O puritanismo progressista de auditório é inimigo da democracia

O editor e colunista do 247, Gustavo Conde, membro do Grupo Jornalistas Pela Democracia, afirma que as reações do segmento progressista diante da eleição no Congresso decepciona e serve de anteparo para o fortalecimento do bolsonarismo; para Conde, opta-se sempre pelo protocolo mais confortável de se colocar a culpa no outro, de preferência de um outro que esteja bem ao seu lado: os partidos de esquerda; Conde alerta: o início do ano legislativo vai devastar o bolsonarismo e seria bom que o segmento autointitulado progressista não atrapalhasse isso

O puritanismo progressista de auditório é inimigo da democracia
O puritanismo progressista de auditório é inimigo da democracia


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Botar a culpa nos outros continua sendo facílimo. Percebam a hipocrisia congênita de muitos de nós, que gostamos de nos apresentar como "esquerda".

Agora, a "culpa" (pela eleição de Maia) é do PCdoB, do PT e da "falta de união das esquerdas".

É difícil. Quem não tem clareza sobre o que é política, jamais conseguirá participar de um debate político real. Vai ficar só nas bordas, só nos simulacros.

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A rebote, vem também a nulidade interpretativa na "equação Mourão". Gente que vive por espasmos autopopulistas, 'espana' ao se deparar com análise de conjuntura.

Já saem dizendo que a esquerda está "flertando com Mourão", que "não se pode confiar em Mourão" etc.

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Minha Santa Misericórdia do bigode louro! Que leitura tacanha é essa? Quem está confiando em Mourão, cara-pálida?

Realmente, o derretimento da interpretação de texto não é exclusividade da direita.

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Quando observamos Mourão sabotando o governo Bolsonaro, apenas celebramos o cabaré pegando fogo, nada mais.

Ninguém celebra "Mourão", pelo amor de Deus! Valei-me, goiabeiras colombianas!

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"Ler" a situação assim é cometer o bom e velho suicídio político das "esquerdas" espasmódicas, falsas, carentes, inocentes, subservientes (sim, elas existem e foram elas que fizeram o serviço grátis para o golpe).

Uma esquerda que nega a política é um oxímoro, mas é também um vetor profundo de sabotagem.

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Desagrega, confunde, trunca, entrega os seus de bandeja.

É a mesma histeria do episódio "Marília Arraes". Veste-se um puritanismo marqueteiro e ávido por aprovação e likes, deixando-se a estratégia, o pragmatismo e a inteligência em quinto plano.

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São os suicidas que atravancam o caminho da política soberana - que tem defeitos e que é humana.

Fazem parte do pacote do caos político-cultural autodestrutivo que finca raízes no Brasil, escravizados com gosto pela mentalidade classista que lhes esmaga o juízo.

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O sistema ama essas personagens "porosas", que aguardam ansiosas para voltarem à cena criminalizando as próprias existências e o próprio futuro.

O bolsonarismo agradece, a Globo agradece, os fascistas agradecem, como sempre.

Sem Renan, sem Maia e sem Mourão, sabe o que sobra para vocês? Moro, Bolsonaro, milícias e Damares.

Sobra Ricardo Vélez Rodriguez, aquele que nos relegou a todos os brasileiros, de esquerda ou não, a mais profunda humilhação da nossa história, enxotando a nossa identidade ao banditismo mais escroto.

Não se faz política e nem se atua politicamente pensando com o fígado, as vísceras e o intestino grosso. Faz-se política com a posse mínima de uma soberania intelectual, de preferência assentada no legado que Lula nos deixou e deixa, de conciliação não subserviente.

Para estes, ninguém nunca será ideal para presidir Senado ou Câmara. Todos são canalhas. É a pistolagem tão similar à negação da política que grassa no bolsonarismo.

Neste momento estranho (eleição no Congresso), acreditem, todos ficaram furiosamente iguais.

A realidade, no entanto, ainda consegue ser mais forte que essa degradação da percepção política, nosso elemento clássico e sub-reptício de contenção da democracia - feito por nós mesmos com muito orgulho, obrigado.

A abertura dos trabalhos legislativos, com Renan, Maia, bancadas, pressões múltiplas reais, sociais, vai devastar o já devastado bolsonarismo, nosso maior e mais perigoso inimigo do momento.

Há de se definir prioridades no embate político (o custo de não se definir prioridades é a paralisia).

Com Mourão desenvolto, fritando a cabeça dos aliados incompetentes de Bolsonaro, toda a cena tende a ser extremamente tóxica para esse fascismo subdesenvolvido que se impregnou ao Brasil como uma peste.

Esse é o ponto a ser observado e potencializado. O resto é carência pseudo-política dos coadjuvantes de sempre.

Querer que Mourão protagonize o momento não é apoiar Mourão, criaturas de Deus. É ser delinquente e se deliciar com a areia movediça de lama tóxica que consome essa casta de imbecis.

O mesmo vale para a Globo. Ninguém torce para a Globo ou acha que ela é "boazinha" em querer fustigar os milicianos bolsonaristas.

Nós queremos é ver o circo pegar fogo. Nós queremos assistir a destruição desses elementos seculares de poder pusilânime e assassino que putrefazem a soberania brasileira desde sempre, com sua mutações e mascaramentos.

A política mesquinha, do toma-lá-dá-cá, a política chantagista, a política subserviente, dos tucanos, emedebistas e congêneres vai implodir o bolsonarismo por dentro.

Queiram dar-se minimamente por satisfeitos por isso - para depois querer mais, obviamente.

Nós não vamos recobrar a democracia em um passe de mágica. Nós teremos que encarar processos, gradações, transições.

Salvacionismo é a língua podre do bolsonarismo.

Eu achei que a esquerda que critica a esquerda já tinha entendido isso.

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