O samba e a piada universitária

Cesar Menotti deveria ouvir o conselho contido na música "Moleque atrevido", que o mestre Jorge Aragão assim escreveu: "Por isso vê lá onde pisa. Respeite a camisa que a gente suou. E quando chegar no terreiro, procure primeiro saber quem eu sou"

Cesar Menotti deveria ouvir o conselho contido na música "Moleque atrevido", que o mestre Jorge Aragão assim escreveu: "Por isso vê lá onde pisa. Respeite a camisa que a gente suou. E quando chegar no terreiro, procure primeiro saber quem eu sou"
Cesar Menotti deveria ouvir o conselho contido na música "Moleque atrevido", que o mestre Jorge Aragão assim escreveu: "Por isso vê lá onde pisa. Respeite a camisa que a gente suou. E quando chegar no terreiro, procure primeiro saber quem eu sou" (Foto: Nêggo Tom)


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Ontem no "Altas Horas", o cantor Cesar Menotti, da dupla Cesar Menotti e Fabiano, resolveu contar uma piada no palco da atração. A estória anedótica se passava num presídio, onde a dupla teria sido convidada para se apresentar. A piada original pertence ao falecido Dicró, que costumava contá-la em programas de TV e também em seus shows, mas, a dupla quis dar o seu toque pessoal ao conto e errou a mão. Errou feio. Errou rude. Não teve graça.

Ao adaptar à piada, uma citação autoral - portanto, baseado na sua visão pessoal do que possa ser engraçado - que sugere que o Samba é música de bandido, Cesar Menotti provou desconhecer o tamanho e a importância cultural do gênero musical com o qual resolveu tirar uma onda. Vale lembrar, que o programa não é ao vivo, e que essa lambança sertaneja poderia ter sido editada, evitando que tamanho mico e desrespeito fosse ao ar. E ainda contando com a gargalhada de aprovação, do apresentador e de seus convidados. Entre eles Pedro Bial.

Como já disse, a adaptação de uma piada, geralmente expressa um pensamento pessoal do "humorista", usando da ironia para criticar algo que ele não gosta ou não aprecia com bons olhos. A turma do politicamente incorreto já deve estar gritando, defendendo a liberdade de expressão e o direito de falar bobagens, sem precisar arcar com as consequências disso. Mas, não é bem assim. Um artista de tamanha popularidade, deveria ter noção do tamanho da repercussão de suas falas e posicionamentos. Mesmo quando faz, ou imagina estar fazendo, uma simples brincadeira.

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Em tempos de lutas contra todo tipo de preconceito e por inclusão social de todas as chamadas "minorias", brincadeiras como essa destoam do contexto. O Samba já sofreu muito preconceito no Brasil. Músicos do gênero eram tido como marginais e desocupados, alguns eram presos por vadiagem, as rádios não tocavam o gênero e foi graças ao trabalho de muita gente séria e talentosa, que o Samba hoje é reconhecidamente patrimônio cultural do país. Talvez Cesar Menotti não tenha conhecimento musical o suficiente, para entender o que o Samba representa para a nossa cultura.

O Samba nunca foi apenas uma modinha comercial, feita para entreter filhos de bacana, embriagados por "gela" importada e Ciroc, em seus camarotes vips dentro um clube seletivo qualquer. O Samba sempre foi resistência, atitude e reflexão. O Samba é a voz do morro, dos excluídos. A voz de tantos talentos, até hoje pouco reconhecidos, por conta do preconceito histórico, das piadas infames e do estereótipo pejorativo atribuído a sua origem.

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Das raízes com Donga, Cartola, Ismael Silva e Candeia, a consagração com Paulinho da Viola, Almir Guineto, Jorge Aragão e Beth Carvalho, entre outros. Quando perceberam que o Samba era bom, o convidaram para morar na zona sul. Mas o Samba resistiu e a sua essência continua a mesma até hoje. Aludir-se ao Samba como música de bandido, é uma pura e simples demonstração do preconceito enraizado nas entranhas de boa parte da nossa sociedade, que ainda carrega em sua cabeça oca, uma coroa portuguesa, que de real mesmo, tem apenas a ideologia do colonizador.

O Samba sempre acolheu a todos. Pretos e brancos, pobres e ricos, feios e bonitos, analfabetos ou universitários. Ele nunca segregou, mas, sempre foi segregado. O Samba conquistou o seu espaço, caminhando na cadência do próprio ritmo. Sem atropelar ninguém, sem atravessar o gênero musical dos outros, sem subornar o sistema para ser reconhecido como grande. Ele sempre foi grande, desde o seu nascimento. O Samba merece respeito, principalmente, de quem chegou bem depois e ainda não tem a mesma representatividade que ele.

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Menotti deveria ouvir o conselho contido na música "Moleque atrevido", que o mestre Jorge Aragão assim escreveu: "Por isso vê lá onde pisa. Respeite a camisa que a gente suou. E quando chegar no terreiro, procure primeiro saber quem eu sou." E para terminar, a dupla apoiou Aécio Neves nas eleições de 2014. Uma prova de que eles entendem muito mais de bandido, do que de música.

Respeite quem pode chegar onde o Samba chegou.

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