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"Grêmio vive a pior crise de sua história"

Quem diz é o advogado Gladimir Chiele, que atribui a má situação financeira do clube à parceria com a OAS para a construção da Arena Grêmio

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Nícolas Pasinato, do Sul 21

“A história deverá cobrar as ações que os gremistas de hoje praticarem”. A frase encerrava a análise do advogado Gladimir Chiele, realizada em 2009, sobre a parceria entre Grêmio e OAS. O estudo foi feito a pedido do ex-presidente Hélio Dourado, líder do Movimento Grêmio Acima de Tudo, e apontava as cláusulas do acordo que prejudicariam o clube e as suas finanças. Mesmo apresentada aos dirigentes do clube e ao público na época, através da mídia, a documentação não surtiu o efeito desejado. A discussão sobre os possíveis danos não ganhou força e o negócio foi levado adiante.

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Em entrevista ao Sul21, Chiele avalia a atual situação do Grêmio a partir de seu novo estádio, a qual considera a mais grave dos seus 110 anos. Ele se diz surpreso com a velocidade com que os problemas previstos começam a se materializar, mas não com o que está acontecendo. O advogado ainda afirma que os gremistas devem desculpas a Hélio Dourado, principal voz contrária a negociação com a construtora. Além disso, acredita que o atual presidente Fábio Koff é “a única pessoa do universo gremista” capaz de tirar o clube da situação que, segundo ele, só tende a piorar.

Sul21 – Do que tratou a reunião do Movimento Grêmio Acima de Tudo  junto com o presidente Fábio Koff realizada na última segunda-feira (18)?
Gladimir Chiele - O que nós fizemos, junto com o Movimento Grêmio Acima de Tudo e com o patrono Hélio Dourado, que sempre manteve uma posição muito crítica em relação ao negócio da Arena, foi visitar o presidente Koff, que precisa nesse momento de toda a colaboração possível, todas as sugestões e palpites, para poder formar um juízo de valor acerca de todo esse problema que está sendo causado pelo negócio da Arena.  Queremos ajudar o presidente na busca de uma solução para o problema, que seguramente é o mais grave da história do Grêmio, dos 110 anos de existência do clube.

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Algumas questões foram tratadas. Levamos algumas propostas para a direção do Grêmio, que hoje está com esse assunto como máxima prioridade. A direção deverá nos próximos dias, com dados técnicos na mão, adotar uma estratégia de atuação. (A situação envolvendo o contrato da Arena) coloca o Grêmio em uma situação delicadíssima. Não só em termos financeiros, mas em termos patrimoniais e operacionais.

Sobretudo, nós temos que falar de uma coisa importantíssima que é a manutenção da soberania e independência do Grêmio. Da forma como está posto (o contrato), nós perdemos a autonomia e a alma tricolor, a relação do time com a sua torcida, que nós não podemos perder jamais. Se acontecer isso, o Grêmio se torna um clube empresa, um clube sem alma.Quais os principais problemas no contrato com a OAS, na sua análise? 
Gladimir Chiele - Os maiores problemas estão em duas cláusulas intransponíveis. A primeira trata da situação dos 65% do lucro líquido ajustado que viria pro Grêmio, que na verdade é uma falácia, porque o lucro líquido ajustado pode dar zero. Equivocadamente, a gente está ouvindo falar que o Grêmio ficará com 65% de tudo o que a Arena arrecadar, o que não é verdade. Os 65% de tudo que a Arena arrecadar seria em cima do bruto, para que houvesse um controle absoluto dentro de uma negociação. Mas o valor (previsto em contrato) é em cima do lucro líquido ajustado – ou seja, o lucro depois de todas as despesas operacionais extraídas. Sobre esse valor deduz-se a amortização do financiamento, os juros do financiamento, a depreciação e a necessidade de capital de giro da empresa Arena Porto-Alegrense. Então esses valores podem chegar a zero ou quase zero.

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No 11° ano talvez nós tenhamos um valor a ser distribuído dentro dos 65%, porque o financiamento é quitado. No 11° ano já não tem mais o valor do financiamento a ser pago anualmente. Então esse valor em tese voltaria para a distribuição interna. Mas essa é uma cláusula intransponível porque nós não aguentaríamos até o 11° ano.

