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    Ômicron: se o Brasil se sair bem, não terá sido por obra do governo, afirma especialista da USP

    “Nada do que ocorrer daqui para diante será capaz de apagar a irresponsabilidade e os crimes cometidos por várias altas autoridades federais, a começar pelo presidente”, afirma Fernando Aith, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP

    Bolsonaro em aglomeração; Fernando Aith, da USP (Foto: Carolina Antunes/PR | Reprodução)

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    Por Paulo Henrique Arantes, para o 247 - A chegada da variante Ômicron ao Brasil é inevitável, concordam as autoridades sanitárias. A boa cobertura vacinal do país, principalmente em comparação com os países africanos em que a nova cepa parece ter surgido, pode dar aos brasileiros certa tranquilidade, mesmo que ainda não se saiba qual o grau de proteção que as vacinas oferecem em relação à nova modalidade do vírus. De todo modo, quem puxar aplausos para o governo Bolsonaro por conta disso estará redondamente enganado.

    “Nada do que ocorrer daqui para diante será capaz de apagar a irresponsabilidade e os crimes cometidos por várias altas autoridades federais, a começar pelo presidente da República, na condução da pandemia”, afirma Fernando Aith, professor titular da Faculdade de Saúde Pública da USP.

    Diretor do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa) da mesma universidade, Aith é um dos autores de um detalhado estudo sobre a atuação do governo na pandemia, o qual foi fornecido à CPI da Covid e auxiliou na confecção do seu relatório final (leia a íntegra ao final da matéria).

    “O comportamento do governo foi do negacionismo à adoção de políticas públicas totalmente equivocadas e contrárias ao que era recomendado pela ciência e pela lógica. Nunca podemos nos esquecer de que poderíamos ter evitado entre 100 mil e 400 mil mortes no Brasil se o Governo Federal apoiasse as medidas não-farmacológicas que eram recomendadas e disponibilizasse a vacina para a população mais cedo, o que seria possível se o Ministério da Saúde não tivesse fugido dos fabricantes que o procuravam”, recorda Aith.

    De outra parte, avalia Aith, o abandono quase total das regras de contenção da Covid neste momento – basta sair às ruas, ir a um restaurante, a um comércio qualquer ou a um estádio de futebol para verificar – mostra que as autoridades públicas preocupam-se mais com o “esgotamento” da sociedade diante da pandemia e o andamento da economia do que com o potencial ainda grande de aumento dos casos de Covid.

    “O cálculo está sendo político, generalizando a importância de abertura e flexibilização das regras de contenção do coronavírus em nome de uma suposta segurança que teria sido dada pela vacinação já expressiva no Brasil. Isso significa um risco, cujo dano veremos mais à frente”, adverte Aith. “É preciso muito cuidado, porque há muita gente ainda não vacinada, há novas variantes surgindo, especialmente a Ômicron. Além disso, pode aparecer uma nova variante no Brasil entre os não-vacinados. Não se pode arrefecer nos cuidados”, alerta.

    Também não se deve desativar – ainda – toda a estrutura ambulatorial e hospitalar que se desenvolveu no país par combater a Covid no país. “O momento atual não é de desmobilização total das estruturas e esquemas montados para contenção da pandemia no Brasil, sejam os hospitais-referência, seja a grande estrutura de vacinação e de atendimento de UTI e internação”, recomenda o professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.

    A orientação dos especialistas é que tais estruturas sejam desmontadas paulatinamente, retomando-se as cirurgias eletivas e os procedimentos para tratamento de doentes crônicos, como diabéticos e hipertensos, sem eliminar completamente a estrutura contra a Covid. “É hora de achar o equilíbrio”, diz Fernando Aith.

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