Livrai-nos dos venenos

Os trabalhadores rurais estão sofrendo de uma epidemia por intoxicação e nada está sendo feito. Dos lavradores, os impostos são rigorosamente cobrados, mas quando a doença aparece, a maioria é deixada à própria sorte. A farra dos agrotóxicos também é um ataque ao meio ambiente

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Nas mãos de um governo ilegítimo e de um Congresso Nacional sem escrúpulos, o Brasil está sendo desconstruído numa escalada de retrocessos, de subtração de direitos e da soberania.

Precisamos, com urgência, retomar o processo democrático e impedir a destruição das conquistas sociais, econômicas, culturais, ambientais e humanas que alcançamos com os governos populares. Precisamos avançar e não retroceder.

Como mulher, mãe, cozinheira profissional e militante da cultura, estou cada vez mais preocupada com o quadro de descontrole que se alastrou para todos os setores da vida nacional.

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No caso da segurança alimentar estamos vivendo uma situação alarmante. Nossa comida vem sendo sistematicamente envenenada pelo uso indiscriminado de agrotóxicos. Em vez de dar um basta neste problema, o Congresso Nacional pode autorizar o uso de mais pesticidas nas lavouras por meio do Projeto de Lei 6299/02.

Uma decisão do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, concedeu na última sexta-feira, 3, tutela antecipada para que seja suspensa em 30 dias o registro de todos os agrotóxicos à base do agrotóxico mais utilizado na agricultura brasileira, especialmente nas lavouras de soja, o glicosato, provável cancerígeno. Além do Tiram, já proibido nos EUA, que é mutagênico e desregulador endócrino, e da Abamectina, altamente tóxica no contato direto, além de ser suspeita de toxicidade reprodutiva. Esses são os fatores que impedem o registro destes venenos pelas leis atuais.

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Esta decisão vale até que a Anvisa finalize as reavaliações destas substâncias, que se arrastam desde 2008. Em seu parecer a juíza Luciana Raquel Tolentino de Moura afirma que "a Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem conhecimento sobre a potencialidade da lesão ao ambiente dos ingredientes ativos".

Esta foi uma vitória conquistada devido às grandes mobilizações que estão sendo feitas para sensibilizar à sociedade da importância da união dos homens da cidade e do campo no combate as tentativas de colocarem mais veneno em nossa alimentação.

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O Brasil já é o maior consumidor de agrotóxicos, muitos deles banidos da Europa e Estados Unidos por serem mortais, alguns são usados em doses até seis vezes acima do indicativo pelos próprios fabricantes. Estamos sendo envenenados e ainda pagamos por isso. Você sabia que os fabricantes de agrotóxicos recebem incentivo do governo? Eles têm isenção de PIS/CONFINS e de IPI, além de desconto de até 60% no ICMS. É isso mesmo. Envenenam a nossa comida e, como prêmio, ficam livres dos impostos.

Um relatório da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) mostra que pelo menos 70% dos alimentos in natura consumidos no país são contaminados por agrotóxicos. Entre eles, 28% apresentaram venenos não autorizados. Já a Sociedade Brasileira para o progresso da Ciência (SBPC) alerta que entre 2000 e 2012, houve um aumento de 288% no uso de pesticidas no Brasil.

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Outro dado escandaloso: segundo o Ministério da Saúde entre 2007/2015, houve 84.206 notificações de intoxicação por agrotóxico.

Os trabalhadores rurais estão sofrendo de uma epidemia por intoxicação e nada está sendo feito. Eles são vítimas de câncer, de diversas doenças degenerativas, de suicídio, e seus filhos estão nascendo com má-formação fetal. Dos lavradores, os impostos são rigorosamente cobrados, mas quando a doença aparece, a maioria é deixada à própria sorte.

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A farra dos agrotóxicos também é um ataque ao meio ambiente. A contaminação da água, por exemplo, vai às raias do absurdo. A legislação brasileira estabelece um limite de 5.000 vezes superior ao máximo aceitável na água potável da Europa. Vejam como as multinacionais e nossos próprios governantes nos tratam como cidadãos de segunda classe.

Em minha jornada como empreendedora da área de alimentação há mais de 40 anos, nunca vi uma situação tão preocupante. A segurança alimentar das nossas famílias está seriamente prejudicada. A saúde dos trabalhadores do campo está sob ataque permanente e o equilíbrio ambiental vem sendo brutalmente negligenciado.

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Em todo o mundo, cientistas, ambientalistas e políticos comprometidos com o bem comum reconhecem que é preciso deter o avanço dos agrotóxicos e investir na agroecologia, na produção de alimentos orgânicos e em processos agrícolas ambientalmente equilibrados.

O Brasil detém vastas extensões de terras agricultáveis, clima favorável e grande oferta de mão de obra. Somos o país ideal para realizar a verdadeira revolução agrícola do século 21. Podemos ser um exemplo para o mundo produzindo grandes quantidades de alimentos saudáveis, preservando o meio ambiente e, ainda, oferecendo qualidade de vida para os trabalhadores do campo e das cidades. Podemos ser uma potência mundial em agricultura orgânica e sustentável. É questão de escolha. Precisamos decidir sobre a transição agroecológica que precisamos implementar já.

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Temas como esse, que afetam diretamente a vida de todos os brasileiros e brasileiras, precisam ser debatidos com muita atenção daqui até as eleições de outubro. Essa é a grande oportunidade que temos de eleger pessoas realmente comprometidas com a vida, com o bem-estar da população e como o futuro de nosso país.

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