E Se a Esquerda Marchasse Unida para as Eleições de 2018? Uma Reflexão sobre o Futuro Pós-2018

As utopias são importantes, pois nos permitem considerar ideias e ideais que podem servir como guia para nos ajudar na construção do presente. Não é pouca coisa. Mas é uma utopia que só depende de nós mortais para a sua concretização

As utopias são importantes, pois nos permitem considerar ideias e ideais que podem servir como guia para nos ajudar na construção do presente. Não é pouca coisa. Mas é uma utopia que só depende de nós mortais para a sua concretização
As utopias são importantes, pois nos permitem considerar ideias e ideais que podem servir como guia para nos ajudar na construção do presente. Não é pouca coisa. Mas é uma utopia que só depende de nós mortais para a sua concretização (Foto: Rafael Cedro)


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E se os partidos de esquerda e centro-esquerda decidissem marchar juntos, com uma estratégia robusta e concertada, não apenas visando o processo eleitoral de 2018, mas também a governabilidade do projeto de país que resultaria daí?

Deixemos de lado, por um minuto, para fins de reflexão, as paixões por partido A, ou partido B, e consideremos um cenário hipotético, pensando-se uma frente de esquerda/centro-esquerda mais ampla. As utopias são importantes, pois nos permitem considerar ideias e ideais que podem servir como guia para nos ajudar na construção do presente.

Estamos, no Brasil, em uma encruzilhada, com o processo eleitoral de 2018. E, do desfecho dele, dependerá o caráter da democracia que vermos no Brasil; e, mais do que isso, o futuro da própria democracia em si no nosso país.

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Consideremos, portanto a seguinte hipótese:

1. Chapa presidencial com Ciro Gomes para presidente e um petista respeitável na vice;

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2. Guilherme Boulos como um candidato-novidade apoiado pelas esquerdas concorrendo para o cargo de governador do estado de São Paulo;

3. Manuela D´Ávila em uma composição no Rio Grande do Sul para o governo do estado (seja como cabeça de chapa ou como vice, em chapa com algum outro progressista histórico); ou disputando uma vaga ao Senado pelo seu estado, mas com uma perspectiva concreta de ser nomeada ministra – para algum setor relevante – na gestão progressista das esquerdas no governo federal;

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4. Falemos sobre o tigre na sala: e a candidatura presidencial de Lula? Imaginemos, dentro do exercício de consideração hipotética aqui pretendido (imaginemos com carinho, para fins de reflexão): uma candidatura do ex-presidente Lula para uma outra posição também de Presidente: a de Presidente da Câmara dos Deputados. Até o presente momento, não se viu nenhum debate no campo das esquerdas a respeito desta hipótese. Mas, analisando-se objetivamente, seria uma opção com muito, mas muito, potencial.

O cenário acima é hipotético. Mas, analisemos conjuntamente as premissas dele:

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a. Alguém tem dúvida de que o PSB (que até o momento está em voo solo) se juntaria à frente de esquerda unificada?

b. Alguém tem dúvida de que as campanhas aos governos estaduais do campo progressista por praticamente todo o território nacional ficariam extremamente fortalecidas, tendo (sempre que possível) o apoio de toda a “Frente” ao candidato progressista com maior viabilidade eleitoral? Alguém tem dúvida de que o número de governadores eleitos por essa frente seria bem expressivo? Por exemplo: com um apoio conjunto aos candidatos de PT, PSB, PCdoB que estão concorrendo à reeleição; o PDT, em função de estar na cabeça de chapa na eleição presidencial, assumindo uma posição secundária nas chapas a governador, mas fortalecendo a sua presença no Congresso (via eleições à Câmara e Senado); um apoio robusto da “Frente” de esquerda a uma candidatura de composição encabeçada pelo PSOL em estados emblemáticos como Rio de Janeiro (com Freixo e um nome forte do PT) e São Paulo (com Boulos e algum outro notável do campo progressista); respeitando-se aí, obviamente, as particularidades como a do estado de São Paulo, onde o PSB provavelmente manteria também a sua candidatura paralela, em separado, em função de o partido estar atualmente com um governador incumbente concorrendo à reeleição; e, assim como neste caso de São Paulo, tratando-se as situações de conflito como exceção (em que se permitiriam dois candidatos); mas, como regra geral, sempre que possível fazendo chapas fortes da esquerda/centro-esquerda, por todo o País.

