A hora de nascer

Há décadas, os estudiosos procuram entender o mecanismo desencadeante das contrações uterinas que expulsam o feto, depois de nove meses de acolhimento e proteção

Há décadas, os estudiosos procuram entender o mecanismo desencadeante das contrações uterinas que expulsam o feto, depois de nove meses de acolhimento e proteção
Há décadas, os estudiosos procuram entender o mecanismo desencadeante das contrações uterinas que expulsam o feto, depois de nove meses de acolhimento e proteção (Foto: Drauzio Varella)


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(originalmente publicado no blog do Dr. Drauzio Varella)

Quem decide a hora do parto é um mistério que começa a ser desvendado. 

Há décadas, os estudiosos procuram entender o mecanismo desencadeante das contrações uterinas que expulsam o feto, depois de nove meses de acolhimento e proteção.

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Os estudos em outros mamíferos sempre apresentaram resultados conflitantes, aparentemente inconciliáveis com os dos seres humanos. Não faz sentido imaginar que um fenômeno tão essencial à reprodução das espécies fosse criado especialmente para o homem, em desacordo com os princípios mais elementares da evolução darwiniana.

Nos últimos anos, finalmente, começamos a chegar a um consenso: o processo que desencadeia o parto é de natureza inflamatória, modulado e influenciado por eventos endócrinos de origem materna, fetal e placentária.

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Em 1998, Lo Y. e colaboradores detectaram a presença de DNA fetal livre no sangue materno, em concentrações correspondentes a 3,4% até 6,2% de todo o DNA livre existente na circulação da gestante. Curiosamente, essas concentrações aumentavam muito no final da gravidez.

Esse DNA fetal que circula com liberdade pela corrente sanguínea da mãe, vem de células da placenta (trofoblastos), que morrem espontaneamente ou necrosam.

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Outros estudos confirmaram que a quantidade desse DNA fetal circulante chega a aumentar 12 vezes no decorrer da gestação, atingindo o pico nas proximidades do parto.

Mulheres que dão à luz prematuros apresentam níveis sanguíneos de DNA fetal livre cerca de duas vezes mais elevados do que as demais. Em conformidade, o risco de prematuridade é maior entre as gestantes com níveis mais altos de DNA fetal livre.

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Nas gestações de gêmeos, esses níveis são 30% mais altos, aumento que provavelmente explica a duração mais curta das gravidezes com múltiplos fetos.

Como era de esperar, a existência de DNA fetal livre na circulação materna não é exclusividade humana, tem sido documentada em camundongos, cavalos, vacas, ovelhas e em primatas, como nós.

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Estudos anteriores haviam demonstrado que o parto espontâneo é mediado pela ativação de mecanismos inflamatórios que conduzem à liberação de citocinas, que atraem neutrófilos e macrófagos (proteínas e glóbulos brancos envolvidos na resposta imunológica) para o útero grávido e à ativação de proteínas capazes de desencadear as contrações uterinas.

Essa cadeia de acontecimentos conduz ao amadurecimento do colo do útero, à ruptura das membranas amnióticas e às contrações rítmicas. O que faltava explicar era o mecanismo responsável por disparar esse conjunto de ações.

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Os resultados dos estudos aqui discutidos permitem supor que concentrações crescentes de DNA fetal livre, liberado durante o processo de amadurecimento e senescência da placenta, atingem o pico no fim da gestação, estimulam o sistema imunológico inato através da ativação de receptores existentes nas células envolvidas na resposta imune e desencadeiam contrações uterinas expulsivas.

Como não podia deixar de ser, esse mecanismo é comum a todos os mamíferos.

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Drauzio Varella é médico e escritor

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