Existe algo de bom na Lei da Nacionalidade?

As minorias não judias de Israel sempre foram tratadas como cidadãos de segunda categoria, nenhuma novidade. Qualquer cidadão que não seja judeu se sente desconfortável cantando um hino nacional que fala da nossa esperança, como judeus, de termos concretizado o retorno para Israel depois da diáspora, por exemplo

Existe algo de bom na Lei da Nacionalidade?
Existe algo de bom na Lei da Nacionalidade? (Foto: Reuters)


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Muita coisa tem sido escrita sobre a aprovação pelo parlamento de Israel da Lei do Direito Nacional. A maioria delas em relação as suas consequências para as minorias israelenses, especialmente a Árabe e a Drusa.

A lei em si, nada mais é do que colocar no papel o que, de uma certa forma, já vem acontecendo na prática nos últimos anos, especialmente nos governos de direita em geral, e neste de extrema direita em particular.

Onde todos veem um desastre nacional com a aplicação da lei que passou com apenas um voto, 61 em um parlamento de 120, eu vejo uma luz no fim do túnel, e explico.

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Até agora, as minorias não judias de Israel sempre foram tratadas como cidadãos de segunda categoria, nenhuma novidade. Qualquer cidadão que não seja judeu se sente desconfortável cantando um hino nacional que fala da nossa esperança, como judeus, de termos concretizado o retorno para Israel depois da diáspora, por exemplo. Não é um hino que exalta o país, e/ou o seu povo. É um hino judaico para ser entoado por judeus.

Percentualmente, por mais incrível que possa parecer, a comunidade Drusa serve mais ao exército de Israel do que a população judaica. Isso porque os religiosos não precisam se alistar. Os árabes, por sua vez, estão isentos do serviço militar.

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O Hebraico é a verdadeira língua oficial, mas podemos ver o árabe em praticamente todas as placas de trânsito e documentos oficiais. Agora, não existe mais esta "obrigação", mas não acredito que aconteça nada drástico em relação a isso.

Então, porque meu otimismo. Bem, quem vive aqui tem visto, desde a aprovação da lei, um verdadeiro sentimento de indignação que passa por toda a oposição ao governo, e especialmente pelos membros das minorias atingidas que agora, e somente agora, se deram conta que são cidadãos de segunda categoria. Muitos inclusive, apoiadores de partidos da coalizão. Em uma entrevista, um líder Druso foi categórico: eu não me sinto mais israelense, a partir de agora vocês querem dizer que só somos iguais na morte (se referindo aos túmulos dos soldados Drusos em relação aos Judaicos), porque em vida nos declararam cidadãos do tipo "B". Um parlamentar árabe entregou o mandato.

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Finalmente as pessoas estão se dando conta da realidade do país. E esta realidade vem com muita incoerência e com muitos questionamentos do que seja verdadeiramente o israelense. Como explicar para um Druso que um religioso judeu, parasita do estado, tem mais direitos do que ele. Como explicar que este parasita, recém chegado para viver as custas do estado, tem mais direitos do que ele, Druso aqui nascido e que teve um familiar morto defendendo o Estado de Israel em uma guerra.

Estas dicotomias, agora estão aflorando e será preciso muita força de vontade para discutir tudo isso a luz do momento que vivemos. Não podemos esquecer que os partidos religiosos sempre estiveram no poder, e com os seus votos e suas exigências, exercem um poder muito superior a sua verdadeira representação na sociedade. Graças a este poder, Israel não possui transporte público aos sábados e maioria do comércio é obrigada a fechar as portas, assim como fábricas e indústrias.

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Eu acredito que seja compreensível que somos aqui um país judaico. Diferentemente dos países cristãos, nossa semana vai de domingo a quinta-feira em dias úteis, e nossos feriados caem nas datas festivas judaicas. Nada de mais em relação a isso.

O que ninguém queria falar e agora será obrigado a tomar partido, é qual o tipo de sociedade desejamos ser. Uma sociedade de Apartheid, como conhecemos da África do Sul, ou uma sociedade democrática onde todos os cidadãos tem os mesmos direitos e deveres. No momento somos todos iguais, apenas uns mais iguais do que os outros.

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Diversas manifestações estão sendo marcadas. Muitos encontros estão sendo agendados para discutir a Lei. Até mesmo a suprema corte está sendo acionada. Num país sem uma constituição é isso o que acontece.

Eu vejo um momento histórico. Se as minorias progressistas se unirem agora em uma Frente Ampla contra o Fascismo, existe uma chance de mudança. O governo Nethanyau tem sido competente em arrumar brigas com todas elas. Cada minoria por si, não tem a força necessária para ameaçar o governo, todas elas juntas sim. A grande dúvida é se estas minorias serão capazes de colocar suas diferenças e suas agendas em um segundo plano a fim de unirem forças no que é comum a elas: a necessidade de mudar este governo e revogar esta lei.

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Os próximos dias darão esta resposta, ou ainda será preciso humilhar mais ainda a nossa sociedade para que ela se desperte unida.

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