As codornas do jornalismo estão de volta

"Todos dão gargalhadas no momento em que Bozo anuncia que fazia xixi na cama, até os 5 anos de idade. Pura empatia com essa figura lamentável que já postou no Twitter homens fazendo golden shower e que, em 100 dias, transformou o Brasil em um vexame internacional permanente. Nem uma única pergunta sobre desgoverno, assassinato de Marielle, milícias, Queiroz, fuzis e vizinhos pistoleiros. Só risadas, platitudes e enrolação", diz o colunista Leandro Fortes, da rede de Jornalistas pela Democracia

As codornas do jornalismo estão de volta
As codornas do jornalismo estão de volta (Foto: Marcos Corrêa/PR)


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Nos governos Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, era muito comum um tipo de assédio a parlamentares no Congresso Nacional levado a cabo por uma turma de alegres repórteres – homens e mulheres – que saltitavam em torno de deputados e senadores quando estes circulavam pelos salões Verde e Azul do parlamento.

Tratava-se de uma bajulação grotesca, um tipo de pantomima que incluía afetadas saraivadas de elogios ridículos ("líder, seu discurso foi simplesmente maravilhoso") e falsas observações estéticas ("senador, vem cá para eu arrumar essa gravata"), ao mesmo tempo em que se criava em torno dos bajulados uma ciranda de puxa-sacos ciscando na porta dos plenários.

Davam gargalhadas de qualquer piada, achavam qualquer bobagem vindas de nulidades um sinal de prestígio. Às vezes, ganhavam uma migalha de informação, noutras, a chance de jantar no Piantella por conta do jornal. Era, ainda é, um exercício espúrio de sobrevivência profissional. Um retrato ao mesmo tempo triste e revelador do tipo de cobertura política que floresceu em Brasília, depois da redemocratização do País, no final dos anos 1980.

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Eu gostava de chamar essas pessoas de "codornas". Elas ainda existem, em grande quantidade. As mais velhas podem ser vistas fazendo a mesma coisa, nas redes sociais.

Os governos do PT, por razões diversas, modificaram essas relações, mas não pela vontade dos repórteres. Desde o início do primeiro governo Lula, saíram de cena as alegres codornas para dar lugar a cães de guarda treinados para arrancar, diuturnamente, notas, matérias e declarações que servissem para minar a narrativa popular emanada do Palácio do Planalto. Subitamente, tudo que era normal à rotina da política passou a ser escandaloso, maléfico, pútrido.

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O golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff reascendeu a chama dessa turma, embora sem o mesmo vigor e, porque não dizer, o mesmo charme. Os 13 anos de governos petistas criaram uma solução de continuidade na transmissão geracional dessa bajulação pré-PT. Mas, então, veio aquele inesquecível Roda Viva, direto do Palácio da Alvorada, com Michel Temer.

Todo mundo lembra, por isso nem preciso me estender: repórteres do Estadão, TV Cultura, Folha e Globo protagonizaram uma das entrevistas coletivas mais servis, desonestas e patéticas do jornalismo brasileiro.

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As codornas estavam de volta.

Agora, vejo essa foto de um desses cafés da manhã de Bolsonaro com jornalistas pomposamente apresentados como "chefes de redação e colunistas de jornais e emissoras de televisão de todo o país", no qual a estrela do evento foi Luciana Gimenez – esse poço de bom senso e sabedoria que dispensa apresentações.

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No instantâneo, todos dão gargalhadas no momento em que Bozo anuncia que fazia xixi na cama, até os 5 anos de idade. Pura empatia com essa figura lamentável que já postou no Twitter homens fazendo golden shower e que, em 100 dias, transformou o Brasil em um vexame internacional permanente.

Nem uma única pergunta sobre desgoverno, assassinato de Marielle, milícias, Queiroz, fuzis e vizinhos pistoleiros. Só risadas, platitudes e enrolação.

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E como riram, as codornas.

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