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Cultura

Templários, entre mitos e verdades

Apresento aqui aos meus leitores uma pequena resenha de uma nova série histórica da Netflix chamada Os Templários. Texto de Lejeune Mirhan

(Foto: Divulgação)
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Por Lejeune Mirhan, para o 247 - Hoje assistir séries virou quase que uma febre nacional. Cunharam até um termo especial para assistir vários episódios em seguida, chamado de “maratona”. De minha parte, tenho priorizado filmes e séries que possam ampliar minha bagagem histórica, ampliar meus horizontes. Mas, recomendo apenas que você não faça apenas isso na vida, qual seja, assistir séries. Não nos esqueçamos dos velhos e bons livros que temos que ler diariamente. Pois bem, dito isso, apresento aqui aos meus leitores uma pequena resenha de uma nova série histórica da Netflix chamada Os Templários.

Sua produção foi realizada entre os anos de 2016 e 2017, tendo estreado no Brasil em 2018. É uma produção do canal History e as duas temporadas têm 18 episódios que variam entre 42 e 43 minutos. É uma produção estadunidense e da República Tcheca. Não tem atores muito conhecidos, mas em sua maioria trabalham bem. O astro central é Tom Cullen, 35 anos, inglês que faz o papel do líder templário Landry du Lauzon.

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Esta série se pretende histórica, mas é recheada de ficção, como se permitem roteiristas, escritores e diretores de cinema. O nome da série no original é Knightfall (algo como queda dos cavaleiros). Ela trata da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, mais popularmente conhecidas como templários. Eles surgem praticamente desde a primeira cruzada de 1099, mas vai se estruturar melhor e se institucionalizar em 1118, sendo extinta em 1312.

Como disse, por liberalidade do diretor, ela contém fatos comprovados de história e muitos dos seus personagens existiram e tiveram papeis mais ou menos como os relatados na série (Filipe IV, o Belo; papa Bonifácio VIII, seu sucessor Clemente V – Bertrand de Gouth; Jacques de Molay, último grão mestre da Ordem dos Templários; Guilherme de Nogaret, chanceler do rei Filipe IV entre outros).

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Mesmo não sendo historiador, em minha mocidade e até os dias atuais, leio muito sobre história. Aliás, como disse Marx, só existe uma ciência, a ciência da História. Li pelo menos quatro livros sobre essas ordens militares de Cristo (Templários, Hospitalários e Cavaleiros Teutônicos; apenas a dos Hospitalários sobrevive, com sede na ilha de Malta).

A série tem muitos aspectos positivos e os apresento aqui: 

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1. Faz uma belíssima reconstituição de época (guardadas as limitações orçamentárias para os padrões de uma série); 

2. Mostra com mais fidelidade o que foram os templários (há muita desinformação sobre eles, inclusive falsidades); 

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3. Mostra a verdadeira fraude que foi montada (Fake News e não pensem que isso é novidade) para imputar de forma completamente falsa aos cavaleiros sobre seu comportamento promíscuo e de adoração a Baphomet. A Ordem como um todo vai à julgamento pela Inquisição papal; 

4. Mostra as manobras de bastidores (reais, claro), sobre a influência do papado em toda nobreza da Europa, sobretudo na França; 

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5. Mostra a forma como Filipe IV impõe um seu amigo como papa sucessor de Bonifácio VIII, no caso Bento XI; 

6. Deixa, ainda que mais ou menos explícita, os reais motivos da dissolução da Ordem pelo mesmo Filipe IV, relacionado com seu imenso endividamento com os monges cavaleiros.

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Mas, como nada é perfeito em cinema aponto os seguintes problemas na série: 

1. O líder dos templários, Landry du Lauzon, o mocinho da série não existiu e jamais chegou ao posto de  grande mestre; 

2. Se por um lado é verdade que os cavaleiros buscavam o tal Santo Graal (cálice que Jesus tería usado na última ceia e que jamais existiu ou foi achado), a série mostra que eles o acharam (isso é tão absurdo que os roteiristas não sabem o que fazer com isso, de tal forma que precisam dar um fim nele a certa altura da primeira temporada, para que esse não seja o centro da trama; 

3. Mostra o líder templário como amante da esposa de Filipe IV, Rainha Joana, de Navarra (até onde li e estudei, isso não corresponde); 

4. Esse mesmo líder mata o rei Filipe IV em 1307 (ele morre sete anos depois e não foi assassinado; fala-se em derrame cerebral); 

5. Mostra a morte por queima na fogueira do último grão mestre, Jacques de Molay, em 1306, oito anos antes da data correta de seu fim.

Ainda que alguns possam achar que estou contando partes da série (alguns preferem usar o termo inglês spoilers), na verdade penso estar prestando bons serviços aos e às amigas que talvez não tenham conhecimento histórico suficiente e possam acreditar em tudo o que assistem. É uma advertência.

Na literatura, quem inaugura esse estilo de escrever – misturar personagens fictícios com históricos –, pelo menos mais recentemente, foi o famoso Umberto Eco (li toda a sua obra e gosto demais dele, entre tantos outros, claro). Ele faz isso com maestria em O nome da Rosa, editado nesta terra em 1986 (quem jamais o leu recomendo o filme do mesmo nome do diretor Jean Jacques Anaud, em excepcional adaptação e extremamente fiel ao texto literário). 

Depois dele, vieram vários outros autores em seguida que usaram esse recurso, qual seja, inserir personagens fictícios em meio a tantos verdadeiros e históricos. Recomendo todos eles também, tais como Giulio Leoni (Dante é o personagem em Os crimes do mosaico); Michael Gregório (Kant é o personagem em Crítica da razão criminosa e Dias de perdão), Irvin Yalom (Nietzsche é o personagem em Quando Nietzsche chorou, onde até Freud é personagem), Jeb Rubenfeld (Ninguém menos que  Freud e Jung são os personagens) entre outros.

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