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Cultura

Marcia Tiburi apresenta primeira exposição de artes plásticas em Paris

"Terradorada" é o olhar de Marcia Tiburi sobre o Brasil 200 anos após a sua Independência e sobre a sua trajetória de exilada

Márcia Tiburi lança a sua primeira exposição de artes plásticas, em Paris (Foto: Reprodução/Vídeo/RFI)
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Paloma Varón, da RFI - A filósofa, escritora e agora artista plástica Marcia Tiburi apresenta na França a sua primeira exposição individual, que fica em cartaz na prefeitura do 10º distrito de Paris até o dia 30 de outubro. "Terradorada" é o olhar de Marcia Tiburi sobre o Brasil 200 anos após a sua Independência e sobre a sua trajetória de exilada.

Fora do Brasil desde 2018, quando começou a ter que andar com seguranças por receber ameaças de morte, Marcia Tiburi explica que "Terradorada" é um trocadilho: é a terra adorada do Hino Nacional e a terra dourada. "Enquanto eu fazia uma pesquisa sobre a colonização, e de cuja pesquisa surgiu o livro ‘Complexo de vira-lata: análise da humilhação brasileira’, eu também ia trabalhando com essa produção visual. Então surgiu um livro teórico e uma exposição visual como desdobramento de um mesmo projeto", conta Tiburi, ex-candidata ao governo do Rio de Janeiro pelo PT (Partido dos Trabalhadores), em 2018.

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A artista começou a desenvolver este trabalho ainda no Brasil, mas ele ganhou corpo a partir do seu exílio, após as eleições daquele ano. "A exposição é organizada a partir desse percurso da minha vida de exilada e, ao mesmo tempo, das relações pictóricas e imagéticas entre os signos que surgem no processo. Aqui tem esse trabalho com a escrita, com o desenho, com o texto, com todos esses signos. São os assuntos do meu repertório filosófico que começam a aparecer em forma simbólica, pictórica", ressalta, à RFI. 

Lado artístico sempre existiu

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Marcia, que é mais conhecida no Brasil como escritora e filósofa, conta que sempre foi desenhista e ilustradora – apenas não colocava o foco nas artes, como agora. Ela é formada em filosofia e em artes plásticas.

"Eu sempre desenhei, minha vida toda. Uma das obras que está exposta aqui é uma vitrine que traz os meus cadernos com desenhos. Eu sempre escrevi e desenhei ao mesmo tempo. Inclusive alguns dos romances que eu publiquei trazem minhas ilustrações", relembra, lembrando ainda que ilustrou três livros infantis.

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"Quando eu saí do Brasil, como eu fiquei muito só, com muito tempo, eu voltei a desenhar com a maior naturalidade. Não era nada estranho", diz.

Antes de vir morar na França, a escritora e artista plástica passou um tempo nos Estados Unidos, a convite de uma fundação criada para receber escritores perseguidos e ameaçados de morte, vindos de vários países do mundo.

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O mecenas Henry Reese criou a City of Asylum (Cidade do Asilo, em tradução livre) inspirado em Salman Rushdie, quando o escritor britânico recebeu uma sentença de morte do aiataloá Khomeini, em 1989, após a publicação do livro "Versos Satânicos", lançado um ano antes.

Reese estava com Rushdie quando ele foi esfaqueado, no estado de Nova York, no dia 12 de agosto, e também levou uma facada, menos grave que as do escritor britânico. 

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"Eu recebi milhares de ameaças de morte e fui alvo de uma campanha de difamação que começou no início de 2018 e eu suportei durante todo o ano de 2018, até porque não queríamos dar a eles mais espaço. Era isso o que eles buscavam, com a criação de polêmicas no cotidiano", assinala Tiburi.

"Mas, no final de 2018, eu aceitei o convite do Henry Reese, que já vinha me convidando desde que soube que os meus lançamentos de livro estavam sendo invadidos pelo Movimento Brasil Livre (MBL)", relata. Marcia diz que, mesmo após contar com seguranças para si, começou a temer pela vida das pessoas que iam aos seus lançamentos de livros no Brasil. 

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"Os ataques em relação a mim foram naturalizados, então eu sou usada como uma espécie de ‘token’ pela extrema direita para produzir polêmica e engajamento de ódio. Muitos candidatos me usam para isso. Bolsonaro já me usou para isso, os filhos de Bolsonaro e vários outros candidatos de extrema direita", denuncia Marcia, que vai lançar um livro com o também exilado Jean Wyllys sobre o assunto. 

Diálogos 

A curadora da exposição, Samantha Barroero, destaca o papel da mostra de dar voz aos exilados e refugiados, num contexto de ascensão da extrema direita no Brasil, na França e em vários países do mundo. 

"Quando eu vi o trabalho de Marcia, me pareceu que era muito importante para nós, aqui na França, ouvir esta voz e mostrar o trabalho de uma artista polivalente, ao mesmo tempo escritora, filósofa. Uma das primeiras coisas que me chamou a atenção foi a necessidade de falar de um país em perda e limitação de democracia", analisa. 

"E por isso [por esse viés político], eu quis que a exposição fosse na prefeitura de Paris. Eu insisti para que este trabalho não fosse mostrado numa galeria de arte, mas num lugar onde a gente vota, a gente vem retirar certidões de nascimento, casamento etc., um lugar que representa a vida pública. Para mim, a arte é para o povo e aqui estamos em coerência com isso", afirma Barroero. 

"O trabalho de Marcia é ancorado no diálogo", resume a curadora, sobre os diálogos entre arte, escritura e política, entre Brasil e França, presentes na exposição. 

Marcia prefere chamar as suas obras, nas quais ela usa suportes como tela, papel, tecidos e bordados, de "reflexões pictóricas". 

"São produções ou proposições reflexivas na forma de pinturas. A pintura e as artes como um tudo são isso. As obras de arte nos colocam perguntas, assim como a filosofia. As obras de arte, textos filosóficos e aulas de filosofia têm isso em comum: todos estão sempre nos colocando perguntas", comenta. "E, ao mesmo tempo, estão nos convidando para a reflexão através de um impacto visual, de um maravilhamento diante desse mistério que é a obra de arte que se coloca diante de nós", avalia.

A exposição, que já está em cartaz, será inaugurada oficialmente no dia 7 de setembro, com o debate “Brasil, que independência!”. No mesmo dia, Marcia vai autografar o seu primeiro romance traduzido para o francês, intitulado “Sous mes pieds, mon corps”, que no Brasil se chama “Sob os pés, meu corpo inteiro” (Record, 2018).  Na França, ele será publicado pela Nossa Éditions.

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