A outra cláusula intransponível é o pagamento da entrada dos sócios. É uma cláusula expressa no contrato que determina que nenhum torcedor possa entrar na Arena sem pagar. O quadro social acaba assumindo a responsabilidade pela manutenção da isenção de cada sócio e tem que repassar para a Arena o valor correspondente. Então na verdade nós vamos ter um desembolso significativo para poder viabilizar o ingresso dos associados no estádio. Esse é o maior problema do contrato. Nós não temos alternativa em relação a isso.

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Sem levar em conta uma outra cláusula contratual que também tem sua gravidade: a de que não haverá para o clube mais nenhum resultado financeiro da operação da Arena. Sem bilheteria, sem qualquer outra agregação de valores, o fluxo de caixa do Grêmio será significativamente prejudicado, colocando em risco as finanças do clube.

Surpreende o senhor esses possíveis prejuízos ao clube começarem a vir a tona tão rapidamente, com apenas dois meses de contrato?
Gladimir Chiele - Surpreende só pela velocidade, porque tudo o que está acontecendo nós escrevemos em 2009 e distribuímos para todo mundo, inclusive para o presidente da época e para o então presidente da Grêmio Empreendimentos (Adalberto Preis), que está hoje na Comissão que está tratando do assunto pelo Grêmio. Distribuímos também para a imprensa, quando não conseguimos mais obter nenhum eco interno dos associados e da direção. Tudo aquilo está se materializando em uma velocidade fantástica. Nós esperávamos que isso fosse acontecer ao longo do tempo. Em dois meses já se percebeu que a situação é critica em relação a execução do contrato.

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Qual a repercussão em 2009, quando foi apresentado ao público uma análise crítica do contrato?
Gladimir Chiele - A repercussão foi absolutamente negativa, porque se dizia que era um negócio da China, que nós éramos os profetas do apocalipse, anti-gremistas e que não queríamos ver um prédio maravilhoso de primeiro mundo, quando na verdade não era isso. Em nenhum momento fomos contra a construção da Arena, mas sim ao negócio entabulado. É a mesma coisa que ir na loja comprar a Mercedes mais cara e comprometer a 20ª geração futura da nossa família. De nada adianta ter a Mercedes do ano se eu não vou conseguir dinheiro para comer no dia seguinte. É mais ou menos essa relação. Nós temos o estádio que se diz o melhor do país, mas o fato é que nós não vamos ter recursos financeiros para manter o time e o pagamento em dia, porque as fontes de receitas secaram. E além das fontes de receitas com o estádio secarem, o Grêmio tem que desembolsar R$ 41 milhões por ano para poder usar o seu estádio.

O presidente Koff vai então ao público dizer que a Arena não é nossa. E o deputado Paulo Odone rebateu dizendo que a Arena é nossa. Como é que a Arena pode ser nossa se nós temos que pagar R$ 41 milhões de aluguel por uma pequena parte do estádio? Se nós temos que pagar aluguel o estádio não é nosso. Seria bom que ele (Odone) explicasse isso.Como você avalia as posições do ex-presidente do Grêmio Paulo Odone sobre o assunto? Até então ele disse que a imagem da Arena está sendo prejudicada e fez comparações com o caso Ford, dizendo que o estádio só não foi para a Bahia porque está cravado no chão.
Gladimir Chiele - Eu diria que são colocações surrealistas. Extrapolam o plano terreno. Por que ele não entrou detalhadamente naquilo que está sendo objeto de discussão? Falar da Ford de 20 anos atrás? Ele está preocupado com a imagem da Arena, que é uma empresa da OAS, e não com a vida e a imagem do Grêmio. A prioridade número um nisso tudo é o Grêmio, que tem 110 anos e 10 milhões de torcedores, e não a imagem de uma empresa privada. E se fosse possível arrancar a Arena e mandar para Bahia, talvez até se fizesse. Porque pelo menos poderíamos retomar a situação anterior de tranquilidade que o Grêmio tinha.

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Qual seria, na sua visão, a melhorar saída para o Grêmio lidar com essa situação?
Gladimir Chiele - O desafio do presidente Koff é esse. Nós apresentamos, na reunião que tivemos com ele, algumas sugestões que podem ser viabilizadas. Mas é uma situação tão dramática que nenhuma saída será tranquila. O Grêmio, através do presidente Koff, tem que montar uma estratégia de ação. E ele está justamente juntando documentos e informações para a partir disso formar uma convicção. Hoje nós estamos nas mãos de um presidente que talvez seja a única pessoa do universo gremista que pode encontrar essa saída, porque todos os demais não teriam essa condição histórica que o presidente tem.

