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Cultura

País sem educação é país sem cultura

Sem mercado, os artistas ficam à mercê das ineficientes políticas culturais brasileiras

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Com os acontecimentos políticos dos últimos anos, o Ministério da Cultura e suas ações ganharam cada vez mais notoriedade na imprensa e, principalmente, entre os artistas. Porém, o que a maioria das pessoas não percebe é que o principal motivo do estreitamento entre os artistas e o MinC não é, exatamente, a eficácia de suas intervenções na sociedade.

Para compreendermos melhor essa relação é preciso esclarecer de forma sucinta a maneira como as atuais políticas culturais do país regem a produção artística nacional.

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Com o advento das leis de incentivo no Brasil, que utilizam a isenção fiscal para o investimento na cultura, os artistas chegaram a pensar que essa seria a redenção. O que eles não previam é que teriam que se tornar produtores, burocratas, contadores, agenciadores, mecenas, especialistas em direito e outras coisas mais, para poderem usufruir as benesses que essas leis poderiam trazer.

Eu passaria o dia inteiro se fosse citar toda a burocracia que um artista tem que enfrentar para aprovar, captar, realizar e prestar conta de um projeto para uma lei de incentivo - seja nacional, estadual ou municipal.

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Primeiro, ele deve saber redigir o texto de forma a convencer a comissão que julgará o projeto de que sua proposta vale à pena, pois a obra, por si só, não basta. Assim, ele utilizará uma série de clichês e chavões usados no âmbito da cultura, mesmo sabendo que aquilo tudo é uma completa babaquice e o que ele queria era somente gravar seu disco, ou fazer sua exposição, enfim, realizar. Depois do projeto aprovado, ele terá que atuar como um agenciador ou contratar alguém para isso, para que algum departamento de marketing de uma empresa se interesse em patrocinar seu projeto (o que no caso de artistas novos e desconhecidos é quase impossível de acontecer). Em seguida, supondo que ele tenha conseguido, após preencher todos os formulários, juntar todos os documentos e aprovar seu projeto, captar os recursos, ele terá que realizar seu trabalho com uma série de cuidados que exigem conhecimentos de tributação, recolhimento de impostos, notas fiscais, cheques, transações bancárias e outras burocracias. Depois de muito trabalho para concluir sua obra, o artista vai partir para a prestação de contas. Mais uma vez, uma gama de conhecimentos têm que ser desvendados para que o proponente consiga não ficar inadimplente perante os órgãos públicos, sendo que muitos editais e leis não permitem, sequer, que o a proposta contemple no seu orçamento a contratação de pessoas especializadas para estes serviços.

Diante do exposto, está claro que a proximidade entre os artistas e o poder público é muito mais de dependência e de “peleja” do que de parceria.

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Tendo em vista todo o tempo de trabalho e estudo que o artista contemporâneo tem que enfrentar a absorver para poder produzir eu lhes pergunto: vocês acham que a sua produção artística é a mesma depois de toda essa maratona? Vocês acham que ele tem a mesma disposição e empolgação para com a sua obra?

Ouvi de um artista plástico hoje: “odeio fazer trabalhos para o governo, passo tanto tempo para receber o pagamento que vou fazer a escultura com raiva”.

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Meus queridos, é claramente perceptível que esse modelo tem prejudicado de forma contundente a produção artística nacional. Os artistas se dedicam a aprender vários ofícios para poder aprovar seus projetos e acabam por deixar de lado o principal: a arte.

E por que isso acontece? Obviamente se esses artistas conseguissem se sustentar de forma digna somente do mercado cultural eles jamais se submeteriam a passar por esse calvário.

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O grande problema é que nosso país não tem mercado cultural, com raras exceções como o do Estado de São Paulo, que tem uma indústria cultural diversa e pujante. Mas não podemos nos tornar artistas em êxodo por conta das deficiências das nossas políticas culturais. Temos que mudá-las. De que forma?

Tudo passa pela educação no Brasil, ou a falta dela. A inexistência do mercado cultural perpassa pela má educação, a não formação de plateias, a falta de acesso à arte por parte das pessoas desde criança, até desembocar no limitado (para não dizer ultrajante) poder aquisitivo da maioria dos brasileiros.

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Ora meus amigos, é claro que todos gostam de discos, shows, quadros, livros, filmes... O universo da arte é fascinante para qualquer pessoa. Leve um analfabeto para o show do seu ídolo Roberto Carlos e ele vai chorar de emoção, porém, o ingresso está fora de cogitação diante do salário que na maioria das vezes ele ganha.

Outra coisa importante é deixarmos claro que os professores brasileiros são heróis, e que jamais será deles a culpa pela educação insuficiente e ineficiente do nosso país.

Quantos alunos visitam ou visitaram um museu? Uma peça de teatro? Um grande show? Um espetáculo de dança? Quantos tiveram acesso às grandes obras literárias brasileiras e mundiais? Quantos já foram uma vez ao cinema?

Diante dessa ausência de mercado os artistas ficam à mercê das falhas, burocráticas e atrasadas políticas culturais brasileiras e a nossa produção artística é prejudicada em sua base: no bolso, na paz e no cotidiano de quem se aventura a viver de arte.

Quanto à solução? Um investimento real na educação, sem amarras, sem medo e sem máscaras. Enquanto o Brasil não assumir a educação como prioridade, qualquer comentário acerca da nossa produção cultural estará atrelado à hipocrisia, a falta de informação ou ao desejo de quem mama nas tetas dos grandes esquemas dos escritórios de marketing e das propinas para interlocutores de empresas patrocinadoras de que nada mude.

País sem educação é país sem futuro, sem orgulho presente e com passado cheio de grandes vergonhas.

Para ratificar tudo que estou dizendo, segue o vídeo da professora potiguar Amanda Gurgel, em depoimento emocionado durante audiência pública sobre a educação do Rio Grande do Norte. Seu discurso se aplica a todo o restante do país.

http://www.youtube.com/watch?v=yFkt0O7lceA

Khalil Gibran é cantor, compositor e produtor cultural.

www.twitter.com/khalilgoch

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