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c. Alguém tem dúvida de que, com estas eleições de 2018 contando com cargos para governador + vice-governador + duas vagas de Senado + suplências daria para fazer boas composições entre os partidos do campo progressista para essas eleições estaduais?

d. Alguém tem dúvida de que tais composições, se de fato materializadas, alavancariam os votos dos eleitores que votassem para essas chapas de governos estaduais para votarem também em parlamentares (candidatos a deputados e senadores do campo progressista) associados a essas chapas?

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e. Alguém tem duvida de que assim fica mais fácil para um candidato a presidente progressista pedir à população que vote em parlamentares do campo progressista? Diferentemente de uma chapa como foi, por exemplo, a chapa Dilma-Temer, que acabou elegendo o Congresso mais conservador das últimas décadas; ou como seria uma chapa Ciro com algum nome para vice tirado da cartola do “Centrão”, como se vem especulando por aí na grande mídia agora que a direita está vendo que essas eleições não estão assim tão asseguradas para eles, etc.

f. Alguém tem dúvida de que, com essa base que se construiria nos estados (com diversos governadores eleitos integrando o campo progressista) e no parlamento, o novo governo progressista no âmbito federal que assumiria pós-2018 teria uma condição de governabilidade substantivamente melhorada, mais concreta?

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g. Novamente, sobre o tigre na sala: e porquê Lula à Câmara dos Deputados. Primeiro, que ele concorreria à Câmara pelo estado de São Paulo, que é o maior da federação, contando com o maior número de assentos no Congresso Nacional (70 vagas de deputado federal). Se um Tiririca pôde puxar um número grande de deputados para o seu partido com a votação que ele teve, imaginem o potencial de um Lula, avaliado como o melhor presidente da história, candidatando-se pelo PT, que, apesar de tudo, é ainda o partido líder disparado na preferência popular? Adicionalmente, a candidatura Lula à Câmara dos Deputados, diferentemente da à Presidência da República, seria praticamente sem risco – pensando-se aqui não do ponto de vista estritamente eleitoral, mas sob o prisma mais amplo da construção de uma base sólida para a esquerda/centro-esquerda governar o País. Pois, Lula sendo eleito e conseguindo assumir (sem ocorrer um bloqueio judicial), ele poderia se tornar naturalmente o Presidente da Câmara dos Deputados, posição de destaque compatível com o status de um ex-presidente, impedindo-se também com isso a repetição da ascensão de um novo Eduardo Cunha com suas pautas bomba contra um governo progressista. Vale destacar também que esta é a posição-chave para se evitar novas tentativas arbitrarias de impeachment do(a) novo(a) presidente da república que será eleito(a) – como ocorreu com Dilma, que foi afastada sob frágeis argumentações que não demonstraram “crime de responsabilidade” efetivo da então mandatária democraticamente eleita. Mais ainda, com Lula concorrendo à Câmara (e, por que não, alguns outros pesos pesados também do partido fazendo o mesmo, como Dilma e/ou Patrus em Minas Gerais, e assim por diante) o PT poderia assegurar oficialmente a posição de maior partido da Câmara dos Deputados. E mais, mesmo no caso extremo de uma eventual proibição judicial de que Lula possa levar a sua candidatura até o fim (no caso, a sua candidatura à Câmara), ainda assim, o partido poderia seguir com a campanha pedindo votos em homenagem ao Lula, pedindo aos eleitores para votarem 13 (número da legenda), catapultando da mesma forma a eleição de parlamentares da legenda que comporão a nova base progressista no Congresso Nacional (e elegendo, pela prerrogativa de ter a maior bancada, o próximo presidente da Câmara, quem faz as pautas da “Casa”). Além de tudo isso, haveria uma outra externalidade positiva maior, que seria de que se destravaria o imbróglio da possibilidade de formação de uma chapa unificada incluindo todos os partidos da esquerda e centro-esquerda: que é o temor principal do atual campo conservador no poder e das “novidades” à direita (como Bolsonaro, etc).

Seguindo-se com a análise:

h. Alguém tem dúvida de que um arranjo como esse amarraria de uma forma concreta a candidatura Ciro (contando com um vice petista e solida base de apoio do campo progressista) a uma agenda realmente transformadora, visando justiça econômica e social efetivas – um pouco diferente, talvez, do que seria se o PT empurrasse o Ciro para o colo do “Centrão” por ausência de composição mais à esquerda?

i. Associado ao ponto acima, cumpre destacar que uma base programática progressista já há, à medida que PT, PCdoB, PSB, PDT e Psol já deram o pontapé na construção de uma plataforma conjunta de pontos mínimos para um governo pós-2018.