Outra coisa importante que devemos salientar é que todos nós devemos pedir desculpas ao dr. Hélio Dourado, porque ele foi um critico desde o inicio desta negociação. Embora ele tenha uma motivação adicional pelo fato de ter feito o Olímpico, agiu em defesa exclusiva do interesse do Grêmio. Foi ridicularizado, criticado e humilhado. Hoje nós estamos vendo que o Hélio Dourado estava certo desde o início.

Há a possibilidade da compra do estádio? Essa é uma saída que está sendo estudada?
Gladimir Chiele - O contrato oferece algumas possibilidades, mas elas são limitadas. O Grêmio vai ter que trabalhar em cima das previsões contratuais daquilo que pode ser feito. Então não tem muita mágica. O Grêmio é imortal, mas ele é imortal porque sempre teve nos seus dirigentes atitudes responsáveis. E desta vez mais do que nunca os dirigentes vão ter que trabalhar no sentido de evitar que um mal maior aconteça em relação a projeção futura da vida do Grêmio.

O contrato tem alternativas e elas têm suas consequências. Essas consequências vão ser trabalhadas e estudadas seja junto com os movimentos, seja com a comissão que está trabalhando nisso. Há também consultorias que estão atuando para ajudar. Tem uma série de pessoas, empresas e entidades que estão ajudando a encontrar alternativas, que vão ter que aparecer a curto prazo.

 

A comparação que começa a surgir com o caso ISL (empresa parceira do Grêmio que declarou falência em 2001 e prejudicou o clube) é um exagero ou pode ser feita com a situação atual do Grêmio?
Gladimir Chiele - Se nós fizermos uma comparação em termos de gravidade do problema, vamos ver que a ISL é um “cafezinho” perto disso. A ISL foi uma questão pontual, embora tenha dado um problema sério financeiramente na época. O que nós estamos tratando hoje é de todo o patrimônio do Grêmio. É da história do Grêmio e da sobrevivência do clube. A situação é inigualavelmente mais grave.

É por isso que as forças vivas do Grêmio têm que trabalhar em uma estratégia para encontrar essa solução a curto prazo. Com o caso ISL e outros casos que aconteceram, nunca se colocou em risco a sobrevivência financeira do Grêmio e posse patrimonial. Hoje isso está sendo envolvido. O presidente Koff vai ter que tomar decisões históricas. Decisões que vão ser divisores de água entre a sobrevivência do clube ou não. A responsabilidade que paira sobre as costas do presidente tem o tamanho de 10 milhões de pessoas.

 

Essa alternativa tem que ser tomada antes do dia 30? Está confirmada a troca de chaves dos estádios para essa data?
Gladimir Chiele - Existe na cláusula contratual a troca de chaves, quando a construção da Arena estiver concluída. Pelos noticiários a Arena não está concluída e precisa de mais um tempo para ser finalizada. Somente poderia haver essa troca na medida em que o estádio estivesse em condições plenas de ser entregue. E quando for entregue o Grêmio tem que analisar e fazer um levantamento técnico para receber a obra e atestar que a recebeu em condições, conforme está no contrato. Até que isso aconteça, não se pode fazer a troca de chaves. Isso pode levar mais um tempo.

A cláusula que determina que o Grêmio possa indicar somente dois dos cinco membros do Conselho de Administração da Arena pode ser alterada? 
Gladimir Chiele - A Arena Porto Alegrense não vai abrir mão do controle do comando da empresa que faz a gestão do estádio. Tudo aquilo que a OAS desejar na gestão da Arena a Arena Porto-Alegrense vai executar, no interesse da construtora  e não no interesse do Grêmio. O Grêmio sempre vai ter minoria. E ai se diz que o Grêmio tem poder de veto, mas tem poder de veto em situações excepcionais, como venda do direito de superfície, caso de falência, entre outras coisas. São questões que não tratam do dia a dia da gestão da Arena. Então o poder de veto é inócuo nesse sentido. Quem vai administrar mesmo a Arena é a OAS, através dos seus três diretores.

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