'Reformas' sob golpe causaram desemprego estrutural
Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese, analisa as transformações no mundo do trabalho, o surgimento de outro modelo de capitalismo, o avanço da tecnologia que elimina empregos do ser humano, e a situação do Brasil com suas "reformas" trabalhista e da Previdência no contexto global, gatilho de um novo desemprego estrutural
Da Rede Brasil Atual - As transformações no mundo do trabalho, o surgimento de outro modelo de capitalismo, o avanço da tecnologia que elimina empregos do ser humano, e a situação do Brasil com suas "reformas" trabalhista e da Previdência no contexto global, são alguns dos temas abordados por Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese, no programa Entre Vistas, apresentado pelo jornalista Juca Kfouri, e que vai ao ar nesta quinta-feira (16), a partir das 22h, na TVT.
Quase dois anos depois da aprovação da "reforma" trabalhista feita pelo governo do ex-presidente Michel Temer, a situação do emprego no Brasil não melhorou, pelo contrário, o número de desempregados aumentou, alcançado mais de 13 milhões de pessoas. Clemente Ganz Lúcio pondera que, entre 2008 e 2014, nada menos que 110 países fizeram algum tipo de reforma trabalhista, e todas com o mesmo objetivo: flexibilizar contratos e jornadas de trabalho, flexibilizar salários e direitos e limitar o papel dos sindicatos e da Justiça do Trabalho. E o Brasil foi inserido neste contexto. O motivo? Dar segurança às empresas para reestruturarem seus sistemas produtivos.
"Há uma reformulação subterrânea. O capitalismo está se reorganizando, do ponto de vista produtivo, para uma coisa que nós desconhecemos. A base industrial que estruturou nossa sociedade urbana está em transformação. Eles precisam de uma grande flexibilidade para fazer um ajuste no mundo do trabalho, que eles não têm ideia de qual vai ser. O que nós vemos é que a máquina vai ocupar cada vez mais espaço", analisa o diretor-técnico do Dieese.
Para ele, toda essa transformação no sistema produtivo terá como consequência uma "tragédia economia e social". "A soma de máquinas pode dar, do ponto de vista econômico e social, no alijamento de grande parcela da sociedade." Clemente pondera que o empresário brasileiro quer reorganizar o sistema produtivo, ao mesmo tempo em que esse sistema está sendo desmontado pela crise econômica e as decisões tomadas para enfrentá-la. "Enquanto outras economias no sistema produtivo industrial se organizam para capitanear processos de ocupação no mundo, as nossas empresas estão sendo destruídas."
A mudança no sistema produtivo, ele explica, passa também pelas transformações do próprio sistema capitalista, no qual o "capitalista tradicional" está sumindo e dando lugar a um outro tipo de capitalista, com predomínio dos fundos de investimentos e fundos de pensão, cujos donos são milhares de pessoas espalhadas pelo mundo. "O capitalista tradicional reinvestia três quartos na empresa, para ela crescer, e retirava um quarto como sua parte. Os fundos tiram três quartos e entregam para os acionistas, e reinvestem um quarto. O mundo não cresce, a economia não cresce, porque as empresas estão investindo menos", afirma.
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