Brasil, um museu de impunidades e privilégios

Os gastos mensais com a manutenção do Museu Nacional, seriam menos onerosos aos cofres públicos, do que os rendimentos e as regalias mensais de um ministro do supremo ou de um senador da república

Brasil, um museu de impunidades e privilégios
Brasil, um museu de impunidades e privilégios (Foto: Reprodução )


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No último domingo, no início da noite, assistimos perplexos e inertes ao incêndio que destruiu todo o Museu histórico nacional do Rio de Janeiro. A intensidade das chamas e a propagação do fogo no local, promoviam uma cena triste e assustadora. Com a mesma tristeza e assombro, reagi à algumas postagens feitas por políticos que apoiaram o golpe, e, consequentemente, a “austeridade” econômica de sua política, que entre outras coisas, congelou por 20 anos os investimentos em saúde, educação e cultura.

Na página oficial do Bispo, digo, Prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foi postada a seguinte declaração: “Trágico incidente que destruiu um palácio marcante da nossa história. É um dever nacional reconstruí-lo das cinzas, recompor cada detalhe eternizado em pinturas e fotos e ainda que não seja o original continuará a ser para sempre a lembrança da família imperial que nos deu a independência, o império, a primeira constituição e a unidade nacional.”

Eu fiquei imaginando de que maneira Crivella reconstruiria o fóssil de Luzia, um dos mais antigos da humanidade. Será que ele recorreria às técnicas neo pentecostais de ressuscitar os mortos, muito utilizadas na sua igreja? Como recompor os detalhes históricos que ali eram guardados há 200 anos e que foram consumidos pelas chamas do descaso e pela imcompetência administrativa de nossos pirotécnicos gestores?

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A prova de que, para eles, um museu e a nossa cultura de um modo geral, são irrelevantes, é que Crivella resume a existência de um dos maiores acervos do mundo, à uma mansão de luxo habitada pela familia real portuguesa. Não me assustaria se ele propusesse a construção de uma filial do Templo de Salomão no local. O presidenciável João Amoedo, do banco Novo, emitiu a seguinte declaração: “É muito triste ver o nosso patrimônio histórico em chamas. Esse é o resultado da falta de gestão e do abandono político que vivemos no Rio de Janeiro e em todo o Brasil. Precisamos nos envolver na política para fazer a diferença e evitar situações lamentáveis como essa”.

Curiosamente, Amoedo é o candidato do Itaú, instituição financeira que teve R$ 25 bilhões em dívidas com o INSS, perdoados pelo governo Temer. Se lembrarmos que o Museu Nacional era de competência da administração federal, que congelou os investimentos em cultura por não ter dinheiro, mas que abriu mão de R$ 25 bilhões em favor de um banco privado, ficaremos confusos, mas entenderemos o porquê da nossa história estar sendo destruida gradativamente pelos golpsitas que tomaram o poder.

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Henrique Meirelles, um dos artífices do golpe e candidato de Temer ao planalto, publicou que: “A história e a cultura são essenciais para compreender o presente e criar um futuro de progresso para o País”. Depois dessa declaração, melhor não chamar o Meirelles para mais nada. A não ser que ele consiga nos explicar, o porquê de ter sugerido o congelamento de investimentos, em algo que ele julga essencial para o progresso do país.

O tucano e apoiador do golpe, Geraldo Alckmin, também se manifestou. Segundo ele, “O incêndio de grandes proporções que atinge o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, agride a identidade nacional e entristece todo o país. Neste momento de profunda perda, quero me solidarizar não apenas com os cariocas, mas com todos os cidadãos brasileiros” As palavras são dignas de um santo, mas a realidade por debaixo de sua auréola é bem diferente. Para Alckmin, enganar o povo é mais fácil do que roubar merenda de criança. O seu jeito de fazer política é mais antigo do que o crânio do tiranossauro rex, que estava exposto no Museu destruído.

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A nossa cultura está de luto. 20 milhões de peças históricas e raras, passam a dividir com mais de 200 milhões de habitantes, um espaço nos jazigos da nossa história atual, situados dentro de um cemitério ideológico construído pelos golpistas, para sepultar os nossos direitos, as nossas conquistas e a nossa riqueza cultural. Quem apoiou o golpe não deveria se manifestar sobre esse fatídico incêndio, que arruinou todo um patrimônio histórico do nosso país.  Vocês são cúmplices desse crime. Tenham a decência de permanecerem em seus devidos lugares, nesse momento de dor e revolta.

Os gastos mensais com a manutenção do Museu Nacional, seriam menos onerosos aos cofres públicos, do que os rendimentos e as regalias mensais de um ministro do supremo ou de um senador da república. Mas, o nosso museu de privilégios e imunidades necessita de mais atenção e investimentos. Será olhando para ele e para as peças meramente decorativas que nele se abrigam, que entenderemos melhor as chamas do golpismo que nos consomem no presente e as cinzas da nossa dignidade que nos restará no futuro.

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O nosso passado histórico? Melhor incinerá-lo de vez. Talvez, seja essa a verdadeira história do Brasil, que eles querem contar para as próximas gerações.

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