Petrobrás esquartejada: segunda morte de Tiradentes

A privatização inicial dos setores industrial e de distribuição da empresa, deixando preservada, apenas, a exploração do óleo cru, com valor agregado da expertise da extração em águas profundas, elimina, praticamente, a fonte de capitalização permanente do complexo oligopólio petrolífero estatal

Petrobrás esquartejada: segunda morte de Tiradentes
Petrobrás esquartejada: segunda morte de Tiradentes (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)


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Entreguismo acelerado

A decisão de esquartejar o complexo industrial Petrobrás(exploração, produção, comercialização, industrialização e distribuição), que fatura bruto, anualmente, R$ 90 bilhões e investe R$ 70 bilhões, no período 2018-2022, conforme plano de negócio da petroleira nacional, motor real do desenvolvimento brasileiro, há cinquenta anos, representa o fim da concepção desenvolvimentista nacionalista na revolução de 1930 com Getúlio Vargas.

O esquartejamento do plano de negócio da Petrobrás seria espécie de segunda morte de Tiradentes, cujo simbolismo expressa a luta do povo brasileiro pela independência nacional; a Petrobrás é inseparável da luta pela independência, como se eternizou na campanha do Petróleo é nosso.

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Esquartejado, o complexo Petrobrás deixa, portanto, de ser um organismo empresarial estatal, em forma de oligopólio, competitivo internacionalmente; sobram partes e peças descoordenadas de uma unidade de comando estratégico rompida.

A privatização inicial dos setores industrial e de distribuição da empresa, deixando preservada, apenas, a exploração do óleo cru, com valor agregado da expertise da extração em águas profundas, elimina, praticamente, a fonte de capitalização permanente do complexo oligopólio petrolífero estatal; sem ele, evidentemente, inexistirão os planos de negócio estratégicos associados ao desenvolvimento sustentável.

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A economia brasileira, ao longo das últimas cinco décadas, tem dependido, umbilicalmente, dos planos de negócio estratégicos da Petrobrás, a nortear os investimentos públicos e privados, em sintonia nacionalista.

Para a sociedade, seria uma boa ou uma péssima essa desestruturação do grande oligopólio estatal petrolífero, especialmente, no ambiente da globalização capitalista em plena guerra comercial entre os dois gigantes globais, Estados Unidos e China?

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O esquartejamento da estatal abala o processo de industrialização em meio às instabilidades globais crescentes.

O interesse privado distribuído em cada parte da Petrobrás esquartejada não se ligará, evidentemente, ao planejamento estratégico típico da empresa como complexo econômico e financeiro a serviço do nacionalismo desenvolvimentista.

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Ironicamente, Luís Fernando Veríssimo, no Globo, hoje, em “Fatiada”, destaca que os brasileiros, visto pelos meios petrolíferos, transformam-se, com a liquidação da Petrobrás, nos neobobos internacionais.

Ideologia no lugar da economia

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A nova equipe econômica, capitaneada pelo ultraneoliberal Paulo Guedes, buscará, por meio da Secretaria de Privatização (ou secretaria do entreguismo?) acelerar o esquartejamento, utilizando argumento ideológico.

A nova narrativa que se coloca em prática é a de que o problema nacional número não é o desemprego, o subdesenvolvimento, o subconsumismo, mas a corrupção.

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Combater a corrupção com privatização para acelerar economia de mercado vira nova panaceia econômica.

A ideologia entra no lugar da economia.

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Calcula-se, ideologicamente, a utilidade da Petrobrás não pelo que ela é como potência econômica capaz de garantir a independência e soberania nacionais.

Considera-se, apenas, que será melhor, para a sociedade, privatizar o complexo oligopólico estatal do petróleo, a fim de sanar a corrupção.

Para alcançar essa meta nobre, dizem os ultraneoliberais de Chicago, na era bolsonariana, a melhor alternativa é a livre competição de preços entre os que abocanharem as partes esquartejadas da petroleira.

Combate à corrupção pelo livre mercado, eis a nova pós verdade econômica pauloguedeseana.

Visão ingênua da história

No mínimo, uma visão ingênua.

No princípio, o livre mercado é bom para o capital, dizem os grandes Sismondi,  Ricardo, Malthus, Marx, Keynes etc.

Porém, com avanço da ciência e da tecnologia a serviço da produção e da produtividade, que concentra renda e produz exclusão social, a oferta aumenta em relação à demanda e os preços se deflacionam.

Passa a ser necessário, controles de preços, para evitar o maior inimigo do capitalismo, segundo Keynes, a deflação.

A história econômica demonstrou que se caminhou, como pretensa solução, para os monopólios e oligopólios, para se fugir do livre mercado deflacionário, que destrói consumidores, com a concentração de renda.

Historicamente, portanto, o oligopólio estatal nasce em nome do interesse público, para contrapor-se ao oligopólio privado, que destrói interesse público, ao fugir do livre mercado deflacionário.

Seria essa a briga de gigantes nos estertores do capitalismo, na visão futurista de Jack London, por exemplo, em “Tacão de ferro”, prefaciado por Trotski.

Em nome do interesse público, o oligopólio estatal lutaria e derrotaria o oligopólio privado, ameaça à sociedade etc.

Lego engano.

No Brasil, pelo menos, está começando, na Era Bolsonaro, o contrário: o oligopólio privado destroça o oligopólio estatal.

A volta ao livre mercado, inexistente, hoje, na economia global em guerra comercial,  destruiria o oligopólio privado que nasceu dele para se auto-proteger?

O interesse público, portanto, vai para o sal, no compasso do segundo esquartejamento de Tiradentes, símbolo dramático do nacionalismo brasileiro.

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