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Entrevistas

Esther Dweck: reindustrialização depende da intervenção do Estado

Para economista, processo exigirá reforma tributária, aumento dos gastos públicos e deverá ter o objetivo de reduzir desigualdades; assista na íntegra

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Por Camila Alvarenga, do Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (11/04), o jornalista Breno Altman entrevistou a economista e professora associada do Instituto de Economia da UFRJ Esther Dweck, que foi secretária do orçamento federal do governo Dilma, sobre a reindustrialização do Brasil. 

Segundo ela, existe uma desindustrialização “natural” que ocorreu em países mais desenvolvidos em que a indústria atingiu um determinado patamar que permitiu ao setor de serviços crescer e superá-la, com tecnologia de ponta, pessoal qualificado e salários altos. 

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“No Brasil, com um PIB relativamente baixo, a desindustrialização não foi fruto de um processo de aumento do setor de serviços de alta qualificação, mas da perda da indústria devido políticas públicas e competição internacional, por exemplo, o que não é um processo positivo. Aliás, é muito grave e gera problemas de garantia de bom desenvolvimento, impedindo principalmente a criação de empregos com bons salários e a distribuição de renda, além de gerar dependência externa”, explicou Dweck.

De forma mais específica, os motivos que levaram à desindustrialização precoce do Brasil foram a rigidez estrutural, a abertura comercial da década de 90, “muito abrupta e sem nenhuma preocupação em como garantir capacidade industrial no Brasil”, e a valorização cambial dos anos 2000.

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Por isso, a professora foi taxativa: “a reindustrialização deve ser a prioridade de um novo governo de esquerda. A indústria é um setor super relevante, muito empregador e que gera muitos encadeamentos, sendo chave para a inovação tecnológica e até para melhorar as condições e salários de empregos no setor de serviços. É central para um país, mas deve haver uma discussão de como e para que ela deve ocorrer”.

Ela defendeu que a industrialização não deve mais ser vista como sinônimo de desenvolvimento, mas como um meio para atingi-lo. O objetivo principal do processo, ela enfatizou, deve ser “levar à redução da desigualdade no Brasil”.

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“Por isso falo do setor de saúde, que é uma demanda enorme da população e precisa da indústria, já que hoje importa equipamentos, fármacos e uma série de outras coisas. O Brasil tem potencial para atender a demanda da população de um serviço de saúde pública de qualidade por meio da industrialização, pode combinar demandas”, exemplificou.

O Estado é quem deve capitanear esse projeto, ela enfatizou, mesmo que crie políticas que estimulem ou atraiam o capital privado. A economista citou algumas das medidas necessárias para que o governo possa financiar a reindustrialização do país.

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“Precisamos combinar a expansão da dívida pública com a realização de uma reforma tributária. A receita tributária de um Estado só arrecada se a economia nacional vai bem, então o aumento da dívida pública precisa entrar como um equalizador. Isto é, precisamos de uma reforma tributária para permitir a recomposição da capacidade do Estado de gastar e financiar setores como o SUS, já que é uma fonte de renda garantida, mas sabendo que ela estará sujeita aos ciclos econômicos. Por isso é preciso desvincular os gastos públicos desses ciclos, essa ideia de que o Estado não pode gastar em momentos de crise ou desaquecimento econômico. A dívida serve de equalizadora justamente nessas horas”, discorreu.

Em paralelo, o Brasil pode e deve apostar em parcerias estratégicas, por exemplo com a China. Dweck ponderou, contudo, que devemos ter cuidado para não repetir os erros do passado, “não podemos achar que é a China que vai nos industrializar”.

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Para ela, uma dependência industrial equivaleria a uma nova forma de colonização, processo que ela identifica na África, por exemplo, ainda que o continente se beneficie de certa forma da parceria com a China. A parceria deve ter uma estratégia, ela reforçou.

Política industrial petista

Dweck analisou também a política industrial petista, com os aprendizados que trouxe e que poderão ser levados para um novo processo de reindustrialização.

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“O PT conseguiu adotar políticas que retomaram indústrias que estavam praticamente mortas, como a naval e a petroleira, mas entre 2013 e 2016 uma série de fatores levou a produção industrial a despencar em termos físicos. O investimento parou de crescer, a economia foi desacelerando, começou a Operação Lava Jato e aí em 2015, com a crise mundial, se formou a tempestade perfeita. A Dilma tentou desvalorizar o câmbio e baixar os juros, mas a indústria já estava extremamente financeirizada e era muito importadora, o que com a desvalorização do câmbio só fez com que os custos subissem”, refletiu.

Outro erro, na opinião da economista, foi pautar a política industrial em ampliação de subsídios, principalmente vindos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que facilitava concessões de crédito para projetos industriais.

“Assim como a Petrobrás, a gente não pode achar que o BNDES tinha que ter sido o responsável pela industrialização do Brasil. Se olha a posteriori e se critica o BNDES ter copiado uma suposta ‘política dos campeões’, como a Coreia do Sul fez, de apoio a empresas estratégicas, mas acho que isso não foi uma política deliberada e se joga muito pesado no BNDES como se esse tivesse sido o problema, sendo que foi uma combinação de fatores”, sublinhou.

De maneira geral, a professora considerou que uma política de estímulos não é positiva, assim como não é a concessão de créditos baixos em períodos de crise, já que baratear custos não gera automaticamente a necessidade de produção, sobretudo não em momentos de desaceleração econômica.

“O BNDES tinha taxas de juros excelentes, mas não tinha demanda da indústria porque não tinha projeto, aí a indústria não demandava créditos. 

Pensando nisso, a economista reforçou que um novo projeto de industrialização deverá ser pensado a partir da realidade brasileira atual, suas demandas e os retrocessos que ocorreram após os governos petistas, como a reforma trabalhista que jogou o ônus em cima dos trabalhadores. Na perspectiva de Dweck, isso implica aplicar uma política combinada, que garanta demanda por projetos, e significa que o país não poderá mais voltar a abrigar todas as cadeias produtivas, já que um processo de reindustrialização é mais complicado uma vez que o país já viveu a desindustrialização: “agora temos que pensar na industrialização em setores estratégicos, como da saúde”.

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