Com uma canetada, Bolsonaro joga a História no lixo

"Encerrar, com uma canetada, todo um trabalho que vinha sendo feito pelo Grupo de Trabalho Perus para identificar os corpos de vítimas da repressão política na ditadura militar, isto era mais que previsível. É a cara de Jair Messias Bolsonaro", avalia o jornalista Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia; "Em um de seus arroubos de insanidade, o atual presidente chegou a desdenhar das famílias dos desaparecidos e dos grupos que procuram, nas valas da vida, localizar vítimas da ditadura. E rosnou que 'procurar ossos é coisa de cachorro'. A cara de Bolsonaro, a começar pelo arreganho dos dentes", diz Gilvandro

Com uma canetada, Bolsonaro joga a História no lixo
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Por Gilvandro Filho, para o Jornalistas pela Democracia

Bolsonaro é Bolsonaro. E se o assunto, para falar dele, é o embate entre o regime de exceção versus democracia, ou da tortura versus direitos humanos, é melhor mesmo já ir se acostumando de vez: ele vai sempre estar do lado contrário da humanidade. Encerrar, com uma canetada, todo um trabalho que vinha sendo feito pelo Grupo de Trabalho Perus para identificar os corpos de vítimas da repressão política na ditadura militar, isto era mais que previsível. É a cara de Jair Messias Bolsonaro.

Ao longo de toda a sua vida pública, ele fez isso: defendeu a tortura contra os torturados, os assassinos do regime de força em vez das vítimas. Não à toa, ao proferir seu voto no golpe que apeou do poder a presidente Dilma Roussef – ato político de força travestido de evento democrático, por se dar no Congresso Nacional -, ele atirou na cara da Nação uma homenagem a um notório e reconhecido criminoso. Afinal, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, de triste memória, foi o único dos militares da ditadura a ser julgado e condenado como torturador.

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Sem coincidências, Ustra é o ídolo maior de Bolsonaro, dos filhos de Bolsonaro, dos aliados e seguidores de Bolsonaro. O hoje presidente já disse que o livro do malsinado coronel, "A Verdade Sufocada", é a sua obra literária de cabeceira. Não dá para esperar nada mais brando ou menos ofensivo à razão e ao bom senso que uma influência explosiva e insana feito essa.

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Ao longo da campanha, quando se referiu à ditadura militar de 1º de abril de 1964, Bolsonaro sempre usou e vezou de loas aos torturadores e condenações aos militantes políticos de esquerda. Mais propriamente aos desaparecidos políticos, sua linguagem sempre foi chula e os termos utilizados sempre ultrapassaram os limites da falta total de respeito e de educação.

Em um de seus arroubos de insanidade, o atual presidente chegou a desdenhar das famílias dos desaparecidos e dos grupos que procuram, nas valas da vida, localizar vítimas da ditadura. E rosnou que "procurar ossos é coisa de cachorro". A cara de Bolsonaro, a começar pelo arreganho dos dentes.

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A menção despropositada foi lembrada, nesta segunda-feira (22), neste espaço dos Jornalistas Pela Democracia, pela colega (para minha honra) Hildegard Angel, ela mesma de uma família que, por ter duas vítimas da ditadura (a mãe Zuzu Angel e o irmão Stuart Angel Jones), não merecia ser atingida de maneira tão vil por uma estupidez desse porte. Ainda mais, algo desferido por quem viria a ser o presidente da República, por mais estranho que esta qualificação se encaixa na figura em tela.

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Na mesma linha de tiro, estão 475 outras famílias de mortos e desaparecidos da ditadura que infestou o País entre 1964 e 1985. Como as famílias de Rubens Paiva e de Wladimir Herzog, de Honestino Guimarães e de Manoel Fiel Filho, de Soledad Barret Viedma e de Pauline Reichstul, dos pernambucanos Fernando Santa Cruz e Eduardo Collier Filho. Todas vítimas de um genocídio que, para Bolsonaro, não foi nada demais.

O trabalho de identificação de ossadas no cemitério de Perus, na zona oeste de São Paulo, é emblemático e histórico, pois foi a primeira ação desse tipo, em grande escala, e a primeira a encontrar restos mortais de vítimas da ditadura. O GT, agora desativado por Bolsonaro, já chegou a contabilizar 1.047 caixas com ossos dessas vítimas.

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O Grupo de Trabalho estava vinculado ao Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Com a eleição do novo presidente, a pasta foi entregue aos evangélicos e para comandá-la foi nomeada a pastora Damares Alves, cuja atuação tem gerado um repertório ímpar de folclore e curiosidades. A inacreditável ministra defende a submissão da mulher ao homem; a indumentária azul para varões e rosa para as damas; e jura que já viu Jesus Cristo em uma goiabeira.

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No lado mais sem graça da presença da ministra Damares Alves no governo está, justamente, o desmonte dos trabalhos de recuperação da memória política do Brasil e da reparação a quem sofreu nas mãos da ditadura. A cada solicitação de anistia aprovada por Damares, 33 são negadas. Isto, em relação a pedidos antigos, feitos até dezembro de 2018. Neste governo, a Comissão de Anistia ainda não se reuniu.

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