A decisão de Jean Wyllys e o ataque à nossa liberdade

A desistência de Jean Wyllys de cumprir seu terceiro mandato consecutivo como deputado federal é mais uma grave denúncia da restrição democrática em vigor no nosso país desde 2016. Com um Estado ausente e determinado a eliminar o contraditório a qualquer custo, Jean faz bem ao agir para manter-se vivo

A decisão de Jean Wyllys e o ataque à nossa liberdade
A decisão de Jean Wyllys e o ataque à nossa liberdade (Foto: Michel Jesus - Câmara)


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A desistência de Jean Wyllys de cumprir seu terceiro mandato consecutivo como deputado federal é mais uma grave denúncia da restrição democrática em vigor no nosso país desde 2016.

Representante da comunidade LGBTI e defensor dos direitos humanos, dos homens, das mulheres, dos negros, indígenas e dos trabalhadores, Jean anunciou que não tomará posse para a legislatura 2019-2023, em função de ameaças de morte que ele e sua família têm recebido.

Sem respaldo do Estado para representar seu povo, o parlamentar se torna o primeiro político no exercício do mandato a se exilar no exterior depois do golpe militar iniciado em 1964.

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Como observou a advogada chilena Antonia Urrejola Noguera, relatora especial do Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), o Brasil não foi capaz de garantir condições básicas para que Jean pudesse exercer suas funções. Incapacidade essa que decorre da fragilidade da nossa democracia e da falência do estado democrático de direito.

Em novembro do ano passado, a Comissão Interamericana decretou medida cautelar para que o Estado tomasse medidas para a proteção de Jean, que vivia numa espécie de cárcere privado, com seguranças e escolta armada. O governo, no entanto, foi negligente e não agiu em defesa de um cidadão brasileiro em perigo.

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Assim como falhou com Marielle Franco, vereadora do mesmo partido de Jean Wyllys, brutalmente assassinada em março do ano passado, no Rio de Janeiro. O crime ainda não foi esclarecido.

Tive o privilégio de trabalhar ao lado de Jean no Congresso Nacional. Jornalista e professor universitário, ele sempre se destacou pela inteligência, coerência, comunicação fácil e atuação comprometida com as causas que defende e com o povo que o elegeu.

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Jean foi importante, em 2018, para que aprovássemos, na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, o projeto de lei 7.441/10, que obriga o poder público a indenizar dependentes de vítimas de violência sexual ou doméstica, quando a morte da vítima for resultado de omissão ou negligência do poder público.

É um apaixonado pela cultura e um grande aliado na defesa dos direitos das mulheres, com atuação destacada nas comissões de Cultura e de Combate à Violência contra Mulher e contribuições importantes na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, a qual tive a honra de presidir em 2018, e na Comissão Especial que analisou a PEC (proposta de emenda à Constituição) 181/2015, medida que altera a licença-maternidade em caso de partos prematuros.

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Além disso, é autor de projetos de lei importantes como o PL 2.669/2011, que estabelece diretrizes para o tratamento de doenças raras no Sistema Único de Saúde (SUS); 11.169/2018, que cria o Dossiê Mulher Brasileira, para orientar a participação do poder público na elaboração de estatísticas periódicas sobre as mulheres atendidas pelas políticas públicas do governo federal; e o projeto de lei 11.168/2018, que institui a Campanha Permanente de Conscientização e Enfrentamento ao Assédio e Violência Sexual contra as Mulheres nos transportes públicos. Os dois últimos textos foram apresentados por Marielle Franco, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

O Estado do Rio de Janeiro e o Brasil perdem um grande parlamentar, legítimo representante de uma parcela da sociedade marginalizada e duramente perseguida. É um duro ataque à liberdade, um dos nossos mais caros princípios constitucionais. Uma vitória da intolerância, do ódio e da ignorância, que têm sido potencializados por notícias falsas e declarações irresponsáveis e inconsequentes que alimentam a patrulha ideológica e estimulam a ação de seguidores insanos.

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Embora lamente o impacto negativo de sua saída no equilíbrio de forças e na representatividade popular no Congresso Nacional, entendo Jean e me solidarizo com ele nesse momento difícil.

Com um Estado ausente e determinado a eliminar o contraditório a qualquer custo, Jean faz bem ao agir para manter-se vivo. A roda da história gira e novos tempos virão. Como disse o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica ao parlamentar, "os mártires não são heróis", e os grandes guerreiros sabem a hora certa de bater em retirada, esperar e se preparar para a próxima batalha.

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Receba minha solidariedade e meu abraço fraterno, companheiro querido. Até breve!

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