Martin Scorsese derrapa em novo filme
Silêncio" promove o reencontro de Martin Scorsese com a própria religião. Católico fervoroso, volta a dirigir um trabalho nessa linha, como havia feito em "A última tentação de Cristo", em 1988. Só que no seu trabalho mais recente, acaba perdendo o rumo de uma história que poderia ser condensada em menos tempo
Houldine Nascimento, especial para o 247 - Até os mestres falham, é a prova de que são humanos. Foi o que aconteceu com Martin Scorsese em "Silêncio" (Silence, 2016). Por 20 anos, o diretor norte-americano manteve o desejo de adaptar o romance de Shûsako Endô sobre um grupo de padres que abdicam do Catolicismo no Japão e cedem ao Budismo.
O autor se inspirou na história de religiosos italianos que iam à terra do sol nascente visando converter os locais ao Cristianismo, durante o século 17. Contudo, ele modificou a nacionalidade dos padres, transformando-os em portugueses. O livro já havia sido levado ao cinema em 1971, no longa "Chinmoku".
Ao ver o filme, fica claro que Scorsese não fez concessões. Com uma proposta mais artística, construiu uma trama bastante lenta. Por vezes, os personagens parecem envoltos numa culpa, desde os padres até os novos cristãos, mas é o sentimento de resistência que marca a maioria deles.
O protagonista é o padre Rodrigues (Andrew Garfield), que solicita ao chefe das missões a ida ao Japão para reencontrar o mentor deles, o padre Ferreira (Liam Neeson), de quem não se tem notícia há algum tempo. Há rumores de que ele renunciou à própria fé. Junto ao colega de batina, Garupe (Adam Driver), parte em busca de seu líder. Antes, aportam em Macau, onde conhecem um japonês que os guiará.
No Japão, são protegidos da perseguição do governo por cristãos locais, apesar do cerco constante e das punições aplicadas aos desobedientes. Alguns eram queimados vivos, outros afogados. Quando capturados, resistem a grandes pressões e são postos à prova pelo governador Inoue (Issei Ogata), que vê de forma negativa a influência do Cristianismo.
"Silêncio" promove o reencontro de Martin Scorsese com a própria religião. Católico fervoroso, volta a dirigir um trabalho nessa linha, como havia feito em "A última tentação de Cristo", em 1988. Só que no seu trabalho mais recente, acaba perdendo o rumo de uma história que poderia ser condensada em menos tempo.
Tudo resulta inconsistente e nem mesmo os atores centrais estão inspirados. Neeson contou que Scorsese exigia silêncio total durante as filmagens. Até mesmo o desfecho é insatisfatório e é preciso fazer força para acreditar. O maior destaque fica mesmo para a fotografia do mexicano Rodrigo Prieto, que aposta nas paisagens nipônicas. Em muitas cenas, recorre à luz natural e a velas para iluminar os ambientes nas sequências noturnas.
Este filme foi concebido em cima de uma estrutura grandiosa, mas não soube lidar com a própria grandiosidade.
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