O Brasil que foi à Copa também vai às urnas

O Brasil que foi à Copa quer morar no exterior, por isso, é o retrato perfeito de uma elite que não tem projeto de país. Ter um projeto de país significa, em alguma medida, redução de desigualdades, mas, o Brasil que foi à Copa quer ganhar dinheiro e vê a redução das desigualdades como diminuição de seus lucros

O Brasil que foi à Copa também vai às urnas
O Brasil que foi à Copa também vai às urnas (Foto: REUTERS/Darren Staples)


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O Brasil que foi à Copa do Mundo na Rússia desmitificou uma ideia que fazíamos de nós mesmos. Em nosso imaginário estão ou estavam os versos de Assis Valente, cantados pelos Novos Baianos, que ressaltam uma gente bronzeada que quer mostrar seu valor. Ou um país que é lindo e trigueiro, que ginga e que samba, a terra de Nosso Senhor.

O Brasil que foi à Copa do Mundo se parece com a França, negros apenas dentro de campo, fato que ainda mais gritante quando lembramos que aqui os negros são a maioria da população. Quem é que pode passar um mês no exterior para acompanhar partidas de futebol? Bem, entre os brasileiros que puderam viajar para a Rússia, destacaram-se aqueles que cercaram uma mulher que não conhecia o idioma português, a assediaram com palavras referentes à cor de seu órgão genital e ainda colocaram o material na internet, comprovando que este tipo de brasileiro não se preocupa muito com as consequências legais de seus costumes.

A informalidade brasileira sempre autoelogiada deu lugar a relatos de comportamentos inconvenientes, barrulhentos, invasivos de uma gente pouco bronzeada que bateu panelas e dançou com coreografias nas ruas para construir este país que temos agora. Talvez ainda não saibam que esta foi a primeira Copa na qual não se viu nas nossas ruas o mesmo entusiasmo das Copas anteriores.

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Enquanto alguns torcedores, empresários e profissionais liberais, explicavam que nestas Copa teríamos canções para valorizar o papel de nossa torcida durante os jogos da seleção, uma Comissão na Câmara dos Deputado aprovou a liberação de agrotóxicos que colocam em risco a saúde do povo brasileiro. Também durante a Copa, um adolescente foi morto por um tiro disparado durante uma operação policial, no complexo da Maré, no Rio de Janeiro, cuja segurança pública está sob intervenção das Forças Armadas. O adolescente se chamava Marcos Vinícius da Silva, estava fardado com a roupa da escola e se o Brasil que foi à Copa não quer saber quem matou Marielle Franco, também não se indignou com a morte de Marcos Vinícius, nem mesmo uma hastag.

E se a greve dos caminhoneiros já é lembrança de um passado distante, os preços altos do etanol, gasolina, diesel e gás de cozinha é uma realidade bem presente castigando diretamente a parcela do povo que vive de salário. Aliás, o Ministério do Planejamento reduziu a estiva de crescimento de 2,5% para 1,6% e a estimativa de inflação subiu de 3,4% para 4,2% em dados divuldados no último dia 20 de julho. O neoliberalismo sem votos vem aplicando como quer sua receita há dois anos e o único recorde que bateu foi o desemprego.

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O Brasil que foi à Copa quer morar no exterior, por isso, é o retrato perfeito de uma elite que não tem projeto de país. Ter um projeto de país signifca, em alguma medida, redução de desigualdades, mas, o Brasil que foi à Copa quer ganhar dinheiro e vê a redução das desigualdades como diminuição de seus lucros. Seu único projeto é flexibilizar, privatizar, aumentar as margens de lucro aqui dentro e entregar tudo o que for possível ao capital estrangeiro.

Ao outro Brasil restou ver a Copa pela TV com jogos comentados por um eleitor de Aécio Neves (PSDB). Pior que isso, está há dois anos vendo seus direitos retirados em nome de uma "modernização" que visa nos transformar em uma grande fazenda exportadora de minerais e produtos agrícolas, sob as bençãos de um consórcio formado pelas grandes empresas de comunicação e setores do aparato estatal, sobretudo no Judiciário e Ministério Público.

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Matéria assinada por Mario Magalhães, em março deste ano, no The Intercept Brasil, mostra que a resistência ao nome do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), candidato da extrema direita, está entre os mais pobres. Por outro lado, no último dia 19 de julho, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, afirmou que o empresariado não teme a eventual eleição do ex-capitão do Exército. Tudo continua sendo uma questão de classe, de classe social.

Estamos de volta à mais antiga tradição brasileira: forças antipopulares e antinacionais dirigindo as instituições do Estado para aplicar um projeto político que não passou pela escolha das urnas. Todo e qualquer projeto que vá em sentido contrário, defendendo os interesses dos mais pobres e a soberania nacional, sofrerá oposição e veto desta nosssa antiga tradição. Se haverá eleições livres ou não, é apenas um detalhe, afinal, já tivemos um noite que durou 21 anos. Por isso, o título deste texto poderia ser uma pergunta, o Brasil que foi à Copa também vai às urnas?

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Na ausência da Guerra Fria parece ser o Judiciário o elemento bonarpartista a fazer o papel que antes foi do Exército. Antes, assim como agora, as grandes empresas de comunicação se encarregam de buscar a "legitimidade". Com o mercado dobrando a aposta no candidato do PSDB, parece que sim, teremos eleições. Isto explica porque, mesmo sem provas, é possível prender o maior líder político do país, mesmo que para isso um juiz de primeira instância interrompa suas férias e passe por cima de decisões superiores. O país só voltará a sorrir e esquentar seus pandeiros quando aquele Brasil que foi à Copa levar um cartão vermelho, a começar pelas urnas, mas, também depois delas.

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