Militares, olavistas e cristãos disputam o espólio do MEC: é o desgoverno em marcha

"O que estão esperando ainda para destituir o pândego colombiano Vélez Rodriguez do Ministério da Educação?", questiona Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia; "Está tudo virado de pernas para o ar, à espera da salvação da reforma da Previdência, como se isso pudesse resolver todos os nossos problemas, enquanto o capitão viaja pelo mundo para combater o “comunismo” na Venezuela e bajular seus aliados da extrema-direita como um Napoleão do Twitter", critica

Militares, olavistas e cristãos disputam o espólio do MEC: é o desgoverno em marcha
Militares, olavistas e cristãos disputam o espólio do MEC: é o desgoverno em marcha (Foto: Esq.: Ueslei Marcelino - Reuters / Dir.: Marcelo Camargo - ABR)


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Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia

“Em uma democracia, governantes que conclamam a população a festejar uma ditadura de assassinos, de corruptos e de torturadores que tomou o seu próprio país por 20 anos seriam objetos imediato de destituição” (Vladimir Safatle, em “O dia da infâmia, na Folha).

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O que estão esperando ainda para destituir o pândego colombiano Vélez Rodriguez do Ministério da Educação?

Deveria ter sido demitido sumariamente na quarta-feira, quando foi desmoralizado na Câmara pela jovem deputada Tabata Amaral, de 25 anos, que revelou toda a incompetência e desconhecimento dele para comandar o principal ministério de qualquer país civilizado.

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Para mim, não foi nenhuma surpresa. Fui o primeiro repórter a escrever, na Folha, no início da campanha eleitoral, sobre a heroica trajetória de vida de Tabata, da periferia de São Paulo até Harvard, onde ela se formou_ o exato oposto deste desclassificado professor levado para o MEC pelo doidivanas guru Olavo de Carvalho, com a ajuda dos filhos de Bolsonaro.

Se Tabata fosse a ministra, estaríamos melhor servidos, mas isso é inimaginável neste governo paramilitar que coloca em risco o futuro da nossa democracia.

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Era uma tragédia anunciada, mas levou menos de três meses para o Brasil descobrir com quem estamos lidando.

Com o Ministério da Educação conflagrado pela disputa de poder entre grupos de militares, olavistas e cristãos, temos aí um perfeito retrato deste desgoverno em marcha batida para o caos.

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Como era de se esperar, nesta sexta-feira o capitão Bolsonaro desempatou o jogo, ao nomear o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira para secretário-executivo do ministério, com a missão de tutelar o ex-ministro ainda em exercício do cargo.

Nem mesmo no auge da ditadura militar propriamente dita, que Jair Bolsonaro está comemorando estes dias, tivemos tantos militares no Palácio do Planalto e nos ministérios.

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Agora não basta apenas trocar o ministro porque toda a estrutura do ministério foi demolida pelo colombiano ensandecido.

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Tribos de evangélicos da “escola sem partido”, de olavistas combatentes do “marxismo cultural” e de militares que querem militarizar o ensino já ratearam entre eles os principais cargos técnicos do ministério que está em colapso, completamente paralisado.

Tudo isso aconteceu à luz do dia, sem que as entidades representativas do setor e da sociedade civil dessem o alarme para denunciar o que estavam fazendo com a Educação brasileira.

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A guerra no MEC começou ainda antes da posse, quando Vélez Rodriguez escanteou o tenente-coronel Paulo Roberto, coordenador da área no governo de transição, que contava também com o general Oswaldo Ferrreira.

Cada grupo agora tem seu próprio candidato à sucessão de Vélez Rodriguez e esta guerra não tem hora para acabar.

Se fazem isso com o Ministério da Educação, não é difícil imaginar o que acontece nos subterrâneos de outros ministérios num país assolado pelo desemprego crescente, como mostrou ainda hoje novo levantamento do IBGE.

Está tudo virado de pernas para o ar, à espera da salvação da reforma da Previdência, como se isso pudesse resolver todos os nossos problemas, enquanto o capitão viaja pelo mundo para combater o “comunismo” na Venezuela e bajular seus aliados da extrema-direita como um Napoleão do Twitter.

Assim como abri este texto com a epígrafe do filósofo Vladimir Safatle, reproduzo abaixo, para encerrar, o último parágrafo da sua coluna:

“O dia 31 de março sempre será na história deste país, o dia da infâmia e da vergonha. Se alguém esqueceu, nós podemos lembrá-lo”.

Neste domingo, o Brasil deveria se vestir de preto, em sinal de luto, como fizemos quando Fernando Collor pediu para todo mundo sair de verde-amarelo, pouco antes de ser apeado do poder.

E, desta vez, não temos nem vice como Itamar Franco, o bom democrata mineiro, discreto e honesto, que manteve o país no prumo.

Bom final de semana.

Vida que segue.

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