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Senado dos EUA quer isolar trumpismo, não defender democracia no Brasil, dizem especialistas

Moção a favor da democracia no Brasil aprovada pelo Senado dos EUA serve mais às eleições legislativas do país do que à defesa do Estado democrático brasileiro

(Foto: Divulgação)
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Sputnik - Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas destacam que moção a favor da democracia no Brasil aprovada pelo Senado dos EUA serve mais às eleições legislativas do país do que à defesa do Estado democrático brasileiro.

O Senado americano aprovou na última quarta-feira (28) uma resolução que prevê o rompimento das relações dos Estados Unidos com o Brasil, bem como a suspensão da assistência militar ao país, em caso de tentativa de golpe de Estado no país após a eleição do próximo domingo (2 de outubro).

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A resolução foi proposta pelos senadores Bernie Sanders, Tim Kane, Patrick Leahy, Jeff Merkley, Richard Blumenthal e Elizabeth Warren.

Para entender quais impactos a decisão pode gerar no pleito e qual o interesse dos EUA em "defender a democracia brasileira", a Sputnik Brasil conversou com João Cláudio Pitillo, professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e Luis Mergulhão, professor e doutor em história também pela UERJ.

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Questionado sobre se a ação do Senado foi precipitada, João Cláudio Pitillo afirma que a resolução é uma medida mais política do que de governo, portanto tem valor apenas quando antecipada.

"É uma medida política, uma antecipação que o Senado estadunidense está fazendo mediante o que o presidente brasileiro [Jair Bolsonaro] criou no âmbito do cenário internacional. Sendo uma medida política, ela tem que ser antecipada, não pode ser pós, senão perde o efeito. Em um cenário pós, precisaria de uma medida de governo, de uma medida efetiva, de Estado. Por isso que ela pode, neste momento, parecer precoce", diz Pitillo à Sputnik Brasil.

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Ele enfatiza que a medida "tem de ser preventiva para ter valor político". "O Senado dos EUA não vai mandar tanque nem aviões, mas eles mandam o recado a nível político."

Pitillo, no entanto, diz não acreditar que a resolução teria algum efeito prático, no caso de uma eventual tentativa de ruptura democrática. "Se houver uma intenção de fato de [Jair] Bolsonaro e sua claque de ter um intento desse, vão fazer sobrepujando essa medida. O atual governo Bolsonaro não tem tato para com os estadunidenses", destaca o especialista.

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Luis Mergulhão, por sua vez, ressalta que a resolução tem como objetivo manter o grau de influência dos EUA na América Latina, "com bandeira da defesa da democracia, mas também preocupada com a oposição interna organizada por [Donald] Trump [ex-presidente norte-americano]".

"É mais vantajoso para o governo [Joe] Biden, haja vista a pressão de Trump, um governo Lula do que [um governo] Bolsonaro, apesar de toda referência que este faz aos EUA", diz o especialista, em entrevista à Sputnik Brasil.

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Ele acrescenta que a resolução não deixa de ser um tipo de pressão externa sobre a política brasileira, mas diz acreditar que o objetivo é interno.

"Para mim, não há nenhum nível de sinceridade na política externa estadunidense, muito menos apego a princípios, e sim um trabalho vinculado aos seus interesses, hoje resumidos em manter sua área de influência e, ao mesmo tempo, tentar impedir nas Américas um aliado de um movimento comandado por Trump", diz o especialista.

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A opinião de Mergulhão converge com a de Pitillo, que acrescenta que a medida também tem relação com as eleições legislativas de novembro, nas quais o Partido Democrata enfrenta o risco de uma derrota para o Partido Republicano.

"Essa ação do Parlamento estadunidense é também para o seu público interno, e é obvio que ela vai ter reflexo, e é para ter reflexo, na eleição do Parlamento", diz Pitillo.

Segundo ele, a resolução expõe uma tentativa do governo Biden "de isolar todo e qualquer campo de apoio do trumpismo. E Bolsonaro faz parte disso".

"Bolsonaro se tornou muito próximo de Trump. Isso desagrada a Biden. Então o Senado se lança a fazer esse chamado também com intenções internas." Ele afirma que, com a resolução, tanto Biden quanto o Senado enviam para a sociedade americana o recado de que "o aliado de Trump, Bolsonaro, tem intenções golpistas, e os democratas não concordam com isso".

"Ou seja, todo aquele aceno é também para o seu público interno. Existe um conceito do primado da política interna sobre a política externa, é isso que o Senado estadunidense está querendo fazer com essa resolução", explica Pitillo.

Por fim, ambos os especialistas concordam que a resolução reflete uma postura contraditória dos EUA diante do histórico de intervenções e apoio a golpes em outros países presentes na história americana.

"A política de relações internacionais dos EUA é de dupla moral. Ela sempre foi de dupla moral. Ela não está preocupada com a democracia de fato, ela está preocupada com a democracia somente de direito. O que ela quer é manter uma certa estabilidade política na América Latina, e o Brasil é o centro disso, para que a ordem mundial, a ordem econômica mundial, não seja perturbada neste momento", diz Pitillo.

Ele acrescenta a necessidade de se levar em consideração a conjuntura geopolítica atual, "com a operação da Rússia na Ucrânia e as tensões alimentadas contra a China, com o uso de Taiwan".

"Ela [a postura dos EUA] é contraditória, mas obedece a uma dinâmica estadunidense de manter toda a América Latina sob um projeto de democracia burguesa, ou seja, de estabilidade política. Eles não se importam com o grau de penetração dessa democracia na sociedade, o quanto ela é substantiva para a sociedade brasileira. Eles estão preocupados que essa estabilidade se mantenha no âmbito das relações internacionais, principalmente nas relações comerciais", explica Pitillo.

Luis Mergulhão finaliza afirmando que "a democracia que os EUA defendem para a América Latina é restrita".

"Porque quando ela começa a se ampliar, deixando de servir só às classes dominantes e aos interesses dos EUA, rapidamente classificam essas posturas, governos e forças políticas de totalitárias e ditatoriais, se dispondo a defender a democracia restrita que sempre defenderam nos países capitalistas dependentes da América Latina", conclui o especialista.

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