O que podemos aprender com a greve dos caminhoneiros

O desmonte trabalhista pautado e aprovado no governo Temer tem um objetivo claro que é reduzir o poder da regulação pública do trabalho. Em outras palavras o que a reforma trabalhista fez foi retirar do jogo o Estado e os sindicatos e deixar o trabalhador abandonado à própria sorte na definição de suas condições de trabalho

trabalho
trabalho (Foto: Ivone Silva)


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O desmonte trabalhista pautado e aprovado no governo Temer tem um objetivo claro que é reduzir o poder da regulação pública do trabalho. Em outras palavras o que a reforma trabalhista fez foi retirar do jogo o Estado e os sindicatos e deixar o trabalhador abandonado à própria sorte na definição de suas condições de trabalho. Os defensores do desmonte parecem imaginar que um funcionário de banco, por exemplo, é capaz de sentar a mesa de negociação com o Itaú ou com o Bradesco em igualdade de força e condições.

A reforma trabalhista ataca todas as etapas da relação de trabalho, do início ao fim. Começa pelas formas de contratação, legalizando práticas absurdas como o autônomo exclusivo e contínuo, a terceirização na atividade fim das empresas e o "bico" que agora foi legalizado sob o nome de trabalho intermitente. Depois fragiliza as regras de jornada de trabalho, de remuneração e de saúde e condições de trabalho. Passa também pelo rompimento da relação de trabalho, facilitando as demissões em massa, retirando a necessidade de homologação da rescisão nos sindicatos abrindo caminho para o não pagamento de verbas rescisórias e o trabalhador não tem direito a seguro desemprego. Por fim, a reforma ataca o momento posterior ao desligamento, esvaziando completamente o papel da justiça do trabalho e fazendo com que o trabalhador fique praticamente impedido de reivindicar direitos não pagos pelas empresas.

Em recente artigo Vitor Filgueiras e José Dari Krein destacam como as empresas de transporte geram sua força de trabalho: "a contratação de motoristas sem a admissão do vínculo de emprego tem a mesma lógica: é uma estratégia de gestão do trabalho. É comum motoristas supostamente autônomos (muitas vezes contratados como pessoas jurídicas) trabalharem sempre para a mesma empresa e com exclusividade, em horário e com preços de frete unilateralmente impostos pela contratante. O pagamento desses motoristas depende exclusivamente do número de fretes realizados, e seu trabalho é meticulosamente monitorado por satélite/GPS. As empresas também dirigem as atividades impondo prazos exíguos e multas para atrasos. Em suma, há uma série de evidências da completa falta de autonomia desses "autônomos"."

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Os autores apontam que com essa forma de gestão as empresas não precisam pagar nenhum direito trabalhista (férias, 13º salário, FGTS, multa rescisória, etc) e ainda transferem para o trabalhador o custo dos insumos como combustível, pneus, manutenção do veículo. E aqui está o xis da questão. Os autônomos passam a operar numa lógica de luta individual e, ao não se perceberem como trabalhadores assalariados passam a enxergar nos custos dos insumos seu principal problema e não na sua remuneração defasada. Daí o fato de que a principal reivindicação da greve dos caminhoneiros tenhas sido a redução do preço dos combustíveis através da redução de impostos, pauta que muitas vezes se confunde com a própria pauta dos empresários. O preço dos combustíveis é pauta importante e deve ser debatida por meio da política equivocada de preços da Petrobrás que a partir do governo Temer passou a seguir as variações internacionais gerando enorme volatilidade. Não é com redução de impostos ou com retirada de recursos do orçamento público que tal problema será resolvido.

Outro exemplo com grande impacto nos últimos anos são os motoristas do Uber. A lógica é a mesma. Os motoristas devem seguir padrões de conduta definidos pelo Uber, o carro deve estar dentro de especificações definidas pelo Uber, o preço das corridas é definido pelo Uber, o Uber impõe avaliação do trabalho dos motoristas e pode até retira-los do cadastro em caso de avaliações negativas. Ainda assim esses motoristas não são empregados do Uber. São trabalhadores autônomos sem direitos trabalhistas e responsáveis por todos os custos de insumos.

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A reforma trabalhista, aliada à crise econômica e às novas tecnologias poupadoras de mão de obra, abrem a possibilidade para que essa lógica do trabalho não regulado se espalhe para outros setores da economia e um aspecto pouco analisado desse processo é justamente o enfraquecimento da luta coletiva dos trabalhadores por maior distribuição de renda, através da valorização dos salários. Portanto, esse é um momento importante para ressaltar a luta pela democracia e a eleição de candidatos comprometidos com os trabalhadores. Essencial também valorizar as entidades de classe que têm um papel fundamental na organização da classe trabalhadora na luta por uma sociedade justa e democrática e a ampliação dos direitos individuais e coletivos.

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