Doutor em Antropologia Social (MN/UFRJ); especialista em Gestão de Políticas Públicas de Cultura (UnB); atualmente é administrador cultural da Funarte/MinC
Em 2015, a inglesa Shamima Begum, 15 anos, fugiu de casa. Após chegar a Raqqa, autoproclamada capital do Estado Islâmico, casou-se com um holandês convertido ao islamismo. Com 19 anos e descoberta por jornalistas num campo de refugiados na Síria, Shamima quis voltar ao Reino Unido. Mas isto não a transforma numa criminosa, como numa relação inevitável entre causa e efeito, apenas lhe confere, provisoriamente, o status de boba da corte
No episódio “The Sponge” (“A esponja”), a protagonista Elaine sabe que um anticoncepcional conhecido como “esponja” não seria mais vendido. Diz a um rapaz que não pode “desperdiçar duas esponjas” com o mesmo cara. A desinformação está a serviço de um poder ancorado numa visão de mundo religiosa, patriarcal e machista. Fragilidade e virilidade, azul e rosa, submissão e empoderamento. Elaine ou Damares?
Eis que, dias atrás, brasileiros “da gema” sofreram na pele o medo e o ódio xenófobos. Um grupo deles caminhava despreocupadamente pelas ruas de Londres, falando português, quando, de repente, uma “nativa” que passeava com seu cachorrinho os interpelou agressivamente, gritando que parassem de falar numa língua estrangeira enquanto estivessem no “país dela”. Ela se sentia “ameaçada” pela invasão bárbara, segundo o relato de um de nossos conterrâneos.
Conviver com o diferente é necessário numa sociedade que se quer democrática e culturalmente complexa, onde a própria noção de “nós” é fragmentada porque exercemos múltiplos papéis sociais. Descentralizar a ideia de “certo” e “errado”, exercitar o conceito de relativismo cultural tendo por base fundamental os princípios dos direitos humanos, é saudável. É a ideologia da inclusão
O “vermelho” representa não só os petistas, mas qualquer brasileiro que não não apoia regimes autoritários, que não seja racista, ou machista, ou deprecie as mulheres, ou cristão, ou homofóbico, ou neoliberal, que seja a favor do Estatuto da Criança e do Adolescente, contra a diminuição da maioridade penal, a favor do Estatuto do Desarmamento, que defenda o Estado laico
É preocupante e angustiante imaginar que uma geração inteira está sendo formada intelectualmente a partir de preconceitos e estigmas, de uma visão de mundo excludente, intolerante e violenta. Resiliência
Pela primeira vez, neste processo eleitoral, senti medo. Medo por ver, tão de perto, aquilo em que se transformou parte significativa da sociedade brasileira. Vingativa, sedenta de sangue, ignorante, embrutecida, sádica, intolerante, odienta
Percebo que a sociedade brasileira é intolerante e violenta. Nunca deixou de ser, afinal de contas. O homem cordial de “Raízes do Brasil” ficou para trás. Não quero isso para o meu filho, ele não merece crescer em meio a tanto ódio, nem eu, pensando bem, nem ninguém
O papa prefere casais infelizes, mas casados. O papa ignora, ou finge ignorar, que não há uma única forma de configuração familiar. Que a "referência paterna" e a "referência materna" são construções simbólicas, nada biológicas, e que, sobretudo, o que importa é o AMOR, o CARINHO e o AFETO que mantêm uma família unida e psicologicamente sadia