Se Bill de Blasio ofendeu todos os brasileiros, Olavo de Carvalho atingiu todos os militares

A pendenga entre Olavo e os militares dá uma boa dimensão do racha existente hoje no bolsonarismo, um balaio de gato no qual ninguém se entende e torna perigosamente vulnerável um governo que mal entra em seu quinto mês de vida, aponta o colunista Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia

Se Bill de Blasio ofendeu todos os brasileiros, Olavo de Carvalho atingiu todos os militares
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Por Gilvandro Filho, para Jornalistas pela Democracia Pela lógica do vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, o prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, ao “ofender” o presidente Jair Bolsonaro, “ofendeu” todo o povo brasileiro, democraticamente representado, segundo Mourão, pelo presidente. Por consequência, vale perguntar ao vice-presidente se ele e os generais que hoje compõem o governo sentem-se “representativamente atingidos” pelas ofensas lançadas pelo escritor, autoproclamado filósofo, astrólogo amador e guru do governo Olavo de Carvalho. A última vítima foi o general Carlos Alberto Santos Cruz, ministro da Secretaria Geral de Governo, que, para Olavo, não passa de uma “bosta engomada”.

O ataque de Olavo de Carvalho contra o general Santos Cruz repete, com maior ou menor poder de classificação escatológica, o que o “filósofo” já pensa e vem dizendo do próprio Mourão, nesses quatro meses de atarantado governo. Em todos esses outros ataques, nunca é tarde lembrar, a reação do presidente e dos filhos dele – os superpoderosos Flávio, Carlos e Eduardo – tem sido, invariavelmente, tomar partido do guru. A Mourão, pelo contrário, só tem sido dirigidas pauladas.

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A Olavo, inclusive, Bolsonaro está concedendo o mais alto grau da Ordem do Rio Branco, a Grã-Cruz, mesmo galardão que será condido ao ministro Sérgio Moro, da Justiça, e ao próprio Mourão. A mesma Ordem, mas em menor escala, está sendo concedida a dois dos filhos de Bolsonaro: o senador Flávio e o deputado federal Eduardo. O vereador carioca Carlucho não tem medalha, desta vez, mas vê seu poder político junto ao governo aumentar cada vez mais; ele é cotado para assumir o ministério das Comunicações, com base em sua experiência em redes sociais, a ponto de o presidente creditar ao filho favorito a sua própria vitória eleitoral.

A guerra deflagrada por Olavo de Carvalho aos militares é visceral e antiga. Mesmo na campanha, ele já batia pesado nos generais que gravitavam em torno do capitão candidato. O general Augusto Heleno, hoje ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), sempre foi um dos alvos prediletos do guru da Virgínia. Muito antes, porém, a artilharia contra os militares já era pesada. Em suas ruidosas aparições do Youtube, Olavo não poupava as Forças Armadas por não terem, durante a ditadura e depois dela, exterminado os comunistas e a ideologia marxista.

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“Coletaram informações durante 40 anos e não sabiam o que fazer. Essa milicada toda (...), esses generais e coronéis, eles foram incapazes de deter o comunismo no Brasil (...), apesar de eu ter ensinado o que precisavam fazer, desde o começo dos anos 90”, diz Olavo de Carvalho, em um vídeo de uma de suas aulas, datado de junho de 2018. No vídeo, Olavo diz que coletou “provas” da infiltração comunista (na universidade e na imprensa) e entregou aos militares. “E eles não faziam nada. Faziam notinha oficial que só a mãe do general lia”, fuzilou. Segundo ele, essas “difamações” contra os militares teriam culminado “na tal Comissão da Verdade”. O vídeo tem mais “elogios” aos militares  - “Vocês nasceram para levar cuspida na cara e não fazer nada...” ou “Eu tenho nojo de vocês (coronéis e generais do Clube Militar), hoje...” - e para vê-lo, na integra (4:18 minutos), o link é:

A pendenga entre Olavo e os militares dá uma boa dimensão do racha existente hoje no bolsonarismo, um balaio de gato no qual ninguém se entende e torna perigosamente vulnerável um governo que mal entra em seu quinto mês de vida.

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Apoie o projeto Jornalistas pela Democracia Agora, porque Jair Bolsonaro é o presidente do Brasil, que todos os brasileiros estejam se sentindo ofendidos pelas palavras do prefeito nova-iorquino, aí já vai um exagero quilométrico. Hoje, o percentual de brasileiros que não se sentem representados pelo atual presidente só faz crescer e cerca de 70 % não acreditam nele nem aprovam o seu governo. A pesquisa foi divulgada em abril pela Vox Populi.

Depois, o Governo Bolsonaro existe porque não se permitiu que houvesse o Governo Lula. Favorito absoluto para ganhar a eleição no primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alijado do processo após ser condenado e preso em um processo político. O mentor do seu afastamento é hoje ministro da Justiça.

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Dessa forma, não procede a argumentação de que, por “tabela democrática”, o povo brasileiro se sentiria atingido pelas palavras do Bill de Blasio. Palavras, por sinal, que exprimem o que a metade dos brasileiros pensam do seu presidente. 

 

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