Querido presidente Lula...

"Pessoalmente, tenho a certeza de que começa uma virada na atitude da própria elite brasileira, com impacto no Judiciário, que percebe que só há uma solução para a crise socioeconômica (além de política e institucional) em que nosso País está afundando e que ficou evidenciada, de forma ainda mais dramática, com a greve (ou lockout, pouco importa!) dos caminhoneiros", escreve o ex-chanceler Celso Amorim a ex-presidente Lula 

Lula e Celso Amorim
Lula e Celso Amorim (Foto: Celso Amorim)


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Querido Presidente Lula,

no momento em que escrevo esta mensagem (madrugada do dia 20), estamos todos comemorando a absolvição pelo STF da nossa amiga e companheira Gleisi, que tem sido uma incansável defensora de sua liberdade e da sua candidatura.

Pessoalmente, tenho a certeza de que começa uma virada na atitude da própria elite brasileira, com impacto no Judiciário, que percebe que só há uma solução para a crise socioeconômica (além de política e institucional) em que nosso País está afundando e que ficou evidenciada, de forma ainda mais dramática, com a greve (ou lockout, pouco importa!) dos caminhoneiros.

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Além de matar um pouco (um pouco apenas) a saudade, esta "carta" tem o objetivo de contar sobre a viagem que fiz a Paris, entre os dias 12 e 15 de junho. A razão principal da viagem foi ajudar a esclarecer aos nossos amigos na França sobre a situação política no Brasil e as circunstâncias que cercam a sua absurda e injusta prisão. Já havia feito algo parecido em Bruxelas, a convite de integrantes do Parlamento Europeu, há cerca de um mês.

Desta vez, tive a oportunidade de falar em duas instituições importantes, na Casa da América Latina, dirigida por um ex-embaixador no Brasil, e no Instituto de Relações Internacionais e Estratégia (IRIS, na sigla em francês). Em ambos os casos, falei para salas cheias e espectadores muito qualificados e preocupados com você e com o Brasil.

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Tive também encontros com alguns ex-ministros e outras personalidades influentes, como a senadora (comunista) Laurence Cohen e com o nosso velho conhecido e amigo (apesar de eventuais divergências específicas) Pascal Lamy, que continua muito ativo como presidente de comissões na França e na Europa.

A Laurence está planejando a visita do Comitê que ela preside e me disse que na ocasião pretende ir a Curitiba (quem sabe não seja mais preciso?). Estive com dois ex-chanceleres, o Hubert Védrine, da época do Jospin, e o Dominique de Villepin, da época do Chirac, que se destacou principalmente na condenação da invasão do Iraque pelos EUA, em 2003.

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Em todos esses encontros, mas especialmente com Villepin, pude constatar que, além da solidariedade a você e à democracia brasileira, os espíritos mais lúcidos na França têm uma preocupação real com o esvaziamento da posição do Brasil no cenário internacional.

Todos lamentam que o nosso País tenha praticamente desaparecido de cena em um momento crítico em que a ordem mundial se vê diante de enormes desafios, desde o drama político e humano dos refugiados até as atitudes belicosas de Trump, sobretudo com o Irã (embora deva dizer, de minha parte, que, apesar da teatralidade, vi méritos indiscutíveis na aproximação com a Coreia do Norte).

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Muitos percebem também a falta que você faz na América Latina, onde a confrontação tem tomado o lugar do diálogo e a integração tem sido abandonada em benefício de uma agenda neoliberal na economia e conservadora (quando não abertamente fascista) na política e nos temas sociais.

Como outros, Villepin, por exemplo, entende plenamente que somente o retorno a uma democracia real, com um governo legitimado pelo apoio popular, trará de volta ao Brasil o papel que teve sob sua condução e inspiração. Esses líderes sentem falta de uma voz firme e desassombrada (ativa e altiva, diria eu) que costumávamos ter na defesa de um mundo mais justo e mais pacífico. Todos entendem também, querido Presidente Lula, que isso só ocorrerá com a sua libertação e com o seu direito de candidatar-se.

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Esses encontros me permitiram também esclarecer as dúvidas que ainda pudessem pairar sobre os processos movidos contra você. Na verdade, isso é importante porque, como me foi dito por uma eurodeputada da Esquerda alemã, para muitos europeus – mesmo aqueles que reconhecem o seu papel histórico na defesa dos mais pobres e na afirmação da posição do Brasil no mundo – é difícil compreender que a Justiça possa ser tão pouco imparcial.

Para isso, o trabalho de juristas e o ativismo de pessoas como a Carol Proner, presente em alguns das minhas atividades, tem sido de grande importância. Creio que, nesse sentido, a viagem foi também útil, pois é necessário, como você mesmo tem dito, não apenas exigir o "Lula Livre", mas também proclamar o "Lula Inocente", tanto no Brasil quanto lá fora.

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No mais, muita saudade, que espero possa matar em breve de forma pessoal, e de preferência no Ipiranga ou em São Bernardo.

Forte abraço do amigo, que teve a suprema honra de ser seu colaborador em um aspecto vital de um projeto de Brasil próspero, justo e soberano,

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Celso

 

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