BC vê mais inflação, mas queda no momento adequado
Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada mostra que o Banco Central piorou a perspectiva para inflação neste ano e que o BC trabalha para a convergência para a meta no momento adequado
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Por Tiago Pariz
BRASÍLIA, 24 Jan (Reuters) - O Banco Central piorou a perspectiva para inflação neste ano ao reforçar os riscos para os preços no curto prazo e sustentou que trabalha para a convergência para a meta no momento adequado, mostrou nesta quinta-feira a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada.
"A maior dispersão, recentemente observada, de aumentos de preços ao consumidor e a reversão de isenções tributárias, combinadas com pressões sazonais e pressões localizadas no segmento de transportes, tendem a contribuir para que, no curto prazo, a inflação se mostre resistente", trouxe a ata, elaborando avaliação de piora feita no comunicado pós-reunião.
Esse cenário mais deteriorado dos preços contempla o reajuste de cerca de 5 por cento no preço da gasolina e recuo de aproximadamente 11 por cento na tarifa residencial de eletricidade neste ano.
Analistas fizeram duras críticas ao tom do documento, com avaliações de que o BC já não busca levar a inflação para o centro da meta neste ano, uma vez que o Copom piorou o cenário de preços sem indicar mudança na condução de política monetária.
Na ata, o Copom ressaltou também que a demanda doméstica tende a continuar robusta neste e nos próximos semestres, sobretudo com consumo das famílias. Destacou ainda que o setor público continua "expansionista", mas lembrou que o cenário internacional limita a demanda agregada.
Esses elementos, afirmou o Copom, "são partes importantes do contexto no qual decisões futuras de política monetária serão tomadas, com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas", sem citar prazos. O comitê também voltou a indicar que vai manter a taxa básica de juros por um "tempo suficientemente prolongado".
Nesse contexto, apesar de o BC reafirmar que a Selic será mantida por tempo "suficientemente prolongado", já começam a surgir expectativas de alta no final de 2013. Na semana passada, o Copom decidiu pela segunda vez seguida manter a taxa em sua baixa recorde de 7,25 por cento.
"Estamos apenas em janeiro e ele já admite que inflação não vai convergir para o centro da meta", avaliou o estrategista-chefe do WestLB, Luciano Rostagno, para quem a Selic será elavada no final deste ano.
Em nota, a equipe de economistas do Banco Fator classificou a ata como "hawkish" (mais dura com a inflação) e avaliou que ela "confirma nossa expectativa de manutenção da Selic até o final do ano", mas acrescentou que "de modo geral, se há risco de eventual alteração na taxa básica de juros, é um risco de alta".
Os sinais mais recentes de inflação continuam mostrando pressão. O IPCA-15, a prévia do indicador oficial, subiu 0,88 por cento em janeiro, acima das expectativas mais pessimistas.
Segundo a ata, as projeções de inflação de 2013, tanto pelo cenário de referência como pelo de mercado, aumentaram e se posicionam acima do centro da meta de 4,5 por cento, pelo IPCA. Para 2014, a projeção está "ligeiramente acima do centro da meta" também em ambos cenários.
Segundo o relatório Focus do BC, o mercado prevê uma alta de 5,65 por cento este ano e de 5,50 por cento em 2014.
Uma importante fonte da equipe econômica chegou a dizer à Reuters que, mesmo com os preços no Brasil ainda pressionados em janeiro e, "talvez", em fevereiro, o cenário central de parte do governo é de uma queda "mais linear" da inflação, rumo à meta neste ano.
ATIVIDADE
No documento, o Copom afirma que a recuperação menor da atividade econômica doméstica vem "essencialmente" das limitações de oferta. E, assim, essa lacuna não pode ser sanada por ações de política monetária "que são, por excelência, instrumento de controle da demanda".
Para o estrategista de mercados emergentes da TD Securities, Cristian Maggio, "a mensagem que o BC está mandando é que a Selic vai continuar estável apesar do crescimento econômico abaixo do esperado".
O governo se esforçou, neste início de ano, para mostrar que a inflação vai perder força nos próximos meses.
Na noite de quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff anunciou que o corte nos preços das tarifas de energia elétrica serão ainda maiores e válidos a partir de agora. A projeção do BC, de queda de 11 por cento, não leva em consideração essa nova realidade.
Uma fonte do governo havia dito ã Reuters, antes desse anúncio, que o BC calculava que o corte nos preços dessas tarifas seria mais do que o suficiente para compensar a esperada alta nos preços da gasolina.
(Reportagem adicional de Alonso Soto, em Brasília; e Asher Levine e Silvio Cascione, em São Paulo)
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