Precisamos falar (a sério) sobre Jair Bolsonaro
O brasileiro é profundamente mal-educado. E é analfabeto político. Mas, como mostrou uma pesquisa Datafolha, o eleitor possível do Bolsonaro tem ensino superior. É letrado. Tem capacidade intelectual. Mas é um boçal que acredita no "perigo comunista". Este cara precisa ser reeducado
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É irônico que algumas pessoas, que julgo muito inteligentes e cultas inclusive, falando para "não postar e nem compartilhar conteúdos" sobre Jair Bolsonaro em redes sociais como Facebook e Twitter.
O argumento central é que Bolsonaro, assim como Donald Trump, se beneficia da propaganda indireta. "Polêmico", ele desperta pensamentos fascistas que supostamente estão por toda sociedade. Eu não poderia discordar mais sobre este assunto. Uma reportagem da BBC questionou o próprio Facebook sobre a vitória do republicano nos EUA. A conclusão não é única, mas é fato que a criação de Mark Zuckerberg teve um papel de marketing importante com o dono da Trump Tower, junto com sites de notícias falsas e distorcidas como o ultradireitista Breitbart. A vitória inesperada dele levou a rede social a adotar pequenas reformas para punir páginas com informações inverídicas, ainda sem grandes mudanças reais.
Trump não se elegeu só porque falavam dele e nem por causa das piadas ruins na internet. Ele se elegeu porque Hillary Clinton era uma má candidata. Despreparada, envolvida diretamente na crise militar da Síria e muito vinculada ao ex-marido, Hillary não teve o mesmo brilho de Barack Obama em duas eleições. E ela também perdeu porque o americano médio é bem pouco progressista. É uma sociedade conservadora. São uns reacionários, por muitas vezes, e machistas.
Isso porque Hillary Clinton não é algo que não lembra remotamente a esquerda. É centro-direita no máximo, feminista e pró-direitos individuais.
Mas vamos ao nosso país.
O Brasil também é conservador e lambeu bota de presidente ditador militar. Mas precisamos sim falar de Bolsonaro quando ele se torna candidato a presidente. Precisamos falar dele, dos torturados da ditadura militar, dos retrocessos econômicos da ditadura militar, do Ernesto Geisel, do Castello Branco, do Costa e Silva e até do Figueiredo. Precisamos falar da corrupção que nasceu do José Sarney, já gestada pela Odebrecht entre os generais, e se alastrou com FHC e chegou a Lula. Precisamos falar do atraso que é o Estado brasileiro, por mais que tenham existido alguns presidentes brilhantes.
Precisamos falar de ditadura, da política real e da economia.
Porque o eleitor do Bolsonaro não sabe disso.
E precisamos realmente colocar as teses destes fascistas contra a parede. Precisamos mostrar que defender tortura é crime. Precisamos exemplificar como a sociedade brasileira é abjetamente desigual.
Deixar o Bolsonaro no canto dele é abortar esta discussão. É deixar ele ampliar os grupos ignorantes e ter chances efetivas de ganhar eleições. Foi desta forma que ele conseguiu espaço suficiente para discursar absurdos preconceituosos na Hebraica do Rio de Janeiro. "Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles", disse o deputado abertamente.
O brasileiro é profundamente mal-educado. E é analfabeto político. Mas, como mostrou uma pesquisa Datafolha, o eleitor possível do Bolsonaro tem ensino superior. É letrado. Tem capacidade intelectual.
Mas é um boçal que acredita no "perigo comunista".
Este cara precisa ser reeducado.
Por isso, e por muitos motivos, temos que falar sobre Bolsonaro sim.
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