As chances de Dilma com o eleitor mineiro

 Dilma, na corrida ao Senado, pode ter de repetir as eleições presidenciais de 2010, quando se fechou à discussão de pautas históricas das mulheres e outras minorias, para se blindar da onda antiaborto levantada pelo concorrente José Serra (PSDB)

As chances de Dilma com o eleitor mineiro
As chances de Dilma com o eleitor mineiro (Foto: Lula Marques/ Agência PT)


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A presidenta Dilma Rousseff (PT) oficializou, nesta última quinta-feira (28), sua pré- candidatura ao Senado por Minas Gerais, retornando à política do estado onde nasceu, após décadas de carreira no Rio Grande do Sul e quase quinze anos em Brasília, como ministra e presidenta da República. O retorno de Dilma às eleições, em Minas Gerais, após o golpe de Estado de 2016, traz à agora candidata a senadora uma cena diferente daquela que enfrentou no âmbito nacional.

Números importantes, divulgados nessa semana por diferentes institutos de pesquisas, dão o tom do que deve ser a campanha de Dilma Rousseff ao Senado Federal. Os entusiastas petistas que acreditam ser sua trajetória tranquila, dada a pulverização do campo aecista desde o escândalo da JBS, negligenciam a capacidade de reaglutinação do voto reacionário em Minas Gerais. Este, assim como em todo o país, não tem preferência nominal por um candidato, mas opta por aquele que lhe parece a melhor opção para derrotar o PT.

Tal perspectiva mostra-se evidente na mais recente pesquisa sobre intenções de voto para o Senado em Minas, registrada pelo DataPoder 360. Nela, aparece o ex-prefeito de Juiz de Fora Bruno Siqueira (MDB) empatado tecnicamente com Dilma, ambos com 13%, seguidos por Aécio Neves (PSDB) com 12%. Isso mostra o quanto é inconstante a preferência do eleitorado antipetista. Havendo ainda a desistência de Bruno, Aécio, ou de ambos para a ascensão de um novo nome da direita, a tendência é essas intenções de votos se agregarem.

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O conservadorismo mineiro, que ao mesmo tempo é fiador e carrasco de políticos de perspectiva social e nacionalista no curso da história, tem características específicas, diferentes do coronelismo do Norte e Nordeste e da convicção liberal de São Paulo e do Sul. Em Minas Gerais, o eleitorado flutua entre o nacionalismo, a sensibilidade social e a moral religiosa, sendo Minas, dentre os estados mais importantes da federação, aquele em que a moral católica mais se faz presente no dia a dia dos cidadãos. A despeito do Estado laico, isso implica três questões que têm suas contradições, porém são fundamentais: o valor dado à tradição e respeito aos símbolos, à cultura e a soberania nacional; o entendimento de que o Governo deve fazer a opção preferencial pelos mais pobres; a rejeição a políticas progressistas para inclusão de cidadãs e cidadãos LGBT, descriminalização do aborto, legalização de drogas.

Não obstante, pesquisa recente divulgada pelo jornal "O Tempo", em parceria com o Grupo Mercadológica, revelou que seis em cada 10 mineiras e mineiros consideram o abordo um crime, e um impressionante número de 85% das cidadãs e cidadãos entrevistados acredita não ser um direito da mulher interromper a gravidez por não querer ser mãe. Entre as mulheres, o número é maior: 90% de rejeição ao aborto pelo desejo da mulher.

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Em contraposição a esta situação, Dilma enfrenta uma conjuntura em que mineiras e mineiros estão desesperados com o aumento do desemprego, que, entre 2014 e 2018, praticamente dobrou, passando 7,1% da força de trabalho para 12,6%, o que totaliza 1,4 milhão de trabalhadoras e trabalhadores desempregados e um aumento preciso de 77%.

Os números são do IBGE e impactam tanto a desaprovação do Governo Temer em Minas, que está em 92%, quanto a rejeição às medidas neoliberais. O ex-presidente Lula, segundo o Instituto Paraná, lidera as intenções de voto no estado com 27%, mais que o dobro de Marina Silva, 11%, a única que aparece acima dos 10%. A exceção é Jair Bolsonaro, que, com 23%, mas sem propostas claras e de arcabouço ideológico inconstante e que oscila entre o nacionalismo e a privataria, o punitivismo e o fisiologismo político, representa o mesmo "não-voto" antipetista que Bruno Siqueira.

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O fato é que, a julgar pelo cenário apontado por esses números, o fracasso dos candidatos neoliberais indica a polarização antipetista no campo moral, seja pela etérea bandeira da "anticorrupção", seja na oposição a avanços nos direitos das mulheres e de homossexuais, capitaneada pelos setores mais conservadores da Igreja Católica e das denominações protestantes e neopentecostais. E a coalizão contra o golpe e pela volta do estado de bem-estar social trava sua luta no campo econômico e nacionalista, seja pela volta do emprego e geração de renda, seja pela interrupção da entrega do patrimônio público nacional. Não à toa, ao não dar respostas satisfatórias a este último anseio do eleitorado mineiro, Aécio Neves foi rifado em seu próprio berço eleitoral na disputa pelo Planalto em 2014.

Nisso, Dilma, na corrida ao Senado, pode ter de repetir as eleições presidenciais de 2010, quando se fechou à discussão de pautas históricas das mulheres e outras minorias, para se blindar da onda antiaborto levantada pelo concorrente José Serra (PSDB). Entretanto, se isto ocorrer agora, diferentemente de oito anos atrás, será num momento em que, de fato, o debate da situação política e econômica prevalece e transforma o pleito ao Senado num símbolo da luta contra o golpe, da defesa do legado do Governo deposto e da liberdade e candidatura do ex-presidente Lula, no estado que é o segundo maior colégio eleitoral do país e foi o fiel da balança em 2014. A pauta em defesa das minorias, porém, certamente estará em sua agenda de oito anos na Alta Câmara do Congresso Nacional, caso seja eleita.

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