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Dependência sexual. Eles só pensam naquilo

ENTREVISTA – De acordo com o psicanalista Jean-Benoît Dumonteix, podemos esperar que nossa sociedade ultrasexualizada tenha cada vez mais viciados. A dependência sexual atinge de 5 a 10% da população.

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Por Marie-Amélie Lombard – Le Figaro

 

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Psicanalista, Jean-Benoît Dumonteix especializou-se no tratamento da dependência sexual. Com Florence Sandis, jornalista, ele publicou um livro Les Sex addicts. Quand le sexe devient une drogue dure (Os viciados em sexo. Quando o sexo torna-se uma droga pesada), da Editora Hors Collection Témoignages. Vários «viciados» em sexo, anônimos, deram depoimentos. Como Vincent, que diz ter servido como «agenciador» para um político - que não era Dominique Strauss-Kahn, o ex-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) envolvido em escândalo sexual, ele diz – e ser ele próprio um grande consumidor de mulheres. Ou Céline, casada há trinta e seis anos, que conta que frequenta freneticamente clubes de swing, sem que seus amigos  saibam de tal fato. Ou ainda Samir que, a partir de um “clic” na internet, declara satisfazer seus impulsos sexuais embora a sua juventude no Marrocos houvesse lhe ensinado que o sexo era sujo.

Le Figaro - Como definir o vício sexual?

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Jean-Benoît Dumonteix - As pessoas dependentes apelam para a sexualidade para se libertar de suas emoções negativas. Isto pode resultar em duas formas de agir. Virtual, com conexão assídua em sites de encontros, webcams, redes sociais com foco no sexo. Real, com uma frequência compulsiva a clubes de sexo, a prostitutas, a escort-girls, a backrooms. Pacientes podem muito bem não estar interessados pelo virtual, já outros passam facilmente do virtual para o real. Um fenômeno muito presente nas pessoas com 20-30 anos de idade, que foram treinadas para a sexualidade pela internet, é a pornografia “on line”: elas só conhecem isso e dizem que são incapazes de tocar o “outro” fisicamente. Elas precisam se esconder atrás desta tela de proteção e têm medo de tomar uma rasteira na vida real…

Esse vício se torna invasor a ponto de levar a pessoa à uma situação de perigo? Uma das testemunhas do livro afirma que, na política, é uma atitude comum juntamente com o sentimento de impunidade.

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Esta dependência pode realmente se tornar muito perigosa, muito rapidamente. A pessoa diz que seu comportamento é perigoso, que ela sofre com isso, mas que, no entanto, é mais forte que ela e que não pode parar. É uma maneira de aliviar o estresse, especialmente para pessoas que ocupam cargos de responsabilidade, estando totalmente investidas em seu trabalho. O dia em que esse vício, às vezes escondido por anos, for descoberto, poderá ser catastrófico. Ao descobrir uma simples mensagem SMS, o cônjuge descobre que compartilha a vida com alguém que, na verdade, não conhece.

As circunstâncias são para espanto mesmo ou ficaram todos com o rosto encoberto durante anos?

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Isso depende. Alguns parentes podem dizer, mais tarde: «Eu sentia que algo estava errado, mas não sabia o que era. Agora revendo os fatos, nesses anos todos, tudo faz sentido ».

Na sua opinião, muitos viciados conheceram algum tipo de abuso na infância. Com uma conotação realmente sexual?

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Cerca de 80 % dos meus pacientes são homens que na maioria, sofreram um abuso ligado à sexualidade. Isso não chega a ser uma agressão sexual, mas um gesto fora do contexto, um ambiente familiar muito sexualizado. Assim, um paciente relatou sobre pais libertinos, que se entregavam a uma sexualidade desenfreada em casa, mal seus filhos tinham adormecido. Tais comportamentos colocam a criança numa situação de insegurança, e a enfraquecem em relação à sua futura sexualidade.

Que terapia pode ser proposta?

O mais difícil é conseguir romper o ciclo da dependência. Podemos intervir quando o paciente desenvolve ao mesmo tempo uma vergonha e um sofrimento em relação às suas ações. Ele começa a se dizer: «O que estou fazendo?”. Será que isso tudo vale a pena?» Aqui, o abandono da dependência  é possível. Por outro lado, quando ele procura satisfazer seus impulsos, ele não tem mais a consciência do outro, nem mesmo a dele. Ele pode então adotar um comportamento de risco, tal como multiplicar os encontros sem preservativos ou correr o risco de ser reconhecido a qualquer momento.

Você acha que os «sex addicts» representam 5 a 10 % da população? Trata-se de uma percentagem muito elevada. Sobre o que esta estimativa é baseada?

Ela abrange as pessoas que podem se tornar dependentes. Estes números estão baseados em observações feitas em hospitais e em um estudo do Inserm. Podemos esperar que nossa sociedade, ultra sexualizada, tenha cada vez mais viciados. As solicitações estão cada vez mais numerosas. A simples visão de um anúncio com uma mulher nua pode desencadear uma pulsão em uma pessoa vulnerável.

O vício em sexo, você salienta, pode ser muitas vezes atendido imediatamente. Não há necessidade de droga e nem de dinheiro para obter o seu «shoot»…

Na verdade, a qualquer momento, podemos nos isolar, ter um consumo rápido. De fato, seu próprio corpo está sempre disponível. Estas pessoas não sabem onde colocar o cursor da sua saúde sexual, não sabe parar numa situação de saciedade e desenvolvem um comportamente compulsivo. Mas, não é preciso misturar as coisas, os viciados não são pervertidos.

 

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