Quem fica no lugar do Estado?

O discurso da privatização, do Estado Mínimo ou da internacionalização da economia não estimula o eleitor. Ao contrário, ele vê, de um modo geral e com absoluta razão, que este discurso leva à precariedade de suas principais reivindicações: saúde, educação, segurança e emprego

Quem fica no lugar do Estado?
Quem fica no lugar do Estado? (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)


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O discurso da privatização, do Estado Mínimo ou da internacionalização da economia não estimula o eleitor. Ao contrário, ele vê, de um modo geral e com absoluta razão, que este discurso leva à precariedade de suas principais reivindicações: saúde, educação, segurança e emprego.

Ocorre, no entanto, que esta percepção não é aprofundada. Grande contingente de eleitores não associam, por exemplo, a corrupção à privatização e o desemprego à internacionalização da economia.

Também temas como a segurança não é associada ao emprego e à garantia dos direitos sociais, trabalhistas, previdenciários.

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Dessa forma, um brasileiro honesto e patriota acaba votando, pela hábil manipulação dos discursos e da propaganda, num candidato como Geraldo Alckmin embora seja contrário às propostas deste tucano: privatizações e internacionalização da economia; e anseie por saúde, educação e segurança do Estado.

Creio que a pergunta esclarecedora deve ser: quem fica no lugar do Estado? No que resultará esta mudança? Quem lucra com ela?

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Vamos refletir sobre este programa neoliberal que está na plataforma de vários candidatos que colocaram no poder e apoiaram Michel Temer. E que são, com mínima variação de proposta, Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo), Henrique Meirelles (MDB), Cabo Daciolo (Patriota) e José Maria Eymael (DC). Todos com o mesmo projeto de retirar o Estado Nacional de suas obrigações com a Pátria e seus cidadãos.

A primeira farsa de suas argumentações é a corrupção. Pergunto: quem corrompe? Claro que são os interesses econômicos que buscam, na compra de políticos e gestores públicos, os benefícios para seus negócios. Quando se diz que “nunca se roubou tanto” eu argumento que se deve ao desenvolvimento econômico capitalista. Os valores do suborno nacional ainda são ridículos quando comparados aos dos Estados Unidos da América (EUA) ou da União Europeia.

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Também a corrupção nos governos militares só era conhecida nas grandes obras: Ponte Rio-Niteroi, Itaipu e grandes hidrelétricas, Transamazônica.

E o remédio para a corrupção é a democracia, a transparência, a decisão colegiada, de conselhos gestores, e não entregar a coisa pública a um profissional de sucesso ou que se diz “escolhido por Deus”.

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Como se vê, para um eleitor que deseje ter saúde do SUS, educação em boas escolas públicas, segurança no emprego e seus direitos respeitados pelo poder público as opções são: Lula ou Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL), João Goulart Filho (PPL) e Vera Lúcia (PSTU).

Em ambas relações, dos privatistas e dos mantenedores da ação estatal, usei a ordem decrescente de intenção de voto, colhida na 137ª pesquisa da CNT/MDA.

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Vamos entender a economia que existe – não os desejos e ideologias – no que se refere às prestações de serviços, que é a ação executiva dos Estado.

Há mais de 50 anos, se desenvolve uma crescente concentração empresarial e, a partir dos anos 1990, da propriedade de todos agentes econômicos.

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Lembra o caro leitor a quantidade de bancos que existia no Rio de Janeiro, em São Paulo, nos anos 1970? E quantos existem hoje? O mesmo ocorre com muitas atividades, por exemplo, papelarias ou lojas de música.

Além da oligopolização ou monopolização das atividades econômicas, ocorre também uma concentração da riqueza e da propriedade.

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Se o caro leitor investigar, verá que grandes fundos financeiros – Blackrock, Vanguard, State Street Global (SSgA) – com vários trilhões de dólares são os donos de quase todas empresas que produzem o que se compra nos mercados: Unilever, Colgate-Palmolive, Exxon, Shell, Nestlé. Se o produto for chinês, há uma pequena oportunidade de não pertencer a algum destes fundos.

Logo, apenas um Estado forte, presente, soberano, pode evitar a corrupção e lhe proporcionar os serviços que você tanto deseja.

Vejamos um caso: a petroquímica, que teve início com o governo militar. Vamos também esclarecer que a farda não garante que alguém seja patriota, como a sotaina não assegura pureza, nem a toga isenção.

O golpe de 1964 foi encabeçado por militares entreguistas que sofreram outro golpe de militares nacionalistas. Foram estes militares nacionalistas que criaram a Petroquisa (1967), subsidiária de Petrobrás, que deu efetiva condição de desenvolvimento para indústria petroquímica no Brasil. Com a corrupção privatizante, a Petroquisa desapareceu e a empresa brasileira que a sucedeu está, agora, sendo vendida para empresa holandesa LyondellBasell. O leitor advinha quem são os donos da LyondellBasell? Claro, os três fundos financeiros já mencionados e mais outros dois, que também aparecerão, como donos, em inúmeras outras empresas: o Fidelity Management & Research e o Capital Research & Management.

Privatizar, hoje, significa entregar a empresa, o patrimônio brasileiro, a estes fundos financeiros. Agora responda: atuando no mundo inteiro, em áreas tão diversas quanto o petróleo, a impressão de livros, a produção de alimentos e turismo, por que eles estariam interessados no atendimento aos brasileiros? Na nossa saúde, educação, segurança, emprego? Ou para a dos argentinos? Ou dos colombianos, chilenos, panamenhos? A única preocupação será obter o maior lucro e enviá-lo para os milionários aplicadores destes fundos, que residem nos EUA e na Europa.

Você pode contrapor dizendo que também pode comprar cotas destes fundos. Claro. Por isso eles se repartem em milhares, dezenas de milhares, com nomes e endereços que fica ate difícil chegar a suas origens. E estes fundos, nos quais você tem acesso e coloca seu dinheiro, serão os primeiros a falir, a desaparecer nas crises que se sucedem ora no Brasil, ora na América do Sul, ora em todo mundo, como em 2008. Veja se foram os irmãos Charles e David Koch, com mais de 30 bilhões de dólares cada, ou Warren Buffet, com US$ 46 bilhões, ou o ex-Prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg, com seus 25 bilhões de dólares que tiveram prejuízo.

É dar um atestado de pobre de espírito, para ser delicado, imaginar que fortuna  pega como gripe.

Fuja de todo candidato privatista. Que prometa enxugar a máquina pública, abrir os mercados para a competitividade, que você já viu nestes exemplos que não existe. Não se iluda pois quem vai sofrer é você mesmo.

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