A lição de Brumadinho: tem que parar tudo até fiscalizar cada barragem

"A solução está à vista. Difícil é pensar que um ministro do meio-ambiente encrencado com a justiça por tramoias em sua área e um presidente favorável a flexibilizar ainda mais licenças ambientais possam fazer o óbvio. Eles gostam mesmo é de um mar de lama, em todos os sentidos", diz o colunista Ricardo Melo, que integra a rede de Jornalistas pela Democracia

A lição de Brumadinho: tem que parar tudo até fiscalizar cada barragem
A lição de Brumadinho: tem que parar tudo até fiscalizar cada barragem (Foto: Esq.: Divulgação (Twitter do governador) / Dir.: Isac Nóbrega - PR)


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Por Ricardo Melo, para os Jornalistas pela Democracia De pouco adianta o frenesi punitivo que toma conta de “autoridades” diante da nova tragédia em Minas. Bolsonaro, gabinetes do Planalto, Ibama, ministérios emitem decretos como pão quente ao alvorecer. Passeiam de helicóptero, anunciam multas milionárias, bloqueios astronômicos de recursos e mudanças de legislação. Tudo igualzinho ao que foi feito após o desastre de Mariana em 2015.

Qual o resultado? Que o digam as dezenas de mortos e centenas de desaparecidos de Brumadinho: apenas para encher cemitérios e destruir famílias. Após o espetáculo de providências em Mariana, três anos depois ainda há centenas de desabrigados, dezenas de desaparecidos e, acima de tudo, mortos que não voltam nunca mais. Isso não há dinheiro que pague.

Voltando um pouco no tempo. Antes de ser privatizada por Fernando Henrique Cardoso, não se tem notícia de acidentes do tipo na Vale, então Vale do Rio Doce. A empresa, lucrativa, foi vendida a preço de Black Friday sob o argumento de abater a dívida pública e modernizar a produção. O que se viu, no entanto, foi a exploração selvagem dos recursos naturais do Brasil em sacrifício daqueles que realmente fazem a riqueza do país: os trabalhadores e seu povo.

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A tragédia de Mariana, lá atrás, era comprovadamente previsível. Enquanto os executivos privados da Vale se empanturravam em banquetes em Nova York, a barragem vinha sendo corroída ao largo de qualquer fiscalização séria. Papeladas sem verificação in loco atestavam a “segurança” do empreendimento. Já a população em volta, desavisada, mal sabia estar vivendo num corredor da morte.

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Brumadinho repete a história. Mesmo depois de Mariana, inexistia qualquer sistema de alarme advertindo funcionários e famílias que habitavam a área sobre a hecatombe prestes a acontecer. Detalhe: a instalação deste tipo de advertência era uma das recomendações contidas após o desastre anterior. A Vale simplesmente ignorou. Quanto às multas, bloqueios e outras sanções pecuniárias, ocorreu o de sempre, como vai acontecer agora. Contrata-se uma banca de advogados carimbados e vai-se levando o caso com a barriga.
Bolsonaro diz que nada tem a ver com isso. O ministério Público, idem. O novo governador mineiro mal lembra que assumiu o cargo em primeiro de janeiro.

Tudo isso quando o mínimo a ser feito é límpido como a água que antes jorrava e hoje está tingida de barro e dejetos. PARAR IMEDIATAMENTE as operações da Vale e empreses assemelhadas até que sejam fiscalizadas in loco essas construções. Remover com a máxima urgência para áreas seguras as populações ameaçadas. Responsabilizar criminalmente os dirigentes que permitiram chegar a este ponto –vc conhece alguém preso pelos homicídios de Mariana? E colocar na mesa a reestatização da Vale, tempo em que não só lucrava como ficava fora das páginas policiais.

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A solução está à vista. Difícil é pensar que um ministro do meio-ambiente encrencado com a justiça por tramoias em sua área e um presidente favorável a flexibilizar ainda mais licenças ambientais possam fazer o óbvio. Eles gostam mesmo é de um mar de lama, em todos os sentidos.

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