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença."

Impossível deixar de reconhecer a nova cena do filme. Após a AP 470 e a Lava Jato, o golpe que afastou Dilma, a intervenção militar no Rio de Janeiro e condenação de Lula, que contraria todas as provas documentais disponíveis, o novo passo para a consolidação de um regime de excessão é a censura.

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Sua estréia foi um vexame espetacular, envolvendo uma tentativa de impedir a divulgação da notícia de que um consultor do Vaticano foi proibido de encontrar-se com Lula em seu cárcere de Curitiba, a quem pretendia entregar um terço abençoado pelo Papa Francisco, além de lhe transmitir uma mensagem pessoal do Sumo Pontífice. A alegação, com base no serviço de duas agências de monitoramento de notícias, era que se tratava de informação falsa. Errado -- como o próprio Vaticano iria esclarecer depois.

Embora convidado para a audiência na Câmara,  o próprio Fux não compareceu. Reunindo parlamentares, acadêmicos, vários jornalistas, um represente das empresas de comunicação e uma executiva do Facebook, o debate permitiu esclarecer opiniões e formar um quadro do debate real.

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Reconhecendo que erros e notícias falsas fazem parte da história do jornalismo desde os tempos de Gutemberg, não há dúvida de que toda tentativa de impedir a publicação de uma notícia com o argumento de que se trata de fake news é uma forma de censura. Há uma complicação suplementar.

Considerando que a liberdade de expressão faz parte dos direitos e garantias individuais, e que estes integram o bloco de cláusulas pétreas, que não podem ser modificadas nem por emenda aprovada por 2/3 do plenário, mas apenas por uma nova Constituição, é fácil entender que o debate sobre proibir fake news tem sido travado de forma irresponsável.

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"Censura travestida", define a Folha de S. Paulo em editorial publicado neste domingo, na mesma edição na qual, em artigo assinado, Octávio Frias Filho, dono do jornal, rejeita a hipótese de uma intervenção militar como um projeto inviável para o país: "Uma intervenção militar demandaria, além de condições históricas que hoje não parecem presentes, uma sociedade mais simples, mais rudimentar e primitiva, que já desapareceu entre nós há várias décadas".

Mesmo que a censura -- traço indiscutível do regime militar de 64 -- fosse reestabelecida com argumentos geniais, irrespondíveis, seria uma decisão a margem da lei e da Constituição. Inaplicável, portanto. O raciocínio empregado para tentar justificar a censura prévia sem o emprego dessa palavra constitucionalmente proibida é só um pouco sinuoso, como se viu na Câmara. 

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Fux já chegou a falar que o eleitor não pode votar desinformado. 

Ontem, na Câmara, seus defensores sustentavam argumentos na mesma linha. Diziam que, no Brasil, num país onde a má qualidade da educação  é um fato inegável, os eleitores são cidadãos sempre disponíveis a toda manipulação, em especial a partir de notícias falsas divulgadas como se verdadeiras fossem.

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Esta é a questão. A censura sempre se apresentar como uma atividade destinada a fazer bem. No passado, a finalidade era impedir a propagação de ideias consideradas subversivas ou proteger a moral e os bons costumes. Imaturos, mal educados, os brasileiros não eram capazes de tomar a decisão sozinhos, conforme sua consciência. Aliás, durante 25 anos não estavam preparados nem para votar, não é mesmo?

O problema desse falso paternalismo, que pretende tutelar a consciência do eleitor com o argumento de que as escolas do país são ruins, é que a tese não dobra a esquina. O escândalo das fake news nasceu na eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, onde a educação possui muitos defeitos -- mas não pode ser considerada ruim pela média mundial. Outro país é a Inglaterra, na qual culpa-se a fake news espalhadas pelos adversários da União Européia pelo Brexit.

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Um dos progressos inegáveis do jornalismo de nosso época foi reconhecer que se trata de uma atividade subjetiva, sujeita às opiniões, competências  e mesmo faltas involuntárias de repórteres e editores. Longe de ser a manifestação de uma verdade quimicamente pura, produto de uma linha de montagem,  constitui aquilo que se chama "expressão possível da verdade".

Esta noção permite compatibilizar artigos e textos que têm pontos de vista opostos, capazes de chegar a conclusões diversas sobre um mesmo tema, como exemplos de bom jornalismo, desde que produzidos conforme métodos e padrões aceitáveis. 

Essa realidade mostra um fato inegável. Se é sempre um desafio  alcançar a "expressão possível da verdade", é até mais complicado, demonstrar que uma notícia é uma fake news. O esforço é duplo. Além de possuir um conhecimento completo dos fatos e personagens em discussão, é preciso fazer uma segunda investigação -- para demonstrar que foram estruturadas numa narrativa falsa, de má fé. 

Para dar um exemplo fácil de entender. Em 1971, quando precisava esconder que o empresário Rubens Paiva fora assassinato sob tortura em dependências militares, o comando da ditadura fabricou uma versão absurda e tenebrosa. Divulgou que um automóvel que transportava Rubens Paiva pelo Rio de Janeiro foi interceptado por um comando terrorista, de onde o empresário foi retirado e conduzido para um paradeiro desconhecido. Embora fosse um relato sem pé nem cabeça,  foi preciso aguardar mais de quatro décadas para que a verdade fosse esclarecida e até hoje não se tem informações definitivas sobre seu corpo.

Não há dúvida que notícias falsas sempre são prejudiciais a um país, pois distorcem a visão da realidade e modificam artificialmente o debate político.  O remédio para isso, no entanto, não é menos liberdade, mas mais democracia. Vale uma regra elementar: quando mais fechado for o sistema de comunicação de um país, menos será o debate de ideias, o confronto de posições. Mais fácil será manipular os cidadãos. 

Nascido em meio a campanha eleitoral norte-americana, é muito possivel que, no futuro, o termo fake news seja reconhecido como mais uma palavra no xingatório geral das campanhas eleitorais.

Até hoje os Democratas que acusaram Trump de produzir notícias falsas para destruir a candidatura de Hillary Clinton e virar a campanha presidencial de 2016 não conseguiram provar seu ponto. Ao menos em teoria, pode-se até concluir no futuro que tudo não passou de uma fake fake news -- como a lorota de que o terço do papa a Lula era uma invenção de três portais de esquerda -- 247, Diário do Centro do Mundo, Fórum -- com auxílio de um malandro portenho.

Ainda assim, ninguém imagina, nos Estados Unidos, que na próxíma eleição presidencial, em 2020, as autoridades eleitorais daquele país irão submeter os portais e sites dos EUA a censura prévia para impedir a divulgação de notícias falsas.  

Alguma dúvida?

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