Bolsonaro era remédio errado. Não leram a bula

"Com a atuação desastrosa que teve durante o carnaval, Bolsonaro deixou claro que a situação é pior do que se pensa. Depois da divulgação do vídeo pornô e das agressões virtuais adversários, a confiança na sua triste figura à frente dos destinos do País chegou a zero. O impeachment passou a fazer parte da agenda da oposição e deve ganhar corpo no Congresso. Ideal que venha junto a proposta de uma nova eleição direta", diz o colunista Gilvandro Filho, da rede de Jornalistas pela Democracia

Bolsonaro era remédio errado. Não leram a bula
Bolsonaro era remédio errado. Não leram a bula (Foto: Marcos Corrêa/PR)


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O (des) governo de Jair Bolsonaro dá sinais de fim com menos de dois meses de existência. Não há algo parecido em nosso País, de um presidente ser eleito e não conseguir reunir em torno de si um mínimo de consenso. Não se tem notícia de um chefe de governo ser tão trapalhão e arregimentar uma equipe tão parva e descompensada. Do mesmo modo, não há outra gestão, até agora, tão inconsequente, incoerente e inconfiável como a que temos hoje. Mesmo com tão pouco tempo de vida, a era Bolsonaro, como cantava um velho samba, existe mas pede para se acabar.

No atual governo, o erro é de origem. Ele foi concebido em cima de bases falas e de fakenews. A campanha que levou essa turma ao poder foi construída, mentira sobre mentira, iludindo o eleitor. Os "kits gays" e as "mamadeiras de piroca" não apenas despolitizaram a corrida presidencial, como a tornaram suspeita. No plano mais perigoso, as ameaças feitas pelo próprio candidato lá de sua hibernação (ver a seguir) justificariam, por si, a cassação da sua candidatura. Bolsonaro ameaçou atirar em adversários, petistas em particular. O desempenho dos seus cabos eleitorais e adeptos, nas ruas, colocaram em risco a segurança física de quem não voltava nele.

O episódio da "facada" foi o divisor de águas da campanha bolsonarista. Não se sabe até agora o que de fato aconteceu, a que nível ele foi realmente ferido, se o que houve foi, de fato, um atentado. Sabe-se apenas que o autor, Adélio Bispo de Oliveira, saiu ileso e sem um arranhão do evento, mesmo com a multidão de bolsonaristas e de uma forte tropa de seguranças, muitos deles oriundos dos quadros da Polícia Federal. Essa estranha "imunidade" já é, por si, um motivo de desconfiança sobre o que realmente aconteceu em Juiz de Fora. Mas, com isto, o candidato "hibernou" e fez quase um mês de campanha sem aparecer. Saiu de cena o candidato, que faltou a debates e ao confronto de ideias; entrou o marketing, com aparições pontuais, gravadas, ameaçadoras, populistas.

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Dispensável lembrar que toda a campanha e o crescimento do nome de Bolsonaro só foi possível por causa das consequências da Operação Lava Jato sobre o PT e sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Favorito disparado para vencer no primeiro turno, Lula foi alijado do processo eleitoral pelos membros do Judiciário envolvidos no caso, com destaque para o juiz de primeira instância Sérgio Moro, algoz do ex-presidente e responsável direto por sua prisão, nas vésperas da campanha. Como se sabe, Moro, com a vitória de Bolsonaro, foi promovido a ministro da Justiça.

Eleito e empossado, Bolsonaro passou a protagonizar uma série de fatos negativos que lhe minaram a governabilidade. Evolveu-se em escândalos, ele, os filhos dele e os auxiliares dele. Nesse particular, filho não se escolhe, mas é grande a responsabilidade do presidente pelas patacoadas dos três, já que tudo advém da própria educação que deu aos garotos, que têm certeza de que mandam em tudo no País. Parlamentares no Senado, na Câmara dos Deputados e na Câmara Municipal do RJ, Flávio, Eduardo e Carlos são exemplos vivos de como se misturar o público e o privado, e se dar muito mal por causa disso.

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De escolha do presidente, aí sim, o desastroso ministério que ele formou responde pelo desmoronamento da imagem do Brasil lá fora. Afinal, não se escolhe ministros como Damares Alves, Ricardo Veléz Rodrigues, Ricardo Salles, Marcelo Álvaro Antônio, Onyx Lorenzoni ou Ernesto Araújo e fica tudo por isso mesmo. Todos contribuíram fortemente ao apodrecimento precoce do governo. Seja no envolvimento em processos e escândalos, seja no próprio escândalo de serem ministros, figuras tão bizarras. Há um preço a se pagar por se compor um gabinete tão inacreditável. E Bolsonaro vai pagar. No momento, quem paga é o Brasil.

O Brasil se transformou, nesses dois meses e dez dias, no quintal dos Estados Unidos a quem vai se curvar, de forma literal, na próxima semana, quando Bolsonaro estiver lá com Dolnald Trump. A pauta, depois do beija-mão servil, será deixar bem amarrado o golpe contra a Venezuela e consolidar a entrega aos EUA da Base de Alcântara, no Maranhão. O pré-sal chegará lá, mais adiante.

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E no quesito "entregar o ouro", está o menos pitoresco e o mais perigoso do governo Bolsonaro. É a pasta gerida pelo ministro da Fazenda, o "Chicago Boy" Paulo Guedes. É o setor em que estão as ações mais danosas, que derrubam conquistas sociais e acontecem (ou tentam acontecer, pois nada aconteceu, de fato, até agora) as grandes tragédias para trabalhadores, aposentados e para o patrimônio nacional. Segundo o próprio Guedes disse em entrevista recente, por ele estaria "tudo vendido", pois foi essa a promessa de campanha e, segundo ele, nisso é que o eleitor apostou.

Mas, o pior do governo é mesmo o governante. Boquirroto, tosco, inconsequente, governando por twitter e soltando praticamente uma "pérola" por dia, Jair Messias Bolsonaro é a imagem fiel de um azarão que não esperava ser presidente, não se preparou minimamente para sê-lo e, eleito, não sabe o que fazer com o cargo que ganhou. É a figura clássica do macaco trancado numa loja de louças. Quebrar tudo e destruir o local é apenas uma questão de tempo.

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Com a atuação desastrosa que teve durante o carnaval, Bolsonaro deixou claro que a situação é pior do que se pensa. Depois da divulgação do vídeo pornô e das agressões virtuais adversários, a confiança na sua triste figura à frente dos destinos do País chegou a zero. O impeachment passou a fazer parte da agenda da oposição e deve ganhar corpo no Congresso. Ideal que venha junto a proposta de uma nova eleição direta.

Bolsonaro, na verdade não chegou a expirar o prazo de validade; é um remédio errado prescrito por médicos incompetentes e espertalhões. Um remédio que se comprou por engano, sem ler a bula. A saída, agora, é trocá-lo.

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