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Economia

Para sanar dívida, Brasil precisa de estadistas e não de políticos que buscam reeleição, diz analista

O Brasil terá a segunda maior dívida bruta entre países emergentes em 2020, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para explicar os efeitos disso, a Sputnik Brasil conversou com o economista Josilmar Cordenonssi, que defende que país precisa de um ajuste fiscal duradouro

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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Sputnik - Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil terá a segunda maior dívida bruta entre países emergentes em 2020. A estimativa aponta que o endividamento bruto do Brasil alcançará 101,4% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Esse quadro representa o segundo pior cenário entre 40 países de economias emergentes analisados pela organização. Apenas a Angola, que deve chegar ao patamar de 120,3% de endividamento em relação ao PIB tem um quadro pior que o brasileiro.

O economista Josilmar Cordenonssi, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, recorda que o Brasil já era o país com o maior endividamento bruto entre países emergentes, que alcançava cerca de 87% do PIB já em 2018.

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Segundo ele, o país aumentou a dívida bruta ao longo dos últimos anos, mas esse processo foi agravado pelos efeitos econômicos da pandemia da COVID-19. Para o economista, a continuação de uma agenda de reformas no país deixaria a situação "relativamente bem".

"Só que essa agenda de reformas parou, veio a pandemia, que fez com que o PIB caísse muito e ao mesmo tempo a arrecadação do governo caiu e a necessidade de aumentar gastos veio de uma forma imperativa", explica o professor do Mackenzie em entrevista à Sputnik Brasil.

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Cordenonssi aponta que, apesar do histórico recente da dívida, essa combinação de fatores com aumento de gasto público criou a situação descrita pela análise do FMI. O economista aponta que sair desse quadro será "um desafio nacional".

"A gente vai ter que, de uma certa forma crescer – a ideia é crescer e a dívida crescer menos que o PIB. Então, na verdade [com] a ideia que está sendo discutida aí, temos um desafio a mais, que é manter um certo nível de assistência [social], o [presidente brasileiro Jair] Bolsonaro quer transformar o Bolsa Família em Renda Cidadã, ampliando os gastos, e isso possivelmente vai estourar o teto de gastos do ano que vem", afirma.

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Para o economista, projetos sociais como o Bolsa Família e seu possível substituto são justos, mas exigem uma trajetória sustentável da dívida.

"Para implementar esse projeto social, para ampliar esse projeto social, que é socialmente bastante justo e legítimo, mas por outro lado tem que manter uma trajetória sustentável da dívida, ou seja, tem que diminuir outros gastos. É aí que está o ponto, o nó político que a gente não consegue desatar. A gente precisa cortar gastos e todos os gastos são muito sensíveis politicamente", avalia o especialista.

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Segundo o economista, o mercado financeiro está incomodado com essa possibilidade, uma vez que ultrapassando o teto de gastos há riscos de aumento da inflação e taxa de juros.

"O mercado financeiro fica nervoso em refinanciar a dívida. O risco está em refinanciar a dívida, esse refinanciamento da dívida pública que já está acontecendo, já tem um certo tumulto, um problema no refinanciamento da dívida no curto prazo, principalmente, está tendo muito ruído", aponta.

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Para o economista, o ruído permanecerá enquanto o governo federal não resolver essa questão, já postergada para depois das eleições. Cordenonssi recorda que a proposta apresentada semanas atrás pelo governo federal para o Renda Cidadã, com cortes no pagamento de precatórios e no Fundeb, já foi considerada problemática pelo mercado.

Previsão para 2022 é ainda mais grave

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Ainda segundo as estimativas do FMI, a dívida bruta brasileira deve piorar em 2022 e chegar a 103,5%, tornando-se a maior dívida entre os países emergentes. Para o economista, se concretizado, esse é um quadro de ruína da economia brasileira.

"Se os políticos ficarem pensando apenas na reeleição e não nas próximas gerações - como são as cabeças de estadistas, que ficam olhando as próximas gerações e não as próximas eleições -, se nós focarmos nas próximas gerações, nós temos que fazer um ajuste fiscal profundo e duradouro, de forma a melhorar a distribuição de renda", afirma.

O economista aponta que o Brasil tem muitas desigualdades nos gastos do setor público e que subsidia muitos ricos, deixando as camadas mais pobres desassistidas. Para ele, o Estado brasileiro deveria ser um ente que diminui a desigualdade de renda, não o contrário.

"Aqui no Brasil as transferências de renda, [com] a forma como o governo gasta, muitas vezes nós concentramos renda. A gente tem que mudar essa forma do Estado brasileiro funcionar, em prol da sociedade, favorecendo o crescimento e automaticamente a sustentabilidade da dívida. Isso está em nossas mãos", afirma.

Cordenonssi também defende que o Brasil privatize ativos nesse processo, ressaltando que o valor desses ativos está se depreciando com o tempo.

"A gente está perdendo tempo em adiar essa privatização e fazer um ajuste duradouro nas contas públicas", conclui.

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