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Cultura

O Stalin dos deprimidos

Esqueça a pipoca e leve o Prozac para assistir ao último filme de Lars Von Trier, o líder do partido da alegria impossível

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Reza a lenda que nos anos mais cruéis da ditadura stalinista uma cena macabra ocorria sempre que o líder bolchevique ia fazer um discurso pros camaradas: estão os correligionários reunidos e Stalin fala, arrebatando a multidão. Palmas. Loas e ovações. Por dez minutos. Vinte. Meia hora. Uma hora inteira. Duas, três horas. Sim, três horas de palmas ininterruptas e esfuziantes.

Dizem que o primeiro a parar de bater palmas era depois fuzilado.

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No plano da ditadura cultural, o diretor Lars Von Trier faz um filme inteligente atrás do outro e cada novo petardo atinge abismos mais insondáveis que o precedente. Pois foi a respeito dos seus dois últimos filmes, Anticristo (2009) e Melancolia (2011), que o próprio deu a seguinte declaração. É o trecho de uma entrevista concedida à Isabela Boscov da revista Veja em 30/09/2011:

“Vindo de dentro de mim, ou sendo eu a matéria-prima deles, eles foram fáceis até demais de fazer; não tive de construir nada para eles. Quase tenho vergonha do prazer que senti ao fazer Melancolia – esse é o fardo de ser protestante; quando algo é fácil, não tem valor.”

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Se o próprio diretor disse que tais filmes são desprovidos de valor, não se preocupe se você não gostou ou entendeu a obra dele, como se fosse muito complexa pra ser compreendida. Na verdade as histórias e os temas são bem simplórios e monomaníacos. Há o arquétipo da personagem sozinha, desesperada e abandonada que por cento e cinquenta minutos se exaspera com sua solidão, desespero e abandono. E variações disso. Eis porque Von Trier não teve que “construir nada para eles.” Depois de fazer o mesmo filme durante uma década, talvez esteja na hora de alguém parar de bater palma - e quiçá mandá-lo calar a boca.

Sim, convém mandar calar a boca um sujeito que dá chilique gratuito. Todos vamos morrer, é fato, mas os personagens de Von Trier não se conformam com isso. E, pior, botam a culpa na natureza, atribuindo a ela significados demasiadamente humanos e pueris. Em Anticristo, uma mulher traumatizada se isola numa cabana e tem medo dos animais e da chuva. Alega que “a natureza é má” ou “a natureza é filha de Satã”, como se as pedras soubessem o que é maldade ou de quem se trata esse sujeito. Em Melancolia a personagem também que se queixa que a natureza é injusta. E na iminência do apocalipse fica chorando, ao invés de dar uma bimbada e/ou abrir um vinho.

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Não há alegria possível nas histórias concebidas por Lars Von Trier, como não havia pluralismo político nos tempos tenebrosos de Joseph Stalin. Cidadãos e personagens que vivem sob o jugo de tais tiranos operam num espectro limitado da condição humana. Como tudo parece muito sério e solene, o bom humor é simplesmente extirpado. Lembrem-se: o segredo é trabalhar duro. Neste exato momento Lars Von Trier deve estar obrando outro filme dificílimo, tendo um trabalho hercúleo pra te deixar ainda mais deprimido.

Fazer um filme despretensioso, jamais.

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