O tamanho do Estado e a política por trás da despolitização da política

Precisamos de mais e não de menos democracia. Não é democrático que o projeto político derrotado nas urnas esteja governando a sociedade, muito menos que o pacto social desenhado pela Constituição de 1988 esteja sendo rasgado em nome dos interesses dos mais ricos

Pal�cio do Congresso Nacional
Pal�cio do Congresso Nacional (Foto: David Soares de Souza)


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O Estado não é uma instância separada da sociedade. Nos debates mais cotidianos, estamos acostumados a estabelecer uma fronteira: cá estamos nós, o povo, e lá está ele, o Estado. Mas, estamos falando de uma arena privilegiada de disputas de concepções, de construção de consensos ou de exercício da hegemonia, com capacidade de regular nossas ações. No Brasil, o Estado que surge com a Independência é fruto de um em acordo com os colonizadores, sem participação popular.

No livro "Formação Econômica do Brasil", o paraibano Celso Furtado diz que, apenas no ciclo do café, o poder central teve força política para sufocar levantes separatistas de Norte a Sul. Ou seja, não havia um sentimento de país. A Proclamação da República não foi muito diferente. Outro paraibano, Aristides Lobo, citado por José Murilo de Carvalho no livro "Os bestializados – o Rio de Janeiro e a República que não foi", disse que o povo acreditava que a derrubada da Monarquia era apenas uma parada militar.

O discurso hegemônico no país diz que o Estado no Brasil é muito grande e isto seria a origem de muitos de nossos males, entre eles a corrupção. No entanto, não faltam casos em nossa história, a exemplo da queima do café em Santos (SP), em 1929, na qual o Estado socorreu a elite econômica em um modelo de ganhos concentrados entre os ricos e perdas socializadas com toda sociedade. É por isso que, para a maioria do povo o Estado é muito pequeno. Qualquer pessoa do povo dirá facilmente que precisamos de mais e melhores serviços de educação, saúde, segurança pública, habitação popular, etc., ou seja, mais Estado.

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Desde a extração do Pau-Brasil, passando pelo ciclo do açúcar, da borracha, das minas, do café, até a atual política da Petrobrás de vender petróleo cru e comprar refinado, verificamos uma constante: a inserção de nosso território de maneira subordinada e extremamente dependente na economia mundial. Graças a isto, temos duas outras variáveis constantes: a desigualdade social e a falta de democracia.

Somos o país dos pactos pelo alto e que naturaliza a pobreza. Diferente do que supunha o sentimento desenvolvimentista, não havia um Brasil atrasado atrapalhando o crescimento de um Brasil moderno. Ao contrário, o Brasil moderno utilizou-se do Brasil atrasado e, é por isso, que a classe dominante brasileira nunca formulou um projeto de país. O complexo de vira latas é só a faceta mais caricatural de uma elite que ganha dinheiro sendo subalterna lá fora e aumentando a exploração de nosso próprio povo aqui dentro. A retirada de direitos que eles chamam de reformas é o novo capítulo desta tradição nacional.

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No documentário "Requiem for the american dream", Noam Chomsky, um dos mais respeitados intelectuais de nosso século, afirma que estamos em um novo momento de concentração de riquezas e poder. A democracia se tornou um empecilho aos interesses dos mais ricos.

Há uma forte pressão pela desnacionalização de setores da economia, como a exploração de recursos naturais, a agenda do Executivo é pautada pelo capital financeiro, o Legislativo torna-se um elemento de desestabilização e o Judicário passa atuar politicamente.

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Aliás, é por isso que, se antes nós conhecíamos a escalação da seleção brasileira e não conhecíamos nenhum dos ministros do STF, hoje acontece exatamente o contrário, o que indica a excessiva participação do Judiciário na vida política do país. O pano de fundo é o combate à corrupção, discurso que não é novo em nossa história. Já foi usado pelos tenentistas e abusado pela UDN na década de 1950. Nivelar o debate político neste ponto é antessala para saídas autoritárias. Você votaria em político honesto, mas, que defendesse a volta da escravidão ou o fim do voto feminino? Importa debatermos os projetos para a sociedade. Precisamos de mais e não de menos democracia. Não é democrático que o projeto político derrotado nas urnas esteja governando a sociedade, muito menos que o pacto social desenhado pela Constituição de 1988 esteja sendo rasgado em nome dos interesses dos mais ricos.

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