Temos que tomar cuidado, portanto, com as recentes tentativas – na visão deste autor, superficiais (ou seja, que carecem de uma avaliação mais detida/cuidadosa) – de taxar Ciro como sendo de “direita”, “fora do campo progressista”, etc e tal; discurso esse que começou a pipoca dentro do campo da esquerda depois da desistência de Joaquim Barbosa da disputa eleitoral. Contra esses argumentos (é dizer, a quem vem pensando assim), sugere-se apenas uma coisa: assistam às centenas de palestras e debates que Ciro tem feito em universidades, sindicatos, associações, etc. Estão todas no YouTube. A minha conclusão, como analista, é (e eu recomendo que cada um tire a sua própria, de modo não superficial): há uma enorme coerência do que ele fala em termos de propostas para o País, e uma nítida e objetiva afinidade do projeto nacional de desenvolvimento que ele apresenta com o campo das ideias progressistas. Obviamente, temos que ter em mente que qualquer candidatura de uma “Frente” não vai executar todo o programa de governo que cada um dos partidos que a compõem, caso fossem eleitos individualmente, executaria. Esta é justamente a natureza de uma frente ou coalizão. Mas, neste momento de necessidade gritante de retomada de uma trajetória de desenvolvimento efetivo, soberano e com equidade e justiça social, há uma clara proposta colocada, que se alinha com um consenso mínimo necessário entre os partidos de esquerda e centro-esquerda (vide, por exemplo, declarações recentes de Manuela D’Ávila e Flávio Dino em prol de uma frente única incluindo o PDT), a qual um Ciro – assim como qualquer outro dos candidatos do campo progressista – claramente está apto a liderar. Resta perguntar: qual é o arranjo que nos permite reunir todas essas forças políticas do campo progressista em um único projeto?

Chegando perto do fim do argumento, uma estratégia auxiliar que apoiaria bastante o cenário nesta hipótese aqui levantada seria, não apenas PT, mas todos os demais partidos que comporiam a “Frente” única de esquerda/centro-esquerda, colocarem seus “pesos pesados” (ex-governadores, ex-ministros, etc) para concorrer (não apenas ao Senado e governos dos estados, mas) também à Câmara dos Deputados. Pois, isso daria não só a capacidade de se barrar qualquer tentativa não-fundamentada, não-democrática, de impeachment; como conferiria uma solida base parlamentar para aprovar projetos progressistas importantes (como, para citar apenas um exemplo, a “taxação do andar de cima”, via impostos sobre heranças e sobre lucros e dividendos, alinhando a pratica brasileira neste campo à experiência internacional, que é bem mais progressista do a que temos aqui no País) e/ou ter os votos mínimos para poder convocar plebiscitos para a população ajudar a decidir sobre o futuro do País naqueles temas em que o campo conservador tente bloquear no Congresso os avanços em direção a um país mais justo.

Por último, um ponto delicado (mas necessariamente importante de ser discutido/refletido):

j. Alguém tem dúvida de que, com uma eventual eleição de Lula à Presidência da República (digamos, numa hipótese em que todos os impedimentos judiciais concretos hoje postos fossem vencidos), há um risco real de “Venezuelização” da política brasileira? No sentido de gerar um recrudescimento de uma oposição cada vez mais violenta (orquestrada pela mídia, judiciário e partidos de direita, etc, visando não penas restringir as margens de manobra do novo governo eleito para a promoção de mudanças, mas pura e simplesmente de tentar impedir que o governo aconteça?

Todos esses elementos devem ser pensados com muita ponderação. A responsabilidade das esquerdas é enorme. Para além de uma discussão sobre quem será (ou quem serão) a(s) força(s) hegemônica(s) no campo das esquerdas, a pergunta-chave é: que país queremos efetivamente construir? E, estamos construindo o caminho mais objetivo e com as condições de governabilidade necessárias para que esse ideal de país seja materializado?

Este artigo não visa “decidir as coisas”, mas trazer elementos para a reflexão.

Que Brasil estamos efetivamente construindo? Esta é a responsabilidade de Lula, Ciro, Manuela, Boulos, etc... e a história, por suas decisões neste momento crítico, os irá cobrar.

E a pergunta que faço é: “Será que não é mesmo possível, desde já, construir uma frente única, eleitoralmente muito robusta, calcada em um programa comum e claro para a retomada do desenvolvimento com justiça social, que não fique dependendo de decisões judiciais para se viabilizar, e que assegure para além de 2018 a governabilidade necessária sem precisar forçar conciliações contraditórias com a agenda da direita ou do rentismo financeiro (como precisou ocorrer sob Lula e sob o segundo governo Dilma, o que em última instância resultou em um impeachment)”? Não é pouca coisa. Mas é uma utopia que só depende de nós mortais para a sua concretização.   

 

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