Simplesmente Darcy Ribeiro

Empobrecido, vitima de um processo de desculturação, o Brasil é europeu camponês, africano tribal e indígena comunitário. Dentre nossas especificidades nos colocamos na ante-sala da modernidade, mas insistentemente impedidos de adentrar, na busca frenética de afirmação, somos uma nova civilização querendo nascer

Empobrecido, vitima de um processo de desculturação, o Brasil é europeu camponês, africano tribal e indígena comunitário. Dentre nossas especificidades nos colocamos na ante-sala da modernidade, mas insistentemente impedidos de adentrar, na busca frenética de afirmação, somos uma nova civilização querendo nascer
Empobrecido, vitima de um processo de desculturação, o Brasil é europeu camponês, africano tribal e indígena comunitário. Dentre nossas especificidades nos colocamos na ante-sala da modernidade, mas insistentemente impedidos de adentrar, na busca frenética de afirmação, somos uma nova civilização querendo nascer (Foto: Manoel Dias)


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Antropólogo, escritor, professor, político, intelectual, essas são apenas algumas expressões que se somam à biografia do mestre Darcy Ribeiro, um dos maiores brasileiros de todos os tempos.

Inquieto, Darcy Ribeiro deixou uma vasta obra. Um peregrino da educação percorreu todas as alamedas possíveis para libertar nosso povo da educação desonesta que temos. Confrontado pelas carcomidas elites, que se utilizam da deseducação como forma de perpetuação do seu poder, Darcy desabafou:

“Fracassei em tudo o que tentei na vida.

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Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. 

Tentei salvar os índios, não consegui. 

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Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. 

Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. 

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Mas os fracassos são minhas vitórias. 

Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”

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Entre suas obras, destaca-se o magnífico livro “O Povo Brasileiro”. Ninguém leu, interpretou, decifrou e compreendeu mais a alma de nossa construção como Darcy Ribeiro, nesta obra.

Darcy rompe, indubitavelmente, com o mito da integração racial pacífica. Já na iniciação, constata-se o processo violento, deliberado de eliminação de toda identidade étnica, resultando em nosso conceito de formação nacional num processo de opressão e repressão.

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Calçados sob a ojeriza, terror, aversão às elites lusitanas, luso-brasileiras, e brasileiras, originaram-se e consolidaram-se pela força impositiva de dominação sobre os mais fracos.

O Brasil das oportunidades se desfaz no abismo, entre castas e guetos, entre privilegiados e marginalizados, numa miopia social de indiferenças e isolamento entre essas classes.

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Contemporaneamente verificamos essas digitais desiguais nos telejornais diários, a morte de um privilegiado traz sua historicidadede uma perspectiva do que poderia ainda realizar. Mas, quando o marginalizado segregado é abatido, ele não tem direito à historicidade e vira manchete como estatística. A transformação da miséria em crime é um dos atributos perversos de nossas elites.

O novo mundo conjecturado por Darcy Ribeiro baseia-se nas matrizes raciais – portuguesa, negra e indígena - que são as gêneses do brasileiro, num conflito entre o novo e o velho.

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Novo, pois nasce da miscigenação de confluências uterinas desassociadas culturalmente de suas raízes. O caráter do púbere carrega a outra face da mesma moeda, um povo que é concomitantemente “novo” e “velho”.

Etnia genuinamente nacional, mas que localizada na formação do Brasil no processo de crescimento dos “impérios mercantis”, originando “brasilíndio”, “mamelucos” (europeus e índios),“curibocas” (negros com índios), “mulatos” (negros com brancos)separados socialmente dos invasores, donos usufrutuários do escravagismo,consequentemente, classe dominante.

A propagada cordialidade e passividade diverge com os descaminhos encontrados de resistência e extermínio, guerra entre portugueses e índios, guerra entre colonos e jesuítas, guerra entre lusitanos e caboclos, guerra entre negros fugidos e senhores de escravos, guerra entre pobres e fazendeiros, guerra entre privilegiados e bastardos.

Empobrecido, vitima de um processo de desculturação, o Brasil é europeu camponês, africano tribal e indígena comunitário. Dentre nossas especificidades nos colocamos na ante-sala da modernidade, mas insistentemente impedidos de adentrar, na busca frenética de afirmação, somos uma nova civilização querendo nascer.

O povo brasileiro é o enigma decifrado para compreendermos nossas mais profundas raízes, uma provocante e inquietante indagação “Por que o Brasil não deu certo?”.

Dizia Darcy: “O Brasil tem uma classe dominante ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa ir pra frente!”

Talvez essa seja a grande resposta que o livro “O Povo Brasileiro” responde.

Afinal, somente Darcy Ribeiro poderia responder.

Viva o povo Brasileiro!

Viva Darcy Ribeiro!

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